O acesso às redes sociais pode deixar de ser apenas um aspecto cotidiano e passar a influenciar diretamente a concessão de vistos para os Estados Unidos.
A possibilidade foi levantada por uma recomendação recente do senador norte-americano Marco Rubio ao Departamento de Segurança Interna (DHS), sugerindo que a ausência de presença digital em plataformas públicas possa ser interpretada como fator de risco, dificultando a verificação da identidade, intenções e vínculos do solicitante com seu país de origem.
Especialistas em imigração consideram a medida controversa, mas reconhecem que ela está ganhando força. De acordo com Daniel Toledo, advogado especializado em Direito Internacional e imigração, a proposta pode ser compreendida dentro de um contexto mais amplo de segurança.
“A ideia é que o histórico digital ofereça subsídios para que as autoridades compreendam melhor quem é o solicitante, sua ocupação, relações e comportamento público”, afirma.
Segundo Toledo, o argumento central é de que pessoas com intenções ilegais ou duvidosas tenderiam a evitar exposição online. “Ainda que a ausência de redes sociais possa ser apenas um traço de personalidade reservada, o agente consular pode interpretar isso como tentativa de ocultar informações relevantes”, explica.
Redes sociais e conteúdo online podem influenciar avaliação consular
A presença digital, contudo, não é um fator positivo por si só. De acordo com o especialista, o tipo de conteúdo compartilhado e os grupos aos quais o solicitante está vinculado também podem influenciar negativamente a decisão consular.
Participação em comunidades com conteúdos xenofóbicos, orientação sobre como burlar regras migratórias, ou grupos que discutem estratégias para permanecer ilegalmente no país são exemplos que podem levantar suspeitas durante a análise.
Além das plataformas populares como Facebook, Instagram, TikTok e X (antigo Twitter), conteúdos publicados em blogs, perfis no LinkedIn, artigos e cursos realizados também podem ser considerados durante a verificação.
A proposta prevê o cruzamento de informações públicas como parte do processo de triagem. Vale lembrar que o formulário DS-160, necessário para diversos tipos de visto, já exige que o solicitante informe as redes sociais utilizadas nos últimos cinco anos.
Tendência de endurecimento nos critérios migratórios
A recomendação surge em um momento de maior vigilância sobre o sistema migratório dos EUA, motivada por episódios recentes envolvendo concessão de vistos a indivíduos posteriormente identificados com histórico problemático.
A triagem digital é vista como um mecanismo para antecipar riscos e evitar abusos no uso do sistema imigratório.
Toledo ressalta que a medida não representa uma invasão de privacidade, já que se baseia exclusivamente em informações acessíveis ao público. “O foco está na coerência entre o que é declarado no processo consular e o que se demonstra nos ambientes digitais”, aponta.
Recomendações a solicitantes
Diante dessa possível mudança de postura, o advogado orienta que solicitantes de visto adotem uma presença digital compatível com seus objetivos migratórios. A sugestão não é se tornar uma figura pública, mas manter perfis atualizados e coerentes com as informações fornecidas às autoridades.
Toledo também alerta sobre o envolvimento com grupos informais que prometem “atalhos” para imigração. “Mesmo uma participação passiva em comunidades suspeitas pode comprometer o processo”, adverte.
A recomendação de Marco Rubio ainda não representa uma política oficial, mas seu avanço no debate público indica uma possível ampliação da vigilância digital como ferramenta auxiliar na concessão de vistos. O tema pode ganhar força nos próximos meses, especialmente com a proximidade do calendário eleitoral nos Estados Unidos.