“Fundação”, nova exposição realizada pela Casa Fiat de Cultura, surge das memórias afetivas da artista Ana Hortides – principalmente da sua relação com a “Casa nº 15”, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde nasceu e cresceu.
Por meio de 12 obras, entre esculturas, pintura e videoarte, a artista questiona, tensiona e expõe a estrutura social e pensa criticamente sobre a dimensão política que nasce do doméstico.
A mostra foi escolhida no 5º Programa de Seleção da Piccola Galleria e ficará em cartaz de 6 de dezembro de 2022 a 29 de janeiro de 2023.
No dia 7 de dezembro, o público poderá participar de um bate-papo virtual com a artista, que será transmitido pelo canal da Casa Fiat de Cultura no YouTube.
As inscrições devem ser feitas gratuitamente pela Sympla (bit.ly/BatePapoAnaHortides). Toda programação da Casa Fiat de Cultura é gratuita.
O trabalho artístico de Ana Hortides se desenvolve com objetos de uso cotidiano e, a partir deles, a artista discute questões relacionadas ao habitar, ao íntimo e à construção da identidade.
Foi na casa de seus avós maternos, na Vila Valqueire, bairro do subúrbio carioca, que ela decidiu trazer o repertório da casa para o campo das artes. “Percebi que não só a casa dos meus avós, mas as do entorno, estavam sempre em obras, com pisos que precisavam ser assentados e paredes que ainda pediam cimento. Por isso, me propus a trabalhar com que encontrava por lá”, explica. Sua pesquisa coloca luz nas técnicas de construção civil suburbanas – como o chão de caquinhos, o piso vermelhão e de cimento queimado –, conciliando a dimensão poético-filosófica com a discussão política.
Encontro
As 12 obras em exposição se dão no encontro com o mundo, mas pela órbita da casa, sua memória e construção.
Ana Hortides usa barras de sabão de coco para a construção escultórica, o capacho como suporte para a pintura, o piso cerâmico em caquinhos que ora se coloca como capacho, ora como objeto, o concreto que se molda escultura e o piso vermelhão e de cimento queimado que se transpõem para a tela.
Na mostra “Fundação”, “esses materiais deslocam-se de sua função primária e se movem ideologicamente para a construção de uma carga conceitual e simbólica.
Penso na casa com a visão de quem mora nela. Na mostra, retrato a casa que abriga, traz conforto e segurança, mas que também evoca lugares de prisão”, revela.
Pollyanna Quintella, que assina o texto curatorial da exposição, destaca que as obras feitas com caquinhos, por exemplo, relembram uma situação bastante comum na construção civil suburbana: as lajotas de cerâmicas eram utilizadas como revestimento pela classe média ao longo do século XX, e as partes quebradas eram incorporadas nas casas mais populares.
“Talvez os caquinhos dos quais falamos, no contexto do trabalho de Ana, não sejam apenas os pedaços irregulares de cerâmica, mas cada uma dessas obras como restos e estilhaços de uma casa incompleta, deformada pela memória e pelo tempo, cuja condição de ninho só sobrevive na idealização nostálgica da infância”, reflete Quintella.
A exposição “Fundação” é uma realização da Casa Fiat de Cultura e do Ministério do Turismo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com o patrocínio da Fiat, do Banco Safra e da Usiminas, e co-patrocínio do Grupo Colorado. O evento tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Programa Amigos da Casa, da Brose do Brasil e do Instituto Usiminas.
Bate-papo de abertura
Para inaugurar a exposição “Fundação”, a Casa Fiat de Cultura realiza um bate-papo online com a artista Ana Hortides no dia 7 de dezembro, às 19h, pelo canal da Casa Fiat de Cultura no YouTube. Há quase dez anos, ela investiga o modo como os imaginários contraditórios em torno do doméstico nos compõem.
Durante o evento, serão apresentados detalhes sobre o processo criativo, conceitos artísticos e reflexões propostas pelas obras. O público poderá interagir com a artista, por meio do chat virtual e algumas perguntas serão respondidas ao vivo. A inscrição deve ser feita na Sympla (bit.ly/BatePapoAnaHortides).
Sobre as obras de “Fundação”
Em suas obras, Ana Hortides experimenta materialidades distintas: cimento, sacola, barra de sabão, cabos de vassoura, pedaços de pisos. “A materialidade das coisas me encanta muito. E minha técnica e modo de fazer não vem da arte, mas sim da casa. O trabalho se mistura com a vida”, conta.
Nas obras de “caquinhos”, feitas de concreto e cerâmica, a artista transforma o que seria resultado da falta em estética afirmativa de uma identidade.
Em “Vermelhão” e “Cimento Queimado”, que refletem técnicas de acabamento econômico bastante utilizadas em casas brasileiras, a artista transpõe os pisos para as telas. Na série “Brasil país de todos”, o saco plástico toma forma de bandeira, assim como na série “Guardar Silêncio” as barras de sabão de coco são, agora, camas. “Minha maior referência são as pessoas e meu material para produzir é viver a vida”, completa Ana Hortides.
Lista de obras
- Caquinhos, da série “Casa 15”, concreto e cerâmica, 2021
- Caquinhos (capacho), da série “Casa 15”, concreto e cerâmica, 2021
- Caquinhos (retrato), da série “Casa 15”, concreto e cerâmica, 2021
- Caquinhos (retrato), da série “Casa 15”, concreto e cerâmica, 2022
- Chapisco (retrato), da série “Casa 15”, cimento e areia sobre concreto, 2022
- Escadinha, da série “Casa 15”, concreto, 2021
- Vermelhão, da série “Casa 15”, cimento, pigmento e resina acrílica sobre tela, 2021
- Cimento Queimado, da série “Casa 15”, cimento, pigmento e resina acrílica sobre tela, 2021
- Fundação, da série Casa 15, vídeo, 2021
- Futuro, da série Brasil país de todos, saco plástico de lixo branco e cabo de vassoura, 2021
- Coragem, da série Brasil país de todos, saco plástico de lixo branco e cabo de vassoura, 2020-2021
- Camas, da série “Guardar Silêncio”, sabão de coco, 2019-2020
A artista: Ana Hortides
Ana Hortides vive e trabalha no Rio de Janeiro. Doutoranda em Artes pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense (UFF), 2016, na qual se graduou em Produção Cultural, 2012. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV)/RJ.
Seu trabalho integra as coleções do Museu de Arte do Rio, do Museu de Arte Contemporânea de Britânia (MABRI), em Goiás, da Secretaria de Cultura de Jacarezinho, no Paraná, e do Acervo Rotativo, em São Paulo. Artista indicada ao Prêmio PIPA 2021 (RJ), premiada no 36º Salão de Arte de Jacarezinho, Paraná (2021) e no 1º Salão de Arte em Pequenos Formatos do MABRI, Goiás (2019). Bolsista do Programa Formação e Deformação da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (2021). Finalista do Concurso Garimpo, Revista DasArtes (2018).
Sua pesquisa se desenvolve em torno dos conceitos de casa, do íntimo, do habitar, da figura e da representatividade da mulher, da potência política do doméstico.
Piccola Galleria
O espaço é destinado a artistas da cena contemporânea e foi criado em 2016, com o intuito de incentivar a produção nacional e internacional.
Os artistas são selecionados por uma comissão de especialistas, que, nesta 5ª edição, contou com o curador e crítico de arte, Marcus Lontra; a historiadora e professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Rita Lage, e o artista e professor da Escola Guignard, Sebastião Miguel.
A proposta é apresentar e destacar trabalhos inéditos – pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, fotografias, instalações, performances e/ou videoarte – de artistas locais, brasileiros ou estrangeiros.
Além de Ana Hortides, outros cinco artistas foram selecionados na 5ª edição, e as mostras serão exibidas no calendário de 2022 e 2023.
Nesta edição, o processo de seleção foi realizado de forma 100% online. Além de agilizar o processo de inscrição, o formato permitiu que pessoas de todo o Brasil participassem, somando 194 inscrições, de todas as regiões do país.
As exposições selecionadas no 5º Programa de Seleção da Piccola Galleria são exibidas em um espaço da Casa Fiat de Cultura voltado ao incentivo permanente de expressões artísticas e contam com ações do Programa Educativo, desenvolvidas em conjunto com a curadoria de cada mostra.
São realizadas visitas mediadas para públicos agendados e espontâneos, além de ações especiais de comunicação em todos os canais da Casa Fiat de Cultura. A mediação é feita com recursos de acessibilidade, para ampliar o acesso do público e visibilidade dos artistas.
Nas quatro edições já realizadas, o Programa de Seleção da Piccola Galleria apresentou o trabalho de 22 artistas, abrigou mais de 300 obras e recebeu um público de mais de 300 mil pessoas.
A sala expositiva é um ambiente dedicado às artes visuais e sua criação marcou os 10 anos da Casa Fiat de Cultura. Situada ao lado do painel “Civilização Mineira”, de Candido Portinari, no hall principal da Casa Fiat de Cultura, o pequeno recinto é destinado a exposições de curta duração, mas com toda a visibilidade que a instituição enseja.
Local intimista e com grande circulação de público, conta com a chancela da Casa Fiat de Cultura e do Circuito Liberdade, um dos mais importantes corredores culturais do país.
A Casa Fiat de Cultura
A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições.
A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea.
Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em braille e atendimento em libras.
Mais de 60 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros.
Há 16 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico.
A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 3,5 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 580 mil participaram de suas atividades educativas.
SERVIÇO
Exposição “Fundação”, de Ana Hortides, na Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura
Período expositivo: 6 de dezembro de 2022 a 29 de janeiro de 2023
Visitação presencial: terça-feira, das 10h às 21h; quarta a sexta-feira, das 10h às 19h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h
Tour virtual no site: www.casafiatdecultura.com.br
Abertura da exposição: bate-papo virtual com a artista Ana Hortides
7 de dezembro, das 19h às 20h, no canal da Casa Fiat de Cultura no YouTube
Ingressos gratuitos com inscrição pela Sympla: bit.ly/BatePapoAnaHortides
Toda programação da Casa Fiat de Cultura é gratuita.
Casa Fiat de Cultura
Circuito Liberdade
Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – BH/MG
Horário de Funcionamento
Terça-feira, das 10h às 21h
Quarta a sexta-feira, das 10h às 19h
Sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h