As Conferências das Partes da ONU (COPs) consolidaram-se como espaços em que a transição climática é tratada não apenas como um desafio ambiental, mas também como uma agenda econômica e de desenvolvimento. Na COP30, realizada em Belém, esse movimento se intensificou com a inclusão do setor de seguros no centro dos debates sobre adaptação, resiliência e inclusão social.
Crescimento das perdas financeiras e fragilidade da proteção
Projeções internacionais indicam que as perdas globais provocadas por desastres naturais podem ultrapassar US$ 500 bilhões por ano até 2050, caso não haja ações coordenadas de mitigação e adaptação. No Brasil, eventos como enchentes, estiagens prolongadas e tempestades severas já pressionam cadeias produtivas, infraestrutura e Pequenos negócios, revelando fragilidades históricas na proteção securitária.
Especialistas apontam que o país enfrenta um déficit de proteção estimado em cerca de 80%. Isso significa que a maior parte de bens, pessoas e atividades econômicas não possui qualquer tipo de cobertura. Em situações de crise, essa diferença se torna evidente, ampliando desigualdades e dificultando a recuperação econômica de populações mais vulneráveis.
Seguro como instrumento de justiça social e resiliência
Durante a COP30, diferentes iniciativas destacaram o papel estratégico do seguro na adaptação climática. Foram apresentados modelos que integram seguros, resseguros e garantias compartilhadas com o poder público, já adotados em outros países, como alternativa para proteger escolas, hospitais, obras de infraestrutura e serviços essenciais.
A discussão reforçou que a proteção securitária vai além da indenização financeira, atuando como mecanismo de justiça social ao reduzir a vulnerabilidade econômica de famílias, trabalhadores informais e pequenos empreendedores diante de eventos extremos.
Desafios no campo e no agronegócio
No setor rural, o cenário é igualmente desafiador. Estimativas indicam que cerca de 70% das perdas climáticas no Brasil afetam o agronegócio, enquanto apenas uma pequena parcela da área plantada conta com seguro rural. A redução do orçamento federal para subvenções, somada à intensificação de fenômenos climáticos, amplia os riscos para produtores.
Em resposta, seguradoras e resseguradoras têm recorrido a tecnologias como sensoriamento remoto, monitoramento por satélite e modelos climáticos avançados. No entanto, especialistas avaliam que a ampliação da proteção depende da criação de produtos adequados e de canais de distribuição mais eficientes.
Novos modelos e soluções climáticas
Os debates também apontaram o avanço de soluções como seguros paramétricos, vinculados a índices de chuva, vento ou temperatura, além de coberturas específicas para catástrofes e produtos voltados a micro e pequenas empresas. A digitalização e o uso intensivo de dados passaram a ser considerados requisitos básicos para avaliar exposições, precificar riscos e sustentar modelos de resiliência em larga escala.
Nesse contexto, o setor de seguros passa a ser visto como um dos motores da transição ecológica, ao orientar investimentos, influenciar padrões de construção e apoiar políticas públicas de adaptação climática.
Novo papel dos corretores no cenário pós-COP30
O fortalecimento da agenda climática também amplia o papel consultivo dos corretores de seguros. A compreensão de riscos regionais, a tradução de dados técnicos para a realidade dos clientes e a capacidade de transformar tendências globais em soluções práticas tornam-se competências centrais da atividade.
Analistas avaliam que, no horizonte pós-COP30, profissionais e empresas preparados para atuar com visão ambiental e capacidade analítica ampliada tendem a ganhar relevância no mercado. A adaptação climática, nesse cenário, consolida-se como um vetor de desenvolvimento econômico e social, no qual o seguro assume função estratégica para a construção de um país mais resiliente e inclusivo.


















