Diante da instabilidade econômica, intensificada pela pandemia da covid-19, o empreendedorismo tem se apresentado como um fator importante para a recuperação da economia brasileira, assim como um alívio para as altas taxas de desemprego e queda de renda das famílias.
Em 2019, o Brasil já figurava como o país com o maior número de empreendedores individuais do mundo, segundo a Global Entrepreneurship Monitor.
O fato é que essas dificuldades impactam de forma ainda mais expressiva a população negra e parda que, ainda que seja maioria no país – 55% de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2017 -, encontra-se, em geral, em funções operacionais, atividades precárias, com salários mais baixos, e sem qualquer proteção da legislação trabalhista, frente à população branca.
De forma semelhante ao mercado de trabalho, na atividade empreendedora os negros são maioria na quantidade de MEI (microempreendedor individual) com atividades de subsistência, ou seja, o empreendedorismo por necessidade.
A exceção, menos de 5% das startups, são os negros que empreendem por oportunidade que se traduzem em iniciativas que são mais lucrativas.
Nesse cenário, buscar soluções para os problemas sociais e gerenciais relacionados ao empreendedorismo negro, de forma a fomentá-lo, se configura como uma alternativa inteligente para auxiliar no combate à desigualdade.
E foi com esse intuito que a questão tornou-se objeto de estudo do artigo “Black entrepreneurship: theoretical contributions, challenges, and opportunities to reduce social inequality”, pesquisa iniciada em 2020.
Aspectos de influência do Empreendedorismo Negro
Dedicado a compreender quais são os fatores que influenciam o empreendedorismo negro e quais os seus impactos, o estudo foi dividido em duas etapas.
A primeira mapeou, por meio de literatura acadêmica de alto impacto, os aspectos mais relevantes sobre essa temática; já a segunda, analisou quais aspectos interferem de forma positiva ou negativa nos negócios, de acordo com entrevistas com empreendedores negros.
A pesquisa indica como principais oportunidades: o fenômeno do empoderamento do negro como afirmação da identidade negra; oportunidades em um nicho de negócios pouco explorado; a diferenciação de produtos; o foco nos negros e suas demandas e o uso de redes sociais e boca a boca, fatores que têm estimulado o crescimento do empreendedorismo negro no Brasil. Por outro lado, a falta de financiamento; a pouca experiência em negócios e o racismo foram indicados pelos empreendedores negros como as principais barreiras.
Constatada a ausência de pesquisas sobre o tema, em âmbito nacional, e as poucas publicações em âmbito internacional, os resultados deste estudo se apresentam com significativa relevância.
A expectativa é que eles sejam base para o desenvolvimento de políticas públicas e iniciativas privadas que proporcionem melhores condições para o empreendedorismo negro prosperar.
Por fim, o trabalho também possibilita a aproximação da comunidade negra ao ecossistema empreendedor brasileiro, já sinalizados os pontos de atenção para que os futuros empreendedores trabalhem de forma assertiva em prol do sucesso de seus negócios.
*Prof. Dr. Edson Sadao Iizuka é coordenador do curso de Administração do Centro Universitário FEI, pesquisador do Programa de Pós-graduação em Administração, especialista em pesquisas sobre empreendedorismo e líder do projeto “Black entrepreneurship: theoretical contributions, challenges, and opportunities to reduce social inequality”.