O setor industrial brasileiro voltado ao processamento de aço vive um momento crítico diante do aumento expressivo das importações e da concorrência considerada desleal por representantes do setor.
De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Metais (Abimetal-Sicetel), com base em informações do Comex Stat, o volume de produtos importados do segundo elo da cadeia do aço cresceu mais de 30% entre janeiro e abril de 2024, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Especialistas apontam que o crescimento ocorre em um cenário global marcado por excesso de capacidade produtiva e práticas comerciais agressivas por parte de países como a China, cujos produtos chegam ao Brasil com preços abaixo do valor de mercado.
Segundo a Abimetal-Sicetel, esse movimento compromete a competitividade de empresas brasileiras, especialmente as pequenas e médias, que operam com capacidade ociosa e têm estrutura técnica para atender grande parte da demanda interna.
Medidas de proteção são consideradas insuficientes
Em resposta à pressão do setor, o governo brasileiro elevou para 25% a alíquota de importação de seis produtos fabricados no país — como arames galvanizados, pregos e materiais para andaimes.
A medida foi anunciada como uma tentativa de conter a entrada de produtos com preços considerados artificiais. No entanto, representantes da indústria consideram a ação insuficiente e defendem sua renovação permanente.
A ausência de uma política industrial de longo prazo e a instabilidade das medidas adotadas são apontadas como entraves para o fortalecimento do setor. “A falta de previsibilidade enfraquece os efeitos das iniciativas de proteção e dificulta o planejamento das empresas”, afirmou, em nota, a entidade que representa o setor.
Emprego, inovação e impacto econômico
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o segmento de transformação do aço emprega cerca de 30 mil trabalhadores diretamente.
Além disso, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) destaca que os empregos industriais têm salários, em média, 10% superiores aos de outros setores, e respondem por 69% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento no Brasil.
A indústria de transformação também apresenta o maior efeito multiplicador na economia brasileira. Para cada R$ 1,00 produzido, são gerados R$ 2,43 em outros setores, segundo a CNI.
Esse impacto é utilizado por lideranças do setor como argumento para defender Políticas públicas mais robustas e permanentes que promovam a isonomia concorrencial.
Concorrência e equilíbrio de mercado
Representantes da Abimetal-Sicetel afirmam que não se trata de evitar a concorrência internacional, mas de buscar um ambiente equilibrado, com regras claras e estáveis para todos os agentes econômicos.
O setor pede a renovação das medidas comerciais adotadas até o momento e o avanço de novas políticas que incentivem a produção nacional.
“O setor não teme a competição global, mas precisa de condições adequadas para competir em pé de igualdade”, afirma a entidade.
Para a indústria, fortalecer a cadeia produtiva interna é essencial não apenas do ponto de vista econômico, mas também estratégico — uma vez que o país dispõe de infraestrutura, mão de obra qualificada e capacidade técnica para suprir a própria demanda.
Reflexões sobre política industrial
A discussão sobre o fortalecimento da indústria nacional volta a ganhar força em meio ao debate sobre soberania produtiva, emprego qualificado e inovação.
Líderes empresariais e entidades de classe defendem uma revisão das prioridades de política industrial e comercial, com maior valorização das empresas que operam e investem no Brasil.
O setor também reforça a importância de ações coordenadas, como fazem outros países que enfrentam o mesmo contexto global de concorrência acirrada. Para os defensores da medida, a proteção estratégica de setores produtivos nacionais é compatível com o desenvolvimento sustentável e com a geração de valor para o país.