A necessidade de isolamento social e o consequente freio na atividade econômica vêm impactando fortemente o emprego.
Dados antecedentes do mercado de trabalho, em levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), apontaram que abril registrou o maior percentual de empresas da série histórica sinalizando que iriam reduzir em alguma medida o quadro funcional.
Em maio houve uma melhora, mas os números continuaram muito negativos, e o resultado terminou como o segundo pior no agregado dos quatro grandes setores pesquisados.
Em abril, na Indústria 51,2% dos empresários previam reduzir pessoal ocupado nos três meses seguintes, e 5% projetavam aumento: um saldo de -46,2 pontos percentuais. A diferença caiu para -41,2 p.p. em maio, mas continua bastante elevada.
A Construção registrou os números mais baixos de abril (saldo de -48 pontos), porém um pouco menos negativos em maio (-33,4).
Este é o único setor em que o resultado de maio não foi o segundo pior da série (40,3 p.p. em janeiro de 2016). Entre os empresários do Comércio, o saldo foi de -28,5 p.p. em abril e -20,2 em maio p.p.. Já o setor de Serviços, que tem sofrido bastante com as medidas de isolamento social, registrou saldo negativo de 44,9 p.p. em abril e de 37,9 p.p. em maio.
“Nós acreditamos, analisando os dados disponíveis hoje, que os piores meses devem ser abril e maio. O segundo trimestre deve ser o pior do ano, e a retomada deve ser a partir do terceiro trimestre, de forma lenta e gradual, com a reabertura gradual da economia”, avaliou Aloisio Campelo Jr., superintendente de Estatísticas Públicas do FGV IBRE e um dos responsáveis pela pesquisa.
Diferentes expectativas
Entre abril e maio, o único destaque positivo veio da indústria farmacêutica, com média positiva do indicador (6,9 pontos), seguida por alimentos (-7,4). No comércio, o segmento hiper e supermercados (-5,7) foi o que sentiu menos.
Já nos setores de serviços e construção as menores perdas ficaram entre 24 e 31 pontos.
Entre os piores resultados, estão os segmentos da indústria vestuário e acessórios (-82,2) e têxtil (-62,6). Construção veio em seguida, com queda de 50,8 e 48 pontos, respectivamente para obras viárias e edificações não residenciais. Entre os segmentos de serviços, as maiores quedas foram de transporte rodoviário (-48,4) e serviços de alojamento (-46,6). Veículos, motos e peças (-36,3) e material para construção (-36,1) foram os que tiveram pior desempenho no comércio.
É importante destacar segmentos que, apesar de ainda não estarem entre aqueles com piores perspectivas para o emprego, sofreram uma expressiva revisão de cenários nos últimos meses. Entre eles estão: obras de acabamento (construção), serviços administrativos (serviços) e revendedores de tecidos, vestuários e calçados (comércio). Esses segmentos perderam pelo menos 40 pontos entre dezembro de 2019 – quando seus indicadores estavam ainda estavam positivos, acima de 10 pontos – e o bimestre abril-maio.
“O resultado é mais heterogêneo na indústria e no comércio, e o impacto mais disseminado entre os segmentos da construção e de serviços. A recuperação também deve ser diferente entre esses setores. Alguns segmentos de serviços, por exemplo, como os que necessitam de alguma aglomeração, devem demorar um pouco mais para se recuperar”, apontou Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE.
O Indicador de emprego previsto de quatro grandes setores da economia – indústria, serviços, comércio e construção – é calculado mensalmente pelo FGV IBRE. O indicador representa o saldo entre o percentual de empresas que esperam aumentar o quadro de pessoal ocupado nos próximos meses, descontado do percentual de empresas que planeja reduzi-lo.