A 30ª Conferência do Clima (cop30), realizada em Belém, marcou um momento de inflexão nas discussões globais ao priorizar a transição para longe dos combustíveis fósseis. Pela primeira vez na história do evento, o tema petróleo ganhou protagonismo nas mesas de negociação.
Embora o Brasil não tenha incluído referências formais ao tema no texto final, obteve apoio público de ao menos 82 países favoráveis à mudança da matriz energética, hoje responsável por cerca de 70% das emissões globais de gases do efeito estufa.
Segundo André Guimarães, diretor executivo do IPAM e enviado especial da sociedade civil para a conferência, a COP30 representou uma mudança de postura. “A conferência muda o patamar das discussões, saindo das regras e debates para trilhas de implementação. Pela primeira vez, um grande mapeamento global identificou os países dispostos a eliminar gradualmente os combustíveis fósseis de suas matrizes energéticas”, afirmou.
Um encontro específico sobre combustíveis fósseis foi anunciado para os dias 28 e 29 de abril de 2026, em Santa Marta, na Colômbia, configurando uma espécie de “COP paralela” dedicada exclusivamente ao tema.
Florestas e o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre
Na área florestal, o avanço foi mais limitado: menos de 50 países formalizaram apoio a iniciativas contra o desmatamento. Ainda assim, o Brasil saiu da conferência com um importante reforço financeiro no Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
O aporte, inicialmente de US$ 1 bilhão, saltou para US$ 6,4 bilhões após novos compromissos, incluindo contribuições da Noruega (US$ 3 bilhões), Alemanha (1 bilhão de euros), França (US$ 500 milhões), Indonésia e Portugal. No total, 34 países com florestas tropicais manifestaram apoio ao mecanismo de pagamento pela preservação.
“Pela primeira vez se viu um compromisso em que a floresta em pé vale mais do que a floresta derrubada”, avaliou Guimarães.
A presidência da COP30 usará o mandato até novembro de 2026 para consolidar apoio político aos mapas de transição e levar propostas estruturadas à COP31, na Turquia.
Pacote de Belém: 29 decisões aprovadas
A conferência aprovou 29 decisões, reunidas no documento intitulado Pacote de Belém, com medidas sobre financiamento climático, adaptação e combate à desinformação.
Entre os principais pontos:
Financiamento climático
– Compromisso de triplicar o apoio financeiro de países desenvolvidos, buscando atingir US$ 1,3 trilhão até 2035.
Adaptação
– Início das discussões para elaborar uma política com 59 indicadores de adaptação, a chamada Visão Belém-Adis.
Balanço Global
– Diálogos anuais até 2027 para avaliar a aceleração de compromissos assumidos pelo Acordo de Paris.
NDCs
– Apresentação de novas NDCs por 122 países, responsáveis por 80% das emissões globais.
Mercado de Carbono
– Lançamento da Coalizão Global de Mercado de Carbono, com participação de Brasil, União Europeia, China e Reino Unido, para estabelecer regras de integridade e segurança aos investidores.
Transição Justa
– Criação do Programa de Trabalho sobre Transição Justa, incluindo pela primeira vez debates voltados a pessoas afrodescendentes, além de mulheres e povos tradicionais.
Gênero
– Avanço do Plano de Ação de Gênero, com foco em ampliar orçamento para formação de lideranças femininas indígenas, afrodescendentes e produtoras rurais.
Ambição climática
– Brasil e Turquia liderarão o Acelerador Global de Implementação para apoiar a execução de NDCs e planos nacionais de adaptação.
Integridade da informação
– Lançamento da Iniciativa Global para a Integridade da Informação sobre Mudança do Clima, com o objetivo de enfrentar a desinformação.
Participação histórica e mobilização popular
A COP30 extrapolou os limites oficiais e mobilizou a cidade de Belém. A Marcha pelo Clima, com cerca de 70 mil participantes, reforçou o engajamento da sociedade civil. Mais de 3 mil indígenas estiveram presentes nas negociações, e 14 terras indígenas tiveram processos de homologação iniciados durante o evento.
Além das tradicionais Zonas Azul e Verde, debates ocorreram também na Agrizone, sediada pela Embrapa, reunindo discussões sobre agricultura familiar, preservação e inovação. O Fórum Internacional da Agricultura Familiar, organizado pelo IPAM, foi um dos destaques da programação paralela.
“Belém escreve um capítulo único na história das COPs, com recorde de participação indígena, ampla mobilização social e uma cidade que se destacou pela organização e hospitalidade”, afirmou Guimarães.
A COP31 será realizada em novembro de 2026, em Antália, na Turquia. Já a COP32 ocorre em 2027, em Addis Abeba, na Etiópia.




















