Por que o Brasil preferiu se preparar para o pior ao invés de tentar um diálogo com Trump? Decisão estratégica ou erro histórico? Será que o impacto Será tão devastador quanto parece?
Vamos juntos tentar entender a estratégia por trás dessa decisão, efeitos e quais caminhos o Brasil pode seguir para se proteger.
Apenas para contextualizar, o governo federal recentemente trabalhou em um plano de medidas para minimizar as consequências negativas sobre a nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a diversos produtos importados do Brasil, que entrou em vigor no último dia 6 de agosto. Os esforços visam para apoiar pequenas e médias empresas, dar fôlego aos setores afetados pelo tarifaço e proteger a economia e os empregos.
Mas afinal, quais são os rumos da economia brasileira daqui pra frente?
A primeira coisa que é importante observar é que no meio desta guerra comercial entre o Brasil e os EUA, há amplas isenções e laços comerciais mais fortes com a China.
Diferentemente de países como México e Canadá, que vendem cerca de 3/4 de suas exportações para os Estados Unidos, os americanos compram apenas 12% das exportações brasileiras.
Então, por si só, esses números já dão ao presidente Lula mais espaço para se manter firme contra Trump do que a maioria dos líderes ocidentais, tanto que o presidente não poupou palavras, depois de chamá-lo de “imperador” global indesejado e comparar suas ameaças tarifárias à chantagem. Lula disse ainda que está aberto a negociar um acordo comercial, mas rejeitou as queixas de Trump sobre o julgamento do aliado de direita Jair Bolsonaro como uma ameaça à soberania brasileira e à independência judicial.
Relação com a China
Outro ponto que é preciso observar ainda é que as exportações do Brasil para a China dobraram de valor na última década, respondendo agora por 28% dos embarques totais do país. Segundo a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Mapa (SCRI), entre julho de 2023 e julho de 2024, a China foi o principal destino das exportações brasileiras do agronegócio, totalizando US$ 57,94 bilhões.
Estratégia de Trump
A decisão do governo Trump não é apenas comercial, mas reflete também em posição estratégica. A decisão transparece a tentativa dos EUA de manter a hegemonia do dólar frente ao avanço de acordos internacionais que buscam diversificar moedas nas trocas comerciais. Em outras palavras, ele pode estar se sentindo pressionado, principalmente por conta da aliança formada pelos países do BRICS – um bloco que incomoda o presidente americano, especialmente por ser composto por países que são anti Estados-Unidos em sua visão .
Os principais países que compõem o BRICS são Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de novos membros como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.
Em resumo, outras nações têm explorado alternativas ao dólar, e esse movimento é visto como uma ameaça direta à influência norte-americana no comércio global. Ao reagir com tarifas pesadas, os EUA tentam proteger sua liderança, mas também arriscam isolar-se em um cenário cada vez mais multipolar.
O que acontecerá nesse tabuleiro geopolítico é difícil prever. No entanto, para investidores, é importante seguir monitorando e aplicando estratégias de proteção às carteiras de investimentos, que é a única coisa que podemos controlar de fato.
Apesar da tensão política, o impacto econômico direto pode ser menos severo do que se imagina. Cerca de 700 produtos foram excluídos da nova alíquota, reduzindo a abrangência da medida. Segundo o Ministério da Fazenda, a tarifa afeta aproximadamente 36% dos itens exportados aos EUA, o que equivale a apenas 4% do total das exportações brasileiras. Estimativas oficiais indicam que até metade dessa fatia poderá ser redirecionada a outros mercados, o que ajuda a amortecer os efeitos imediatos sobre a balança comercial.
Alguns economistas avaliam que as tarifas impostas por Trump ao Brasil são mais uma ameaça política do que um impacto econômico real, motivadas, em parte, pela situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado por tentativa de golpe.
Já para analistas do mercado financeiro, o episódio expõe uma fragilidade: o Brasil ainda carece de uma política robusta de comércio exterior — e, diante do cenário atual, essa necessidade se torna mais urgente do que nunca.
Principais preocupações e o que esperar agora?
Estima-se que a implementação das tarifas entre EUA e Brasil possa causar uma queda de até 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB). O aumento das tarifas sobre commodities tende a agravar um cenário de recessão, exercendo ainda mais pressão sobre a indústria e as exportações nacionais. Vale destacar que, com a divulgação da lista que exclui diversos produtos brasileiros da tarifa de 50%, essas projeções poderão ser alteradas.
Impactos econômicos e os setores mais afetados
- Petróleo e derivados: 7,5 bilhões de dólares exportados (18,3% do total vendido aos EUA);
- Ferro e aço: 5,3 bilhões de dólares (13,2%);
- Aeronaves e equipamentos: 2,7 bilhões de dólares (6,7%).
Para o setor de suco de laranja, as estimativas de aumento de custos podem ser significativamente mitigadas, uma vez que o suco de laranja foi incluído na lista de exceções da tarifa de 50%. Existia uma perspectiva de aumento de custos de cerca de 68 milhões de dólares nos próximos 12 meses, apenas para o suco de laranja não concentrado.
O setor de carne bovina, por sua vez, continua em situação de risco, pois produtos como carnes não estão entre as exceções e serão diretamente afetados pela nova tarifa, podendo gerar perdas de US$1,3 bilhão em 2025, conforme estimativa da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
A entidade destaca que as exportações de carne bovina e seus subprodutos já vinham em trajetória de crescimento, com alta de 27,93% em receita no primeiro semestre de 2025, alcançando US$7,446 bilhões.
Nesse cenário, os Estados Unidos se consolidaram como o segundo maior destino desses produtos, com vendas de US$1,287 bilhão de dólares no período, um aumento de 99,8% em relação a 2024.
Além do impacto financeiro direto, a natureza dos produtos exportados tende a agravar o cenário. Os Estados Unidos importam, majoritariamente, bens industrializados do Brasil, que possuem maior valor agregado. Dessa forma, as tarifas de Trump ameaçam diretamente a geração de empregos qualificados no país.
Para Jorge Arbache, ex-secretário de Assuntos Internacionais no Ministério do Planejamento, as implicações são “potencialmente devastadoras”, incluindo:
- Saída de empresas brasileiras para os EUA;
- Redução da atratividade do país para investimentos diretos estrangeiros;
- Obstáculos ao aproveitamento do capital natural como motor de desenvolvimento;
- Perda de protagonismo na agenda climática;
- Aumento dos custos de produção e retração nas exportações;
- Dificuldades nos sistemas de pagamento;
- E restrições ao acesso a tecnologias estratégicas.
Estratégias para mitigar riscos e manter a competitividade
Para muitos especialistas, uma das ações prioritárias para reduzir vulnerabilidades é diversificar mercados para além dos destinos tradicionais. Embora a China permaneça como o principal destino das exportações brasileiras, torna-se estratégico ampliar o alcance comercial para novos parceiros. Países como Chile, México e Rússia, que registraram crescimento expressivo em 2025, despontam como alternativas promissoras.
De acordo com análises setoriais, como a da Abrafrigo, o caminho envolve investir na abertura de novos mercados e simplificar os processos de exportação, reduzindo entraves burocráticos.
No entanto, será inevitável reconfigurar as cadeias produtivas globais, exigindo que empresas se ajustem rapidamente à nova realidade. Negociações comerciais, custos de importação e possíveis tarifas retaliatórias reforçam a necessidade de estratégias flexíveis. Nesse contexto, monitorar continuamente as negociações diplomáticas e adaptar-se com agilidade será essencial para mitigar impactos e sustentar a competitividade no longo prazo.
Reconfiguração global
O chamado “Tarifaço” do presidente Donald Trump não deve ser visto como um evento isolado, mas como o início de uma potencial reconfiguração das relações comerciais internacionais. As respostas diplomáticas, as reações do mercado e os ajustes setoriais representam apenas os primeiros capítulos de uma narrativa que ainda está em construção.
Para empresas e analistas, a capacidade de adaptação será o principal ativo para navegar em um cenário de mudanças constantes e incertezas crescentes.