A recente viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até a China tem gerado grande expectativa na política brasileira e internacional.
No entanto, alguns especialistas apontam que essa iniciativa pode afetar negativamente a relação do Brasil com os Estados Unidos.
Desde a posse do atual presidente americano, Joe Biden, o governo dos EUA se mostra preocupado com a preservação da democracia e dos direitos humanos em todo o mundo, e a visita de Lula ao país asiático pode ser vista como um sinal de apoio a um regime que não se alinha com os valores americanos.
Além disso, os EUA são um importante parceiro comercial do Brasil, e podem interpretar a aproximação com a China como uma escolha estratégica equivocada.
Com isso em mente, é importante avaliar os possíveis impactos dessa viagem na relação entre os dois países e como o governo brasileiro poderá lidar com essa delicada situação.
Na última sexta-feira, dia 14 de abril, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, afirmou que a proximidade do governo brasileiro com a China não atrapalha a relação com os Estados Unidos.
Para Padilha, a política externa brasileira sempre apostou na constante busca por maiores e mais importantes acordos comerciais com as mais diversas nações.
Para Daniel Toledo, advogado que atua na área do Direito Internacional, fundador da Toledo Advogados e Associados e sócio do LeeToledo PLLC, o movimento do presidente Lula é equivocado.
“Embora ele esteja aproximando o Brasil de países como China e Rússia, essa atitude nos afasta de grandes parceiros, como Estados Unidos e diversos países da Europa. Isso porque os governos dessas nações se utilizam de práticas que são mal vistas por boa parte do mundo. A Rússia, por exemplo, segue há mais de um ano com uma guerra na busca pela conquista do território ucraniano. Não acredito que, no momento, isso irá trazer benefícios para o Brasil”, lamenta.
De acordo com o especialista em Direito Internacional, é preciso que o Brasil deixe de pensar pequeno.
“Ser o celeiro do mundo já não é o bastante. Passou da hora do nosso país se tornar um grande exportador de tecnologia. Nós possuímos matéria prima e precisamos começar a desenvolver inteligência para a criação desse tipo de produto e conteúdo. Viver do agronegócio já não é mais o suficiente para a população brasileira e precisamos nos equalizar a outras grandes potências mundiais em algum momento”, declara.
Toledo acredita que as práticas adotadas pela China são questionáveis e podem atingir o Brasil com essa aproximação.
“O país é famoso por suas práticas predatórias. Com uma população de mais de 1 bilhão de pessoas, eles se veem obrigados a buscar alimentos em diversos lugares do mundo. Existem relatos de dezenas de navios pesqueiros chineses aparecendo em países como Chile, Argentina, Brasil e, até mesmo, nas protegidas Ilhas Galápagos. Quando são pegos, eles apenas retornam como se nada tivesse acontecido”, diz Toledo.
“Tudo isso sem mencionar as centenas de denúncias relacionadas ao trabalho escravo do próprio povo chines, supostamente proporcionado pelo governo local, para baratear a confecção de produtos e itens eletrônicos. Se aliar a esse tipo de regime só irá manchar a imagem do nosso país perante ao resto do mundo”, relata.
O advogado aponta, ainda, que a China possui os maiores indicadores de poluição em todo o planeta:
“Satélites da NASA apontam que o país asiático foi responsável pela emissão de 32% do gás carbônico que atingiu a atmosfera terrestre. O segundo colocado, que são os Estados Unidos, emitiu menos da metade disso. E esses dados não podem ser questionados pelo tamanho da população do país, tendo em vista que a Índia possui números parecidos e, mesmo assim, está atrás dos EUA”, aponta.
Para o sócio do LeeToledo PLLC, o Brasil não precisa de tanta proximidade com a China para estreitar as relações comerciais.
“Independentemente de parcerias, eles vão comprar os nossos produtos porque precisam deles para sobreviver. É um país enorme, repleto de pessoas e com pouca matéria prima local para atender a demanda necessária. Sempre apresentamos preços interessantes para exportar grãos e alimentos para a China, e isso seguiria acontecendo com ou sem essa aproximação”, pontua.
De acordo com Toledo, existe um grande risco do Brasil sair economicamente prejudicado com essa movimentação.
“Se essa relação for cada vez mais recíproca, poderemos, em alguns anos, ver nossa economia se baseando na moeda chinesa e deixando o dólar de lado. Isso poderá trazer impactos inimagináveis, como o distanciamento dos EUA e da União Europeia, além de prejudicar a própria população com a dificuldade de compra em produtos provenientes dessas nações. Seria, sem dúvidas, um caminho com poucas chances de recuperação”, finaliza.
Sobre Daniel Toledo
Daniel Toledo é advogado da Toledo e Advogados Associados especializado em Direito Internacional, consultor de negócios internacionais, palestrante e sócio da LeeToledo PLLC. Toledo também possui um canal no YouTube com mais 178 mil seguidores com dicas para quem deseja morar, trabalhar ou empreender internacionalmente.
Ele também é membro efetivo da Comissão de Relações Internacionais da OAB Santos, professor honorário da Universidade Oxford – Reino Unido, consultor em protocolos diplomáticos do Instituto Americano de Diplomacia e Direitos Humanos USIDHR e professor da PUC Minas Gerais do primeiro curso de pós graduação em Direito Internacional, com foco em Imigração para os Estados Unidos