O lançamento da plataforma de apostas online da Caixa Econômica Federal, apelidada de “Bet da Caixa”, provocou forte reação no governo e entre entidades ligadas à instituição.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou irritação com o anúncio do projeto e pretende se reunir com o presidente da Caixa, Carlos Vieira, assim que retornar de viagem à Ásia, com o objetivo de suspender ou reavaliar a iniciativa.
Fenae alerta para impactos sociais
A Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) também se posicionou contra a proposta, destacando os riscos sociais associados à entrada da instituição pública no setor de apostas.
Segundo a federação, a medida afasta a Caixa de sua missão social e pode estimular a compulsão e aprofundar o endividamento de milhões de brasileiros, especialmente entre as camadas mais vulneráveis da população.
Apostas online movimentam bilhões no país
Mesmo antes de qualquer operação oficial pela Caixa, os números do setor já chamam atenção. Apenas em agosto de 2024, beneficiários do Bolsa Família transferiram cerca de R$ 3 bilhões via PIX para sites de apostas, com gasto médio de R$ 100 por pessoa.
No primeiro semestre de 2025, mais de 17 milhões de brasileiros participaram dessas plataformas, com média mensal de R$ 164 por usuário ativo, segundo dados do Ministério da Fazenda.
Desafio é educacional, dizem especialistas
Diante desse cenário, especialistas apontam que o problema vai além da economia — é também educacional. O Centro Brasileiro de Cursos (CEBRAC) afirma que o país enfrenta uma epidemia de desinformação financeira, na qual a promessa de ganhos rápidos nas apostas digitais mascara riscos e fragiliza a relação das pessoas com o dinheiro.
“A aposta, para muitos, virou uma forma de tentar resolver o que o planejamento financeiro não consegue. Mas sem educação, isso se transforma em ilusão e endividamento”, explica Joaquim Paiffer, CEO do CEBRAC. “É preciso aprender a pensar no dinheiro como ferramenta de liberdade, não como um atalho.”
Iniciativas de conscientização financeira
Com base nessa preocupação, o CEBRAC vem ampliando ações de conscientização, oferecendo cursos gratuitos de educação financeira voltados a jovens e adultos em situação de vulnerabilidade.
O objetivo é fornecer informações acessíveis e técnicas, combatendo o imediatismo e incentivando decisões financeiras sustentáveis.
Vulnerabilidade e o risco do lucro fácil
Segundo dados do IBGE, mais de 90% dos brasileiros têm renda mensal de até R$ 3.500, o que evidencia a vulnerabilidade de grande parte da população a promessas de lucro rápido.
Em um contexto de expansão das apostas online e acesso facilitado ao crédito, especialistas reforçam que o foco deve ser autonomia, planejamento e consciência financeira.
“Apostar sem conhecimento é como gastar sem pensar. Nosso papel é ajudar o brasileiro a entender o valor real do dinheiro e a fazer escolhas que fortaleçam, e não fragilizem, seu futuro”, completa Paiffer.




















