O remédio doce das linhas de crédito emergenciais e seus efeitos colaterais

Com o objetivo de minimizar os impactos econômicos causados pela pandemia da Covid-19, o Governo Federal anunciou em outubro de 2021, que o conjunto de medidas de estímulo lançado na ocasião com a intenção de ajudar empresas, sobretudo micro e pequenas, a passarem pelo grave período de perda de vendas decorrente da crise.

Nesse contexto, já teria disponibilizado R$ 1,169 trilhão em linhas de crédito, fundos garantidores e outros subsídios econômicos.

Quase dois anos após o anúncio, os alarmantes números da inadimplência no Brasil não deixam dúvida de que a estratégia de financiar o caixa de empresas afetadas durante a crise falhou novamente.

Antes de iniciar qualquer análise sobre os problemas econômicos gerados pela pandemia a negócios brasileiros, temos de reconhecer que eles já não vinham bem.

As empresas do país vivem, há décadas, um quase interminável momento de crise em função de sua baixa produtividade, das idas e vindas de uma economia que nunca engrena de fato, de sua gestão temerária e do custo Brasil. A pandemia não gerou esse quadro. O que ela fez foi gravá-lo.

Em uma comparação simplória, podemos imaginar uma pessoa que estivesse em dificuldades financeiras por estar sem emprego, por exemplo, e alguma instituição financeira fizesse um empréstimo a ela.

Mesmo que a juros baixos, no qual, a linha de crédito teria capacidade de financiar três meses das suas despesas domésticas.

Neste contexto, haveria então um curto período em que essa pessoa honraria seus compromissos financeiros. Todavia, se ao final desses três meses ela não tivesse encontrado um emprego, estaria em dificuldades ainda maiores.

Pois, além das suas despesas mensais recorrentes não serem pagas, ainda teria obrigações adicionais com as parcelas do empréstimo contraído.

O mesmo acontece no caso anterior, fazer crédito para empresas que já vivem no prejuízo pela baixa atividade econômica ou ineficiência, não resolve os efeitos da crise, mas sim, os posterga.

E agrava, à medida em que, o quadro consolidado de prejuízos é aditivado pelos custos financeiros das operações de crédito. Vemos, portanto, que crédito emergencial não salva empresas.

Prova disso são os dados do SERASA que remetem à solvência de negócios brasileiros comparando o momento atual com a fase mais aguda da pandemia em termos de retração econômica:

Em relação ao primeiro trimestre de 2021, o primeiro trimestre de 2023 apresenta um aumento de 23,7% no número de falências decretadas e 23,24% nas recuperações judiciais deferidas.

Já os números de inadimplência saltaram 11,52% se comparado o mês de abril de 2023 com outubro de 2021 (mês em que o governo divulgou os estímulos à economia na ordem de R$ 1,169 trilhão), atingindo o recorde da série histórica da pesquisa do SERASA com mais de 6,5 milhões de empresas negativadas.

Tal qual no exemplo citado de uma pessoa física lidando com o orçamento doméstico, o acesso ao crédito para que empresas pudessem lidar com a escassez de oportunidades no período da crise, resolveu o problema de forma superficial e temporária.

A um custo muito alto, essas medidas apenas retardaram e agravaram o topo da crise, que ainda pode estar por vir.

Se fosse diferente, hoje, passada a pandemia, as empresas financiadas já estariam conseguindo honrar seus compromissos financeiros, e isso claramente não está acontecendo.

Crédito sem a combinação de gestão, produtividade e crescimento econômico nunca salvou e nem salvará empresas dos efeitos de uma crise.

O crédito por si, em situações econômicas agudas como a causada pela pandemia, é um analgésico com ação de curto prazo e fortes efeitos colaterais.

Todos querem o alívio imediato, mas poucos pensam em como lidar com as dores de cabeça do final do efeito anestésico.

Entre os efeitos colaterais de iniciativas artificiais apenas na esfera financeira para acelerar a atividade das empresas, se destacam as “dores de cabeça” com a escalada da inflação pelo aumento da circulação de moeda na economia e o deslocamento de recursos que deveriam estar alocados na produção para o mercado financeiro em forma de juros e multas de repactuações de operações de crédito insolventes.

Afinal de contas, o empresário, mesmo sem poder, quer pagar a sua dívida.

Outro exemplo preocupante, agora voltado para o futuro, é o anúncio recente de que o BNDES está viabilizando linhas de crédito para pequenas e médias empresas e microempresas individuais na ordem de R$ 21 bilhões por meio do fundo garantidor FGI-PEAC, que avaliza até 80% das operações de crédito.

Porém, outro dado chama a atenção: das quase 15 milhões de MEIs ativas no Brasil, cerca de 5 milhões estão inadimplentes com a contribuição mensal ao INSS que varia entre R$ 66 e R$ 164,40, sendo o número máximo para a chamada MEI caminhoneiro.

Quem, a não ser entidades financiadas com dinheiro público, garantiria operações de crédito para essas empresas? A que custo isso está sendo feito? Será mesmo que o crédito sozinho salvará esses frágeis negócios em definitivo?

Tudo o que se pode concluir sobre isso, é que teremos mais empresas inadimplentes com “linhas de crédito salvadoras” no médio prazo, e o cerne da questão, que é a performance desses negócios, continua fora da pauta.

O crédito empresarial feito em sua finalidade original, visa fomentar a manutenção e o crescimento de boas empresas por meio da disponibilização de recursos extras às suas receitas para melhorar a produtividade, expandir a atuação ou financiar problemas pontuais de fluxo de caixa do negócio, normalmente ligados à sazonalidade.

A concessão de crédito para finalidades que não estejam basicamente em linha com esses tópicos, não ajudará. Crédito não salva empresas, o que salva empresas é economia crescente, boa gestão e produtividade.

Finalmente, os indicadores mais relevantes sobre concessão de crédito não estão relacionados aos volumes concedidos, mas aos valores liquidados, pagos, de fato, pelos tomadores.

A volta do recurso do tomador ao credor é um indício um pouco mais sólido de que o crédito cumpriu a sua finalidade econômica e, talvez, social.

O que não for isso, será aumento nos já alarmantes números de inadimplência e cada vez mais das restrições ao consumo e à atividade econômica no médio prazo. É hora de refletir sobre isso.

Elber Laranja (Foto: Divulgação)

Por Elber Laranja, sócio-fundador da fintech de crédito Antecipa Fácil, docente e palestrante sobre empreendedorismo, finanças e inovação. É formado em administração de empresas e pós graduado em gerenciamento de projetos pela Fundação Getúlio Vargas.

Sobre a Antecipa Fácil

Com o objetivo de facilitar o acesso de empresas a capital de giro, a Antecipa Fácil foi fundada em dezembro de 2016 por Elber Laranja e Thiago Chiliatto.

A fintech, que foi criada em Campinas/SP, é especializada na antecipação de recebíveis.

E isso tudo de uma forma online, menos burocrática e que alcança empresas de todo o país.

Atualmente, com quase seis anos de mercado, a startup faz uma média de R$ 2 milhões em antecipação por dia.

Além disso, mais de 300 financiadores de todo o Brasil colaboram no processo de aceleração da oferta de crédito como uma forma de investimento.

A empresa quer tornar-se referência no mercado digital de direito creditório no Brasil e segue investindo na inovação de seus serviços, apostando em soluções mais econômicas e seguras, tendo em vista melhorar a experiência com os seus públicos-alvo.

Sair da versão mobile