A imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, com início previsto para 1º de agosto, elevou o nível de preocupação entre empresas exportadoras brasileiras.
A decisão, anunciada pelo governo norte-americano, deve comprometer a competitividade de diversos setores e provocar efeitos em cadeia na economia nacional.
Segundo Silvano Boing, CEO da Global, empresa especializada em recuperação de crédito B2B, a nova tarifa representa um risco significativo à saúde financeira das empresas exportadoras.
“O aumento para 50% gera um choque direto no capital de giro dessas empresas, que terão de escolher entre reduzir seus preços e perder margem ou abandonar o mercado americano”, afirma.
A medida, segundo Boing, pode levar ao adiamento de embarques, redução de receitas em dólar e aumento do estoque parado, afetando a capacidade de pagamento não apenas das exportadoras, mas também de fornecedores e prestadores de serviço da cadeia logística.
Efeitos em cascata e impacto setorial
Os Estados Unidos representam o segundo maior destino das exportações brasileiras, responsáveis por cerca de 12% das vendas externas — o equivalente a aproximadamente US$ 20 bilhões no primeiro semestre de 2025. O impacto, porém, não será homogêneo entre os setores.
A siderurgia deve ser uma das mais afetadas: o aço brasileiro responde por quase 10% das exportações para os EUA, o que representa 40% das vendas externas do setor.
A indústria aeronáutica, com destaque para a Embraer e seus fornecedores, também pode sofrer com a perda de competitividade frente a gigantes como Boeing e Airbus.
O agronegócio, tradicional motor das exportações, enfrenta cenário similar. Os EUA são o segundo maior comprador de carne bovina brasileira e respondem por 30% do café exportado pelo país.
No caso do suco de laranja, a dependência americana do Brasil é expressiva. Com a tarifa, a tendência é de redução nas vendas, excesso de oferta interna e queda nos preços domésticos.
Já os setores de transformação — como têxteis, calçados e máquinas — podem sofrer com a queda imediata nas exportações, redução da produção e riscos para o nível de emprego.
Mercado reage com alta do dólar e queda nos investimentos
O anúncio das tarifas gerou forte reação nos mercados financeiros. A moeda brasileira se desvalorizou mais de 5% frente ao dólar nos dias subsequentes, refletindo o receio de fuga de capitais e redução no ingresso de divisas.
Embora analistas não prevejam recessão, estimativas apontam que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode recuar entre 0,3 e 0,4 ponto percentual caso a medida seja mantida por um período prolongado.
A inflação e o adiamento de investimentos estratégicos também estão entre os efeitos esperados.
“Se as exportações brasileiras perderem até US$ 15 bilhões, como projetado, haverá uma pressão adicional sobre o câmbio e a inflação, elevando os custos internos justamente em um momento de desaceleração econômica global”, avalia Boing.
Alternativas e respostas possíveis
Apesar do cenário desafiador, há fatores que podem mitigar o impacto. O governo brasileiro tenta reverter a medida por meio de negociações diplomáticas e considera o uso de instrumentos como a Lei de Reciprocidade Econômica e linhas emergenciais de crédito para apoiar setores afetados.
Algumas empresas, especialmente as mais diversificadas ou com presença nos Estados Unidos, podem enfrentar menor impacto. Outras podem buscar novos mercados para redirecionar suas exportações.
A depender do desenrolar das negociações, parte dos exportadores pode optar por manter estoques e linhas de crédito temporárias, aguardando uma possível flexibilização da tarifa norte-americana nos próximos meses.