As tarifas generalizadas impostas pelo governo Trump estão provocando efeitos contrários ao esperado, segundo análises de mercado e dados oficiais. O aumento de 50% nos impostos de importação sobre produtos-chave como café brasileiro, chá e frutos do mar indianos está redirecionando fluxos de exportação para a China e a Europa, ao mesmo tempo em que pressiona fabricantes e consumidores nos Estados Unidos com custos crescentes.
Brasil busca refúgio na China
Com as tarifas, o Brasil — maior exportador mundial de café — registrou mais de 180 empresas habilitadas para enviar seus produtos ao mercado chinês, que vive um boom no consumo de cafés especiais. A mudança de rota ameaça reduzir a oferta no mercado americano e já gera reflexos visíveis em cafeterias e distribuidores nos EUA.
Índia diversifica exportações
Exportadores indianos de chá e frutos do mar, também atingidos por tarifas de 50% e sobretaxas ligadas ao comércio de energia com Moscou, estão realocando parte de sua produção para China e União Europeia. O movimento fortalece a integração da Ásia com os novos polos de consumo, mas acirra a competição com produtores africanos.
Impactos nos EUA
- O índice ISM Manufacturing PMI caiu para 48,7 em agosto, marcando o sexto mês consecutivo de retração no setor industrial americano.
- Executivos dos setores de alimentos, eletrônicos e máquinas relatam aumento de custos, demissões e adiamento de projetos de relocalização industrial.
- Cafeterias em cidades como Nova York reportam alta de até 14,5% nos preços ao consumidor final, sinalizando que os efeitos já chegaram ao bolso da população.
O cenário aponta para um efeito boomerangue da política tarifária: em vez de fortalecer a economia americana, os impostos impulsionam novos fluxos comerciais entre Brasil, Índia, China e Europa, enquanto os EUA enfrentam inflação de produtos básicos, perda de competitividade e retração manufatureira.
Exportações brasileiras mostram recuperação apesar das tarifas comerciais americanas
As exportações brasileiras demonstraram sinais de recuperação em agosto, apesar das tarifas impostas pelos Estados Unidos. De acordo com a economista-chefe Mônica Araújo, que analisou os dados divulgados na última sexta-feira(5) pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), o país exportou US$ 29,8 bilhões no período, frente a importações de US$ 23,7 bilhões, resultando em um superávit de US$ 6,1 bilhões. O desempenho superou levemente as expectativas, embora tenha ficado abaixo do saldo registrado em julho.

Os números revelam que tanto o setor agropecuário quanto a indústria extrativa registraram crescimento nas exportações em relação ao mesmo mês do ano anterior, compensando a retração da indústria de transformação.
A abertura dos dados mostra, entretanto, uma queda de 18,5% nas vendas para os EUA, reflexo direto da nova política comercial americana. No acumulado do ano até agosto, contudo, o fluxo de exportações para o mercado norte-americano permaneceu praticamente estável, o que sugere uma antecipação de compras antes da entrada em vigor das tarifas.
Entre os destinos que mais absorveram produtos brasileiros no período estão a Argentina (+40%) e a região de China, Hong Kong e Macau (+30%). Para Araújo, a tendência indica que o Brasil vem conseguindo redirecionar parte das exportações destinadas aos EUA para outros mercados, em especial commodities.
Segundo ela, a combinação de super safra agrícola, maior produção doméstica de petróleo e retomada das exportações da pecuária reforça a perspectiva de que o país deve manter um nível de crescimento nas vendas externas ao longo do segundo semestre.