Na última sexta-feira (14), um tweet do presidente da Argentina, Javier Milei, desencadeou um escândalo financeiro de grandes proporções. A publicação promovia a nova criptomoeda $LIBRA, que, em poucas horas, disparou em valor antes de despencar drasticamente. O evento resultou em uma investigação governamental, suspeitas de fraude e até pedidos de impeachment.
O caso da $LIBRA apresenta características de uma prática comum no universo das criptomoedas chamada “Rug Pull” (ou “puxada de tapete”). Esse golpe ocorre quando os criadores de um ativo digital promovem a criptomoeda para atrair investidores e inflacionar seu preço.
Funciona assim: quando o ativo atinge um pico de valor, os criadores e primeiros investidores vendem grandes quantidades, embolsando lucros milionários e causando o colapso do preço.
Um ponto a ser levado em consideração é que o preço do ativo disparou imediatamente após a promoção de Milei, um padrão comum nesse tipo de fraude, e as primeiras compras foram feitas por um pequeno grupo com valores altíssimos, possivelmente usando informação privilegiada. O colapso ocorreu após esses investidores liquidarem suas posições, deixando milhares de investidores menores no prejuízo.
Linha do tempo do Caso $LIBRA
Para que fique mais fácil de entender o que aconteceu, a linha do tempo do caso $LIBRA é a seguinte:
- 14 de fevereiro, 19h01: Javier Milei publica no X promovendo a criptomoeda $LIBRA, afirmando que o ativo serviria para financiar Pequenos negócios na Argentina.
- 14 de fevereiro, 19h05: A cotação da $LIBRA dispara de US$ 0,25 para US$ 5,54, impulsionada pelo endosso presidencial.
- 14 de fevereiro, 19h30: Grandes investidores realizam compras milionárias da moeda, com indícios de uso de robôs para automatizar as transações.
- 14 de fevereiro, 20h10: As primeiras grandes vendas começam, totalizando cerca de US$ 7 milhões, causando a queda no valor da criptomoeda.
- 14 de fevereiro, 20h45: A $LIBRA colapsa, despencando para menos de US$ 1 após vendas massivas de investidores iniciais.
- 14 de fevereiro, 23h59: Milei apaga o tweet e publica um novo post afirmando que não conhecia os detalhes do projeto.
- 15 de fevereiro: O governo argentino anuncia uma investigação urgente sobre o caso.
- 17 de fevereiro: Partidos da oposição apresentam um pedido de impeachment contra Milei, alegando fraudes financeiras e abuso de poder.
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Quem são os envolvidos no escândalo da $LIBRA?
Vários nomes surgiram como peças-chave no escândalo da $LIBRA. A relação entre esses envolvidos e a administração de Milei levanta suspeitas de uso de informações privilegiadas e possível coordenação do esquema. Entre eles:
- Javier Milei: presidente da Argentina, economista libertário e defensor da tokenização da economia. Seu apoio à $LIBRA gerou credibilidade para o projeto.
- Hayden Mark Davis: empresário americano da Kelsen Ventures, um dos principais promotores da criptomoeda. Declarou ser assessor de Milei e afirmou que trabalhava com sua equipe em projetos de tokenização.
- Julian Peh: empresário de tecnologia de Singapura e fundador da KIP Network. Alegou que a Kelsen Ventures foi a responsável pelo colapso da criptomoeda.
- Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy: comerciantes que já trabalharam com Milei antes de sua entrada na política e que também foram associados ao projeto.
Criptomoeda $LIBRA
A criptomoeda $LIBRA foi lançada como um ativo digital associado a ideias de liberdade financeira e descentralização. Inicialmente, foi promovida como uma alternativa para facilitar transações sem a necessidade de intermediários tradicionais, como bancos e governos.
A origem do projeto remonta a um grupo de investidores internacionais que alegavam buscar uma revolução no mercado financeiro. No entanto, a falta de transparência sobre seus criadores e os mecanismos de governança da moeda geraram dúvidas desde o início.
O nome $LIBRA remete à unidade monetária histórica usada no Império Romano e também à tentativa de criar uma identidade de estabilidade e credibilidade no mercado de criptomoedas. Com a promoção inesperada feita por Javier Milei, a moeda ganhou grande notoriedade, mas rapidamente se tornou sinônimo de um dos maiores escândalos financeiros da Argentina.
Fonte: BBC News Argentina