Idealizada pelo jornalista Cásper Líbero após assistir a uma corrida noturna em Paris, a Corrida Internacional de São Silvestre nasceu em 31 de dezembro de 1925, em São Paulo. Inspirado pelo espetáculo de atletas correndo à noite com tochas, Líbero decidiu criar uma prova semelhante no Brasil, marcada para o último dia do ano. O nome foi escolhido em homenagem a São Silvestre, santo celebrado na data.
A primeira edição contou com 60 inscritos, mas apenas 48 corredores largaram às 23h40 do Parque Trianon, na Avenida Paulista. O percurso tinha 8,8 quilômetros e o vencedor foi Alfredo Gomes, atleta negro que já havia representado o Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924. Ele foi o primeiro atleta negro a competir pelo país em uma Olimpíada.
Desde então, a São Silvestre se consolidou como a corrida de rua mais tradicional do Brasil. Ao longo de sua história, deixou de ser realizada apenas uma vez, em 2020, em razão da pandemia de covid-19. Embora tenha completado 100 anos em 2024, é em 2025 que a prova realiza oficialmente sua centésima edição, com recorde superior a 50 mil participantes inscritos.
De prova nacional a evento internacional
Nas primeiras décadas, a competição era restrita a atletas brasileiros. A partir de 1927, estrangeiros residentes no país passaram a participar. O italiano Heitor Blasi, radicado em São Paulo, venceu as edições de 1927 e 1929, tornando-se o único estrangeiro campeão durante a chamada fase nacional, que durou até 1944.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a São Silvestre passou a receber atletas estrangeiros da América do Sul e, dois anos depois, tornou-se definitivamente internacional. Esse período marcou um longo jejum de vitórias brasileiras, encerrado apenas em 1980, com o triunfo do pernambucano José João da Silva. As mulheres passaram a competir em 1975, em prova vencida pela alemã Christa Valensieck.
Ídolos, emoção e superação
A vitória de José João da Silva em 1980 entrou para a história como um momento de forte comoção popular. O atleta, que trabalhou desde criança nas roças de Pernambuco, relatou que a conquista teve impacto semelhante ao de uma Copa do Mundo, mudando completamente sua vida e o colocando como herói nacional.
Outros brasileiros também se tornaram símbolos da prova. Marílson Gomes dos Santos é o maior vencedor nacional na fase internacional, com três títulos (2003, 2005 e 2010). No feminino, Maria Zeferina Baldaia marcou época ao vencer a corrida em 2001. Ex-boia-fria, ela começou a correr ainda criança, muitas vezes descalça, e encontrou na São Silvestre a inspiração para transformar sua trajetória pessoal e esportiva.
A portuguesa Rosa Mota é a maior vencedora da história da competição, com seis títulos consecutivos nos anos 1980. Entre os homens, o recordista é o queniano Paul Tergat, com cinco vitórias.
Prova democrática
Atualmente, a São Silvestre é aberta a atletas profissionais e amadores, com largadas organizadas em ondas para garantir segurança e fluidez. Há categorias específicas para atletas de elite, mulheres, homens, cadeirantes, pessoas com deficiência e corredores amadores. A programação inclui ainda a São Silvestrinha, voltada a crianças e adolescentes, realizada em data diferente no Centro Olímpico do Ibirapuera.
A diversidade de perfis e objetivos faz da São Silvestre uma das competições esportivas mais democráticas do país. Para muitos, a prova representa mais do que uma disputa por tempo ou colocação: é a chance de celebrar o fim do ano, superar limites pessoais e ocupar o espaço público de forma coletiva.
Ao completar sua centésima edição, a São Silvestre reafirma seu papel como patrimônio esportivo e cultural do Brasil, reunindo gerações, histórias de superação e a tradição de encerrar o ano correndo pelas ruas de São Paulo.
Com informação agência Brasil.






















