Quando falamos em como lidar com a síndrome da impostora, é comum pensar que somente o acompanhamento psicológico e a psicanálise podem ajudar, mas como mencionado por Shenia, esses questionamentos que fazem tantas mulheres duvidarem de si mesmas estão enraizados em outras questões.
A exemplo disso, podemos pensar como as mulheres foram socialmente construídas e as marcas históricas do machismo e sexismo em suas vivências e os impactos destes atravessamento nos novos espaços que ocupamos, tal como o próprio mercado de trabalho.
A síndrome da impostora é uma condição psicológica de carácter multifactorial, em que a mulher é incapaz de introjetar de forma positiva suas capacidades e habilidades, e, em consequência disso, sente-se não merecedora de seu sucesso ou realizações e tem medo de ser exposta como uma fraude.
Embora a síndrome da impostora possa afetar qualquer pessoa, independentemente de gênero, raça ou etnia, a síndrome da impostora da mulher negra é um fenômeno específico que se refere às experiências únicas que muitas mulheres negras enfrentam em relação a suas realizações profissionais e acadêmicas.
O conjunto de características que a síndrome reúne dilui-se às condições sociais construídas pelo racismo estrutural submetendo mulheres negras à experiências de interdição, deslegitimização, exclusão e submissão.
Para Shenia Karlsson – Psicóloga Clínica, especialista em diversidade e escritora, “A mulher negra carrega marcas traumáticas e ancestrais, precisamos provar o tempo todo que somos capazes. As oportunidades para a mulher negra é completamente diferente das que surgem para outras mulheres.
E com isso a síndrome da impostora está cada vez mais aflorada em nós”, diz.
As mulheres negras muitas vezes enfrentam desafios adicionais em suas carreiras, incluindo discriminação racial e de gênero, falta de representação e oportunidades limitadas de progressão na carreira.
Isso pode levar a sentimentos de inadequação, mesmo quando essas mulheres alcançam o sucesso. Elas são frequentemente questionadas em suas capacidades, não são vistas como inteligentes ou mais qualificadas do que realmente são e que em algum momento serão expostas ao escrutínio público.
É importante reconhecer que a síndrome da impostora é real e pode ter um impacto significativo na vida das mulheres negras.
Profissionais de saúde mental devem considerar para além da questão de género, a questão racial. Já os empregadores devem estar cientes da responsabilidade em criar ambientes minimamente seguros e realmente inclusivos que promovam a autoestima e o sucesso das mulheres negras de forma real.
Isso pode incluir o fornecimento de mentoria e treinamento, a promoção da diversidade e inclusão no local de trabalho através de letramento racial e o fornecimentos de recursos para ajudar as mulheres negras a superar ou amenizar os efeitos da síndrome da impostora.
Sobre a Especialista:
Shenia Karlsson: Psicóloga Clínica, Especialista em Diversidade, escritora, colunista do Mundo Negro, Revista Gerador e Revista Raça.