O Brasil está prestes a adotar um dos sistemas mais avançados de controle do tráfego aéreo do mundo. O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) iniciou a implementação do sistema PBCS (Performance-Based Communication and Surveillance) — Comunicação e Vigilância Baseadas em Performance — nas rotas sobre o Oceano Atlântico. A medida promete ampliar a segurança, otimizar o uso do espaço aéreo e tornar as rotas transatlânticas mais diretas e eficientes.
Avanço tecnológico no controle aéreo
O PBCS é uma iniciativa da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), que define padrões de desempenho para a comunicação entre pilotos e controladores, além do rastreamento de aeronaves em regiões sem cobertura de radar, como o Atlântico. Atualmente, a ausência desses recursos obriga os controladores a manter grandes separações entre aviões.
Com a adoção do novo sistema, essas distâncias poderão ser reduzidas de forma segura, permitindo que mais voos cruzem o Atlântico simultaneamente, sem comprometer a segurança.
O Brasil é responsável por uma das maiores áreas de controle aéreo oceânico do mundo, a FIR Atlântico, que conecta a América do Sul à Europa e à África. O PBCS deve aumentar a capacidade dessa rota, acompanhando o crescimento da demanda internacional e posicionando o país como referência em modernização da aviação global.
Como o sistema funciona
A operação do PBCS depende do cumprimento de dois padrões internacionais de desempenho:
- RCP (Performance de Comunicação Requerida) – estabelece a rapidez e confiabilidade na troca de mensagens entre pilotos e controladores;
- RSP (Performance de Vigilância Requerida) – define a precisão e frequência com que as posições das aeronaves devem ser informadas.
Esses parâmetros exigem que as mensagens sejam transmitidas em até quatro minutos e os dados de posição em até três minutos, com índices de confiabilidade superiores a 99%. Isso permite respostas mais rápidas e maior previsibilidade nas operações, reduzindo riscos de incidentes.
O sistema também possibilita comunicação digital em tempo real por mensagens de texto, diminuindo a dependência da comunicação por voz — que pode sofrer interferências —, e utiliza o ADS-C, tecnologia que envia automaticamente a posição e a rota prevista da aeronave ao controlador.
Segundo o Decea, a fase 1 do projeto deve ser concluída até o final de 2026, reduzindo pela metade as atuais separações entre aeronaves nas rotas transatlânticas.
Ganhos em segurança e sustentabilidade
O Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) considera o PBCS um marco na aviação civil brasileira. De acordo com o ministro Silvio Costa Filho, o sistema “amplia a segurança, garante mais eficiência nas rotas e fortalece a conectividade do Brasil com outros países”, além de combinar “Inovação tecnológica, competitividade e sustentabilidade”.
A Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) destaca que o novo padrão reforça a segurança operacional, um dos pilares da Política Nacional de Aviação Civil (PNAC). Com padrões mais rigorosos de comunicação e vigilância, o sistema reduz incertezas e previne falhas decorrentes de perda de contato ou monitoramento.
Além da segurança, o PBCS trará ganhos de eficiência. Com rotas mais diretas e comunicação mais precisa, os voos poderão economizar combustível, reduzir custos operacionais e diminuir emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para as metas de descarbonização do setor aéreo.
Alinhamento com padrões internacionais
A adoção do PBCS integra a estratégia brasileira de modernização tecnológica e harmonização regulatória com os padrões globais da ICAO. A medida também fortalece a credibilidade do Brasil no cenário internacional e reforça sua posição estratégica nas rotas que ligam América do Sul, Europa e África.
Com a implementação do novo sistema, o país dá um passo importante na consolidação de um espaço aéreo mais seguro, eficiente e sustentável — preparado para acompanhar o crescimento do tráfego aéreo global nas próximas décadas.