O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (16) que nenhum presidente de outro país deve interferir nos assuntos internos da Venezuela ou de Cuba, em meio ao aumento da pressão dos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro.
Sem mencionar diretamente o presidente norte-americano Donald Trump, Lula fez as declarações durante um evento do PCdoB, em Brasília, um dia após Trump confirmar publicamente que autorizou a CIA a conduzir operações secretas na Venezuela com o objetivo de derrubar o governo em Caracas — ação considerada uma violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas (ONU).
“Todo mundo diz que a gente vai transformar o Brasil na Venezuela. O Brasil nunca vai ser a Venezuela, e a Venezuela nunca vai ser o Brasil. Cada um será ele próprio. O que defendemos é que o povo venezuelano é dono do seu destino, e não é nenhum presidente de outro país que tem que dar palpite de como vai ser a Venezuela ou vai ser Cuba”, declarou Lula.
Posicionamento brasileiro e latino-americano
O governo brasileiro, ao lado da maioria dos países da América Latina, já havia manifestado preocupação com a movimentação militar dos Estados Unidos nas águas do Caribe.
Desde agosto, Washington tem enviado milhares de militares, navios de guerra e aviões para a região, sob o argumento de combater o tráfico de drogas proveniente da Venezuela.
De acordo com a imprensa norte-americana, seis ataques já teriam sido realizados contra embarcações, resultando em mais de 30 mortes.
O governo Maduro acusa os EUA de tentar promover uma “mudança de regime” e promete levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU.
Declarações sobre Cuba
Lula também condenou a permanência de Cuba na lista de países que patrocinam o terrorismo, afirmando que a ilha “é um exemplo de povo e dignidade”.
“O que nós dizemos publicamente é que Cuba não é um país de exportação de terroristas. Cuba é um exemplo de povo e dignidade”, afirmou o presidente.
Os Estados Unidos mantêm um embargo econômico e financeiro contra Cuba desde a década de 1960, penalizando empresas e embarcações que comercializem com o país.
Com o novo governo Trump, as medidas foram reforcadas, incluindo sanções a países que contratam serviços médicos cubanos, uma das principais fontes de receita da ilha, que hoje enfrenta uma grave crise econômica e energética.
Análises e repercussões
Especialistas em política internacional ouvidos pela Agência Brasil afirmam que o interesse de Washington na Venezuela é essencialmente geopolítico, devido às maiores reservas de petróleo do planeta.
Segundo analistas, a autorização de ações da CIA cria um precedente perigoso para intervenções norte-americanas em outros países do continente, sempre que os interesses da Casa Branca forem contrariados — uma prática que remete aos períodos de intervenção da Guerra Fria, quando os EUA apoiaram ditaduras militares na América Latina.