I Construtalks debate sobre cenário econômico brasileiro na Construção

Na foto: Paulo e Lucas Borges, da Talude Engenharia; Uirá Falseti, Margarete Andrade, Marco França; Guilherme Tagliari, representante da MGF Incorporadora e Márcio Antônio Santana, da Marcca Engenharia (Crédito: Ana Marquez)

No último dia 14, aconteceu o I Construtalks, organizado pela empresa de consultoria Auddas, para debater sobre os desafios das Construtoras de  Pequeno e Médio portes  e o atual  cenário  econômico e sua repercussão no setor a Construção Civil, no hotel Meliá, em São Paulo, reunindo empresários das regiões Sudeste, Centro-oeste e Sul do país.

O evento foi aberto pelo sócio e fundador da Auddas, o engenheiro pela PUC/RJ Marco França, que enfatizou sobre a importância do setor para o PIB nacional e alertou para a desaceleração no primeiro trimestre em 2023, causada pela retração do crédito.

“A construção civil hoje representa 7% do PIB brasileiro, mas tivemos um  primeiro semestre duro no aspecto de crédito. O empresariado brasileiro tem desafios para manter um caixa saudável e o governo tem o desafio de controlar a inflação e impedir o aumento do desemprego para termos a retomada da expansão setorial”, afirmou.

Margarete Andrade, CFO da Auddas e especialista em M&A e Due Dilligence, apontou sobre o aumento do custo dos insumos, principalmente o concreto e o aço, que impactou diretamente na construção civil.

“O aço chegou a subir mais de 100 por cento. O desafio do setor com a inflação é conseguir manter o custo de obra orçado e garantir a margem do empreendimento. O empresariado brasileiro tem que saber a hora de comprar, de investir na obra, de fazer melhores negociações com fornecedores”, explicou.

Esta preocupação foi unânime entre os participantes. “A construção civil tem um ciclo de  maturação mais longo,  dadas as curvas de obra e de vendas, juntamente  com os processos de crédito, principalmente de  bancos como o  Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Isto dura de um a dois anos e neste período muita coisa acontece”, complementou Marco França.

Outro tema discutido foi a natureza artesanal da indústria da construção no Brasil, em que os proprietários das empresas desempenham múltiplas funções pela ausência de um time de gestão adequado, governança e processos bem definidos.

Eles são responsáveis por procurar terrenos, fazer incorporações imobiliárias, lidar com cartório e com a Caixa Econômica Federal, além  de muitas vezes liderar o time de  vendas.

No entanto, a gestão torna-se mais desafiadora à medida que o número de empreendimentos aumenta.

“O dono da construtora pequena e média acaba sendo um coringa. E quando possuem de dois a quatro empreendimentos é fácil, mas não conseguem ter uma visão de futuro para quando tiverem com 30, 50 negócios simultaneamente. Como eles devem se preparar hoje para chegar lá? E esse evento vem ao encontro desse desafio, como forma de prepará-los”, declara Andrade.

França ressaltou a importância de estruturar um planejamento eficaz nas construtoras. “Planejamento é a maior dificuldade que a gente encontra nas empresas.

Nem sempre o dono do negócio tem consciência do que é necessário.

São várias frentes de trabalho que precisam estar maduras para um resultado decente e acurado de planejamento, incluindo boa controladoria, controles de qualidade, integração da engenharia com o departamento financeiro e capacitação da média gerência para os desafios futuros.

A implementação de um Conselho de Administração ou mesmo do Conselho Consultivo com regras e papéis claros ainda é um sonho distante.

Isto fica mais urgente  quando a empresa passa por necessidades de relacionamentos com novos agentes econômicos como assets ou lançamento de um CRI na B3 ou com novos sócios em suas SPEs (Sociedades de Propósito Específico).

Margarete Andrade falou, também, que as companhias de pequeno e médio portes, em sua maioria são familiares ou de um dono só, e precisam olhar para o crescimento, com uma gestão eficiente.

“Eles precisam visualizar onde querem chegar daqui a dois ou três anos, por isso é importante traçar um plano de  capacitação e profissionalização das equipes, de implementação de melhorias de processos e introdução de tecnologia e sistemas”.

Uirá Falseti, especialista em Transformação Digital  pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), mestre em Engenharia pela USP e consultor na Auddas, abordou sobre a importância em investir em tecnologia mesmo em um cenário desafiador.

“Há melhorias evidentes em toda a cadeia da construção, desde a concepção em projetos, orçamento, suprimentos, acompanhamento da construção e até o pós obra”.

Ele ressaltou que muitas empresas da construção são resistentes à adoção de novas tecnologias devido à falta de conhecimento e experiência na implementação.

Além disso, Falseti destacou que o investimento inicial em hardware, software e treinamento pode ser considerável, mas os benefícios são imensos quando a tecnologia é bem incorporada aos processos existentes.

“Algumas empresas hesitam em fazer esse investimento devido a preocupações sobre o retorno financeiro. É necessário redesenhar os fluxos de trabalho para incorporar as novas ferramentas de maneira eficiente. Se não houver uma cultura voltada para inovação e experimentação, as dificuldades serão maiores para implementar essas novas tecnologias”, disse Uirá que enfatizou, ainda, que a mudança de mindset dos líderes e o reconhecimento dos benefícios potenciais da tecnologia quebrarão os obstáculos na área de construção.

“E se as empresas não fizerem isto, certamente ficarão para trás e perderão competitividade. As companhias de maior porte já experimentam gatilhos de inovação como os processos de tecnologia BIM, orçamento Lean. Não é à toa que suas margens diretas são maiores”, conclui.

Após uma intensa troca de conhecimentos e experiências, aliadas a uma compreensão abrangente do panorama macroeconômico e financeiro do setor, os participantes do Construtalks conseguiram estabelecer prioridades estratégicas de médio e longo prazos para suas respectivas empresas.

Marcio Antônio Santana, da renomada Marcca Engenharia, com sede em Goiânia, expressou sua aprovação em relação à atividade e sugeriu que o encontro pudesse ser realizado de forma itinerante, a fim de proporcionar um conhecimento mais aprofundado sobre a realidade de cada construtora.

Por sua vez, Guilherme Tagliari, representante da MGF Incorporadora, com sede em Bento Gonçalves, destacou a importância do encontro.

“Mesmo que as empresas participantes possuam atuações, segmentos e posicionamento geográficos da construção civil distintos, as dificuldades enfrentadas são semelhantes. E sem dúvida, essas reflexões denotam a relevância e o impacto positivo do evento no setor da Construção Civil”.

Marco França, idealizador do encontro (Foto: Divulgação)
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