Com aumento da violência doméstica com a quarentena em todos os países, e o pronunciamento do Papa para orarmos para essa causa, aqui no Brasil, a psicóloga de mulheres e escritora do livro “Doidas no Divã”, Cris Linnares, chocou no Instagram com uma frase que está quebrando paradigmas e fazendo a gente repensar a maneira que lidamos com a violência domestica no Brasil.
Em seu video, entitulado “Mulher Não É Vítima”, ela fala que um dos problemas de organizações, ONGS, é que usamos a palavra “vítima” em vez de falarmos que a mulher está _em situação_ de violência doméstica:
“Quando colocamos uma mulher como vítima, até pela definição dessa palavra, a gente não está dando nem uma escolha para ela, a não ser continuar presa a um sistema abusivo.”
Mulher não é vítima!
A Violência pode acabar antes dos hematomas…
Em relatório divulgado ontem (20) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só em São Paulo, os casos de violência física contra mulher aumentaram 46,2%, em relação à março de 2019.
Um dos problemas no caminho para diminuirmos essa estatística, de acordo com a psicóloga Cris Linnares, “é a mulher se ver como “vítima”, e não reconhecer, que ela não é uma ‘vencida’, como a etimologia dessa palavra diz, mas ela está em uma ‘situação’ de violência. E toda situação pode ser mudada.”
Depois de trabalhar com terapia de grupos com mulheres nessa situação no Brasil e nos Estados Unidos, Linnares percebeu que quando uma mulher se vê, ou é vista como vítima, ela pode demorar mais para reconhecer, denunciar a violência e se libertar dessa situação.
” A maioria das mulheres só procuram ajuda quando já tem cicatrizes no corpo, mas precisamos aumentar a consciência de que a violência doméstica começa muito antes dos hematomas.”
Para isso, a psicóloga sugere que precisamos compartilhar mais através de ações sociais e dos meios de comunicação, os outros tipos de violência contra mulher previstos pela Lei Maria da Pena de 2006:
1 – violência física: é a que mais a mulher percebe porque deixa marcas no corpo.
2 – violência moral: Injúria, xingamentos (“sua gorda, louca, vagabunda…” )
3 – calúnia : quando o abusador acusa a mulher de um crime ou fato específico que ela não cometeu ( “você negligenciou o nosso filho…)
4 – difamação : – utiliza palavras de baixo calão para outros ( “ela é desequilibrada” )
5 -violência patrimonial: (quebrar a cadeira, jogar o vaso na parede quando a mulher vai sair para fazer um curso e se aperfeiçoar)
6 – violência sexual. Estupro.
5 – violência psicológica – faz ela se sentir incapaz como mãe, como mulher…
O que fazer diante desta situação?
“Quando a mulher perceber um desses abusos físicos ou emocionais, ela precisa reconhecê-los como violência e começar a colher provas sobre esse atos, como por ex: áudios de WhatsApp, conversas telefônicas, troca de e-mails, testemunha que presenciou”, comenta a psicóloga.
“E o mais importante : lembre que a mulher não é vítima desse abusador, mas sim, está em uma situação abusiva que não sabia e que pode encontrar caminhos para se liberar”. Concluiu.
Sobre Cris Linnares
Cris é a única brasileira nomeada pela revista Glamour americana como uma das 50 heroínas dos Estados Unidos pelo seu trabalho com saúde mental e empoderamento feminino, e foi convidada a compartilhar sua história e trabalho pioneiro em dois TEDxtalk, a conferência dos maiores pensadores do mundo.
Com cursos de aprofundamento em Terapia Cognitiva pela Universidade de Harvard, e Estudo da Mulher pela Universidade da Califórnia, atualmente, Cris ministra suas palestras e treinamentos divertidos.