As ações da Natura&Co (NTCO3) levaram um baque de quase 30% nesta sexta-feira, 14, na B3, o que fez deste o dia mais negro da empresa na bolsa até agora. Com isso, R$ 5,3 bilhões evaporaram do valor de mercado, deixando a companhia valendo R$ 13,4 bilhões, segundo os dados do fechamento do pregão.
O balanço do quarto trimestre de 2024, divulgado na véspera, trouxe à tona uma série de dificuldades. As despesas operacionais deram um salto impressionante, chegando a R$ 5,3 bilhões – quase o dobro (92,4%) do que foi registrado no mesmo período de 2023. Boa parte disso, cerca de R$ 3,4 bilhões, foi destinada a áreas como vendas, marketing e logística. O diretor financeiro, Guilherme Castellan, admitiu que “o mercado ficou decepcionado com o resultado das despesas e da geração de margem da companhia”, mas aposta que, com o tempo, a estrutura financeira da empresa vai abrir caminho para melhores resultados.
A Avon Internacional, um dos braços da Natura&Co, também pesou na balança. A unidade viu sua receita líquida encolher 10% em moeda corrente, com o mercado russo sendo o principal calo no sapato. Além disso, o processo de recuperação judicial da Avon nos Estados Unidos, o chamado Chapter 11, consumiu R$ 843 milhões, impactando o caixa. Mesmo assim, o Ebitda recorrente subiu 50,4%, fechando em R$ 703 milhões – um alento em meio às turbulências.
A margem bruta, que ficou em 63,2%, decepcionou quem esperava algo perto de 66%. A explicação está nas promoções mais agressivas e nos kits de Natal, que, apesar de venderem bem, rendem menos lucro. O CEO da Natura&Co, Fábio Barbosa, defendeu o desempenho ao destacar que “os resultados mostraram uma saudável tendência nas receitas após os primeiros nove meses do ano, acelerada ainda mais pela campanha de presentes de fim de ano”.
Quem acompanha o mercado também apontou o dedo para os custos de integrar a Avon. O analista Lucas Dias, da Ativa Investimentos, observou que “os custos de integração com a Avon estão poluindo o balanço da companhia e enfraquecendo o desempenho dos itens do segmento Casa & Estilo”. Ainda assim, a receita líquida total da empresa chegou a R$ 7,75 bilhões, 63,1% acima do quarto trimestre de 2023, batendo a previsão de R$ 7,59 bilhões do consenso Bloomberg. O prejuízo líquido caiu bastante, de R$ 2,7 bilhões para R$ 438,5 milhões, mas ficou aquém do lucro de R$ 326,2 milhões que alguns analistas esperavam.
A reação dos investidores não tardou: o papel foi alvo de uma enxurrada de vendas. Agora, a Natura&Co tenta rearrumar a casa, de olho em uma solução para a Avon Internacional – que pode até passar por uma venda ou uma parceria. O mercado, por sua vez, fica de butuca, esperando para ver se 2025 traz uma luz no fim do túnel para a companhia.