Nelson Teich assume ministério da saúde: o que muda na economia?

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Foto Reprodução: Erasmo Salomão / ASCOM MS

Tomou posse na última quinta-feira (17) o mais novo ministro da saúde, Nelson Teich, que passa a ocupar o lugar de Luiz Henrique Mandetta.

Empresário no setor da saúde no Rio de Janeiro e oncologista, o médico ressaltou o compromisso de trabalhar de forma mais unificada com os demais ministérios para a composição dos determinantes sociais da saúde, levando-se em consideração fatores sociais e econômicos, a fim de garantir o bem-estar das pessoas.

Formado em medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e especializado em Oncologia pelo Instituto do Câncer, o novo ministro da saúde assumiu o cargo em meio ao “olho do furação” ocasionado pelo novo coronavírus.

Considerado um profissional competente e respeitado entre os colegas, Nelson Teich sabe que grandes serão os desafios que virão pela frente, mas acredita estar bem preparado.

“Recebo essa missão e é uma honra estar aqui. Hoje começo minhas atividades e vou trabalhar muito na qualidade da informação e na interação de equipes”, destacou o novo ministro na posse de cerimônia, ao lado do presidente da república, Jair Bolsonaro.

Isolamento vertical ou horizontal?

Em um artigo publicado em seu Linkedin (plataforma de rede social), no começo de abril, Nelson Teich afirma que o isolamento horizontal (ou seja, isolamento de todos) é a medida mais segura para o atual momento, até conseguir entender melhor a doença e como combatê-la. O artigo está com o título: “COVID-19: Como conduzir o Sistema de Saúde e o Brasil“

Tal discurso, entretanto, precisa se adequar ao discurso do presidente da república que defende o isolamento vertical para que a economia possa voltar a girar. Isolar, apenas, as pessoas que estão no grupo de risco, tais como idosos ou pessoas com doenças pré-existentes.

O que diz o Economista sobre a posse de Nelson Teich e os possíveis impactos para a economia?

Buscando aprofundar um pouco mais sobre os impactos da troca de ministro da saúde para a economia, a Revista Capital Econômico fez uma entrevista exclusiva com o economista Leonardo Benzecry, que traz importantes contribuições acerca do tema. Confira!

Revista Capital Econômico: Foi um bom momento para troca de ministro da saúde?

Leonardo Benzecry: O grande ponto em questão é que o atual ministro não é político. E isso já melhora bastante, porque as orientações não serão em diretrizes políticas. Por isso considero a iniciativa de troca de ministro uma decisão acertada para celeridade da retomada econômica do país.

Não se trata aqui de polarização a saúde e a economia. Trata-se de decisões técnicas, baseadas em dados para melhores tomadas de decisões.

No entanto é preciso muita cautela quanto às expectativas, já que não se sabe o que está por vir no que tange à reação na ponta, ao lado dos secretários.

Revista Capital Econômico: Quais são os impactos para a economia?

Leonardo Benzecry: A gestão do ministério da saúde anterior tinha déficits, no que se diz respeito ao planejamento. E, com a crise do coronavírus, o que antes, era um assunto que deveria ser tratado com muito cuidado, acabou virando plataforma para aqueles que estavam sem popularidade.

Avaliando com um olhar macro, a questão está muito além da gestão da doença e recuperação da economia. Trata-se de tomadas de decisões incongruentes, apoiadas no “achismo”.

Está se trabalhando com “previsões” sobre o pico da doença, e é justamente aí que entra o problema: a estimativa.

A orientação precisa ser mais técnica e menos política para que as tomadas de decisões possam ser mais certeiras.

Não existe feeling ou “achismo” sobre o pico da doença. O que falta é gestão e planejamento.

Não há teste o suficiente no Brasil. Não tem uma política de testagem. Então, até quando vamos ficar sempre empurrando o problema pra frente e ficar na falta de definição? Ficar em uma situação que não saiu do lugar?

Não há uma diretriz clara e definida.

O Pico sempre vai ser para frente sobre o aumento do contágio ou achatamento da curva. Logo se as pessoas não voltarem para a rua nunca saberemos, de fato, se esta foi a decisão mais ou menos assertiva.

Revista Capital Econômico: Acredita-se que esteja faltando planejamento estratégico para o combate à doença e, consequentemente, retomada da economia?

Leonardo Benzecry: Sem dúvidas, falta estratégia para o Brasil.

O país não tem suporte para produzir máscaras e álcool em gel o suficiente (o próprio ministério tinha que ter fornecedores locais para suprir esta cadeia) e isso é uma gestão do próprio plano de estado. Já se tira por aí.

E não há plano estratégico aparente de gestão do Ministério da Saúde para insumos.

Planos para os produtos básicos. Estratégia na linha de produção das próprias indústrias internas. Não faz muito sentido ter de depender de outros países, outras matrizes de produção, de outros continentes para a produção de insumos básicos, como máscaras, por exemplo. E é aí que entra um desequilíbrio aparente de gestão.

Uma possibilidade de epidemia ou mesmo uma pandemia, como o coronavírus é uma questão que já deveria ser discutida há muito tempo no campo dos cenários e possibilidades. E não há plano estratégico para insumos. Planos para os produtos básicos. Estratégia na linha de produção das próprias indústrias internas. Não faz muito sentido ter de depender de outros países, outras matrizes de produção, de outros continentes para a produção de insumos básicos, como máscaras e demais EPIs de saúde. E é aí que entra um desequilíbrio aparente de gestão.

Agora, falando em termos de economia, tendo orientação técnica, tem como tomar atitudes mais “linkadas”, porque uma coisa anda com a outra. As duas coisas andam em paralelo. Não dá para fechar toda economia, porque será difícil conseguir mantê-la.

Quando começa a deixar de uma forma política para passar a tratar o assunto de uma maneira mais técnica, haverá outros parâmetros para tomadas de decisões mais estratégicas.

Revista Capital Econômico: o que esperar daqui para frente?

Leonardo Benzecry: A pandemia teve início no comecinho de março e defendeu-se o isolamento social na metade deste mesmo mês. Agora já estamos na metade de abril e, só aí, bem dizer, vai quase que um mês e meio. Considerando que o Brasil só retoma as atividades depois do carnaval, um trimestre do ano já se perdeu.

Sabe o que isso significa em termos de economia? Um trimestre do ano que já se perdeu em geração de renda e PIB.

Se retornássemos as atividades hoje, por exemplo, não significa que iríamos retomar a economia logo de cara. Precisa de um tempo de maturação. Então na realidade se perdeu quase meio ano de não geração de valor capacidade normal da economia.

Cinco meses de não geração de renda na economia não é recuperada facilmente. Muitos negócios já estão sendo impactados negativamente: companhias áreas, setor de turismo, indústrias em geral…. sem contar os muitos negócios que já quebraram.

O grande problema é que estamos chegando na virada para o segundo semestre. O segundo semestre representa historicamente mais de 60% dos resultados do ano para grande parte dos setores da economia, por conta do calendário sazonal. Se a economia não retomar a partir do segundo semestre temos um problema sério.

A economia está hibernando. E, por enquanto, não temos aqui uma crise de liquidez, mas de guerra; mas ela pode se tornar uma crise de liquidez a médio prazo.

O dinheiro vai parar de girar, porque as pessoas vão consumir menos.

Podemos até presenciar uma mudança de dinâmica, provocada pelo avanço tecnológico, como o aumento do comercio online, ensino a distância, entre outros. Tudo isso tem seus benefícios, mas o maleficio é muito maior, se, a curto prazo, não houver reversão.

Sobre Leonardo Benzecry

Leonardo Benzecry é sócio-fundador da Celera Partners. Formado em economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), é especialista em economia e finanças. Possui especialização em finanças pela COPPEAD/UFRJ e pós-graduação em economia empresarial, finanças e economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Sobre o novo ministro, Nelson Teich

Nascido no Rio de Janeiro, (RJ), Nelson Teich Possui graduação em medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ – 1980) e duas especializações: em Medicina Interna (1985-1987) e em Oncologia Clínica (1987-1990). Também fez dois cursos na área de gestão e liderança da saúde na Escola de Harvard (2005 e 2016) e outros cinco cursos estratégicos nas áreas de prestação de cuidados, mensuração de valores e gestão de projetos de saúde pela instituição no estado de Boston, nos Estados Unidos, e em Xangai, na China.

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