A 4ª Conferência de Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4), encerrada na última quinta-feira (3), em Sevilha, Espanha, terminou com a adoção consensual do documento final intitulado “El Compromiso de Sevilla” e o lançamento de diversas iniciativas voltadas à reforma do sistema financeiro internacional.
A ausência dos Estados Unidos, que se retiraram do processo em junho, abriu espaço para maior protagonismo de países do Sul Global nas discussões.
Novas coalizões para tributação global
Entre os anúncios, destacou-se a criação de coalizões internacionais voltadas à justiça fiscal. África do Sul, Brasil e Espanha propuseram uma iniciativa conjunta para avançar na tributação global de grandes fortunas, retomando debates do G20 realizado no Brasil em 2024.
Outra coalizão, formada por Antígua & Barbuda, Barbados, Benim, Espanha, França, Quênia, Somália e Serra Leoa, pretende pressionar por tributos sobre jatos particulares e passagens em primeira classe, com o objetivo de contribuir para políticas de equidade fiscal e climática.
Avanços no financiamento climático
Na área de finanças verdes, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apresentou um pacote de medidas que pode destravar pelo menos US$ 11 bilhões, incluindo garantias cambiais, “bônus Amazônia” e cláusulas de dívida resilientes ao clima.
A proposta reforça o papel de bancos multilaterais fora da órbita dos EUA, contrastando com o Banco Mundial, que recentemente flexibilizou sua política sobre financiamento à energia nuclear.
Durante a conferência, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da cop30, alertou para o surgimento de um novo tipo de ceticismo climático: o questionamento sobre a viabilidade econômica da ação ambiental.
“Cresce a dúvida sobre a lógica de combater a crise climática — a lógica econômica. Mas enfrentar a mudança do clima pode ser um ótimo negócio, pode gerar empregos e impulsionar o desenvolvimento”, afirmou.
Corrêa do Lago também defendeu maior valorização das ações de adaptação climática. Segundo ele, apesar de serem vistas como locais, essas iniciativas produzem impactos concretos e têm maior conexão com a população.
Iniciativas voltadas à dívida e desenvolvimento sustentável
A FfD4 também marcou a criação de um fórum inédito de países devedores, o Borrowers’ Club, coordenado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), com apoio de Egito, Espanha e Zâmbia.
O espaço busca fortalecer a articulação entre nações endividadas e ampliar sua capacidade de negociação em futuras crises financeiras, contrapondo-se ao tradicional Clube de Paris, formado por países credores.
Além disso, Espanha e Banco Mundial anunciaram um centro global voltado ao incentivo de trocas de dívida por compromissos climáticos, os chamados debt swaps. A iniciativa visa liberar recursos para o desenvolvimento sustentável em países com alta carga de endividamento.
Propostas para uma arquitetura financeira mais justa
O presidente da Espanha, Pedro Sánchez, defendeu a criação de um fundo apoiado por Direitos Especiais de Saque (SDRs) do FMI para conceder empréstimos em condições favoráveis a países em desenvolvimento.
“Sabemos que isso não é suficiente. Mas é uma proposta realista, alinhada com a justiça social e com o objetivo de construir uma arquitetura financeira global mais resiliente e justa”, declarou.
Caminho para a COP30
A conferência em Sevilha foi considerada um passo importante no período preparatório para a COP30, que será realizada no Brasil em 2025.
O consenso entre os participantes foi de que os países do Sul Global estão ocupando um espaço antes dominado por grandes economias, apresentando propostas concretas para reformas estruturais no sistema financeiro e fiscal internacional.