O alto comando das empresas brasileiras ainda tem baixa representatividade de mulheres e negros na liderança de suas operações.
É o que revela estudo inédito realizado pela Page Executive, unidade de negócio do PageGroup especializada em recrutamento e seleção de executivos para alta direção (o chamado “C-Level”), em parceria com a Fundação Dom Cabral.
De acordo com a pesquisa Trajetória de CEOs no Brasil, uma em cada 10 mulheres ou negros ocupa a posição de CEO no País. O levantamento detecta ainda que 90% dos CEOs das empresas brasileiras são homens e brancos.
“O mercado de trabalho reflete as transformações da sociedade. A falta de políticas organizacionais e de interesse no passado fez com que tivéssemos muito menos diversidade hoje. Vivemos o resultado da construção de gerações. Agora as empresas estão focadas na diversidade, dando oportunidades de desenvolvimento para isso”, comenta Ricardo Basaglia, diretor geral da Page Executive.
Os dados obtidos neste estudo foram coletados por meio de formulário de pesquisa aplicado no segundo trimestre de 2021 com 149 CEOs ativos de empresas brasileiras de diversos setores da economia como Indústria, Finanças, Saúde, Tecnologia, Transportes, Engenharia e Arquitetura, Agronegócio, Minas e Energia, Alimentos, entre outros.
Para o diretor do Centro de Liderança da Fundação Dom Cabral, Paul Ferreira, o estudo propicia um olhar mais detalhado sobre a realidade da falta de diversidade nas organizações.
“Considerando as trajetórias dos CEOs em nosso estudo, especificamente suas três funções anteriores, encontramos vários caminhos que permitem chegar à função principal. A existência de tais caminhos mostra que os conselhos e acionistas estão utilizando uma rede cada vez mais ampla para definir os perfis dos próximos CEOs, e também revela os desafios estruturais que impedem algumas empresas de realizarem avanços mais significativos em suas causas de diversidade e inclusão. Existe infelizmente uma escassez de diversidade dos executivos nas funções que conduzem com maior probabilidade a cadeira de CEO”, afirma Ferreira.
Somente 8% dos respondentes são mulheres e 89% dos profissionais se identificaram como brancos. Além disso, os times que trabalham direto com CEOs são, em geral, pequenos e também pouco diversos: 70% deles têm até 20 pessoas. Em 80% dos casos menos da metade das pessoas que se reportam ao CEO são mulheres.
A baixa presença de mulheres no pipeline de liderança dificulta a sucessão para a posição de CEO. Com volumes equiparados entre homens e mulheres na base da pirâmide organizacional, as mulheres avançam para os níveis de primeira gestão e a representatividade vai perdendo força nos cargos de média liderança:
Fonte: Let’s get real about equality: when women thrive 2020 global report, Mercer, 2020.
“Existe uma preocupação cada vez maior por parte das empresas e um movimento ativo em busca de diversidade nas lideranças, c-level e conselho. A diversidade passa por gênero, uma bandeira sendo levantada há muito tempo, por etnia, com mais movimentos afirmativos, e de pensamento. Mesmo dentro de um gênero ou grupo étnico é preciso buscar pessoas com backgrounds e origens diferentes. Isso ajuda a trazer olhares distintos e formas de pensar para as empresas”, comenta Maira Campos, diretora executiva da Page Interim, divisão especializada no recrutamento de terceiros e temporários, parte do PageGroup.
CEOs mulheres
Raio-X da CEO no Brasil
• Branca
• Brasileira
• Entre 41 e 60 anos de idade
• Tem graduação nas áreas de negócios ou engenharia
• Possui especialização, MBA, mestrado profissional ou outra pós-graduação lato sensu
• Trabalha em São Paulo
• Responde pela operação no Brasil
• Tem entre 5 e 20 pessoas reportando diretamente, sendo que há uma tendência maior de haver outras mulheres reportando diretamente.
• Levou pelo menos 10 anos para se tornar CEO pela primeira vez
• Não teve uma experiência de trabalho fora do Brasil
As CEOs respondentes da pesquisa têm, em média, 49 anos, sendo a mais jovem com 41 anos e a mais longeva com 60 anos. Todas se identificam como brancas e 92% trabalham em empresas com sede na capital paulista.
Suas formações acadêmicas são equivalentes às dos CEOs homens, sendo que 38% possuem graduação em Administração de Empresas; 31% em Engenharias e 77% possuem especialização, MBA, mestrado profissional ou outra pós-graduação lato sensu. No entanto, 69% nunca atuaram em uma posição fora do Brasil.
“Apesar de um aumento de mulheres investindo em formações equivalentes às dos homens, o gap de gênero permanece nas taxas de empregos. Barreiras estruturais e vieses culturais contribuem para que isso aconteça dentro das empresas”, diz Maira, da Page Interim.
As responsabilidades dos trabalhos não remunerados, como a criação dos filhos e trabalho da casa, acabam dificultando a concorrência nas oportunidades de trabalho, já que recaem desproporcionalmente sobre as mulheres.
Somente 1,5% dos homens realizam esse tipo de trabalho no mundo, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (ILO) . O estudo confirma ainda que mulheres com filhos têm menos probabilidade de serem contratadas em comparação a homens com filhos e mulheres sem filhos.
Proporção de mulheres reportando à CEO
Em empresas nas quais as CEOs são mulheres, há uma tendência maior de haver outras mulheres reportando diretamente.
A pesquisa revela que a maioria se tornou CEO da empresa que fundou (38,5%) ou foi indicada internamente (30,8%). São 76,9% os que respondem pela operação da empresa no Brasil, equiparado ao dado geral da pesquisa, de 73,15%.
A trajetória de carreira até a posição mais alta da companhia
De acordo com a percepção da maioria dos CEOs brasileiros respondentes, é possível atingir a posição de forma mais fácil e mais rápida do que em outros tempos.
São 61,07% os que discordam que é impossível atingir a posição de CEO sem mudar de empresa. No entanto, somente 20% dos respondentes conseguiram chegar no cargo trabalhando em apenas uma empresa.
“Hoje em dia há uma maior transparência sobre as informações da empresa, uma cultura organizacional mais aberta, possibilidade de participar de mais decisões. Isso faz com que o profissional entenda o que é esperado dele e o que precisa ser feito. O achatamento das hierarquias, a humanização do CEO e o mundo mais dinâmico fazem com que exista uma transformação rápida gerando mais oportunidades”, comenta Ricardo Basaglia, da Page Executive.
Somaram 68% dos respondentes os que trabalharam em até três empresas antes de ser CEO e 66% deles trabalharam cerca de 20 anos até atingir a posição pela primeira vez.
“Em geral, demora algum tempo para chegar numa posição de CEO por se tratar de uma carreira linear. O profissional passa dois terços da carreira se preparando para isso. Há exceções em determinados setores da economia, configurações de empresa em que o CEO faz parte da família ou é o próprio fundador, além de companhias que crescem muito rápido e dão oportunidade para quem está lá dentro”, comenta Paul Ferreira da Fundação Dom Cabral.
“Mais do que quantificar o tempo, um CEO não se torna preparado sem ter passagens sólidas, ter vivido desafios com começo, meio e fim. Nem sempre um longo período de trabalho quer dizer que tenha passado por isso”, observa Ricardo Basaglia, da Page Executive.
CEOs da Pandemia
A pandemia da COVID-19 intensificou ainda mais o gap de gênero nas posições de trabalho. De acordo com o levantamento, o ano de 2020 foi marcado pela indicação de homens para o cargo de CEO e, em 2021, de profissionais mais velhos.
A maioria já veio do ecossistema da empresa (58,81%) e os demais foram indicados por headhunters (17,65%) e networking (23,53%).
“Além das habilidades comumente demandadas para a posição, nesse período observamos uma atenção especial para o perfil do CEO hands-on, aquele que tem capacidade de atuar junto ao conselho e acionistas na definição estratégica e também de liderar as equipes na operacionalização dos planos, transitando entre estratégia e execução”, comenta Humberto Wahrhaftig, do PageGroup.
Segundo o Instituto de Economia do Trabalho , em um ano, mulheres nas principais economias mundiais tinham 24% mais probabilidade de perder seus trabalhos do que os homens na pandemia. Com escolas fechadas, o cuidado em tempo integral passou a ser responsabilidade dos pais que trabalham, em especial as mulheres.
Elas estão dedicando 15 horas a mais de trabalho não remunerado por semana do que os homens, de acordo com o levantamento do Boston Consulting Group de 2020.
Políticas de suporte familiar são cada vez mais cruciais para aumentar a participação de mulheres nas taxas de emprego e, portanto, levando a uma trajetória profissional rumo à posição mais alta da companhia.
O Estudo aborda outras questões sobre a trajetória da carreira de CEOs, tais como o perfil de formação acadêmica, modelos de sucessão de CEOs, estilo de liderança que são mais comuns devido a formação, a hierarquia que a alta liderança responde, seja conselho, proprietário ou acionistas e a possibilidade do CEO ser transferido para o Conselho de Administração da Empresa o que de acordo com os pesquisadores e especialistas mudou muito.
“Há 10 ou 15 anos o executivo assumia a posição de CEO, depois se tornava conselheiro e presidente de conselho. Hoje em dia, a carreira de conselheiro teve uma explosão com o crescimento das áreas de governança, que levaram à formação de conselhos mais robustos.
Os executivos podem assumir posições de conselho paralelamente ou mesmo pararem suas carreiras de CEO para se dedicar a um ou vários conselhos. Isso tem a ver com a tendência de carreiras múltiplas, além de aumentar o revenue para o executivo”, comenta Paul Ferreira, da Fundação Dom Cabral.
“Profissionais que estão na posição de CEO costumam se manter muito ativos profissionalmente e atentos ao que está acontecendo ao seu redor. Temos percebido cada vez mais essa participação em conselhos, que exige do executivo uma mudança de postura. O desafio está em deixar o papel de liderar para definir estratégia sem estar no dia a dia. Mesmo sendo um excelente executivo com grandes responsabilidades e conquistas como CEO, o profissional pode não conseguir o mesmo desempenho como conselheiro. Outro caminho possível de carreira é o de empreender, tanto em algo com sinergia com o que já faz quanto em um sonho antigo”, diz Heloisa Villibor, da Page Executive.
Com a carreira de conselheiro em alta, vem se quebrando o paradigma de trazer somente quem já tenha sentado na cadeira de CEO.
Esse movimento abre espaço para a participação de especialistas de várias áreas ou ainda comunicadores, influenciadores, artistas e ativistas, que têm um papel relevante ao agregar diversidade e repertório à estratégia da companhia, como a cantora Anitta no conselho do Nubank e a influenciadora Chiara Ferragni no grupo italiano Tod’s. Também há exemplos dessa abordagem no nível C-Level das companhias, como a cantora Iza como diretora criativa da Olympikus, a atriz Marina Ruy Barbosa como diretora de moda da ZZ Mall do grupo Arezzo&Co e, mais uma vez, a cantora Anitta como head de Criatividade e Inovação da Skol Beats.
Sobre a Page Executive
A Page Executive é a empresa de Executive Search do PageGroup, uma das mais conhecidas e respeitadas consultorias de recrutamento especializado do mundo, a Page Executive possui escritórios em 6 países da América Latina: Argentina, Brasil, Colômbia e Chile, além de México e Peru.
Dedicados ao recrutamento de alta gestão e liderança, os líderes de cada prática oferecem amplo conhecimento em suas áreas de atuação.
A equipe da Page Executive concentra-se, exclusivamente, em processos de sucessão e criação de novas posições para conselhos, presidência e diretoria.
Somos reconhecidos no mercado por nosso eficaz método de pesquisa, velocidade e flexibilidade de entrega.
Além das altas taxas de sucesso na condução de importantes projetos para as empresas, também nos dedicamos a entregar a melhor experiência aos nossos candidatos.
Sobre a Fundação Dom Cabral
A Fundação Dom Cabral é uma escola de negócios brasileira que há 45 anos tem a missão de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade por meio da educação, capacitação e desenvolvimento de executivos, empresários e gestores públicos. Em 2020, a instituição ficou em 9º lugar no ranking de educação executiva do jornal britânico Financial Times.
Desta forma, consolidou sua posição como a melhor escola de negócios da América Latina e a mais bem colocada do Brasil. Somente em 2020 passaram pela FDC mais de 20 mil profissionais entre executivos, empresários e gestores públicos.
No campo social, a FDC conta com iniciativas de desenvolvimento, capacitação e consolidação de projetos, líderes e organizações sociais, contribuindo para o fortalecimento e o alcance dos resultados pretendidos por essas entidades.
Dessa forma, em 2020 a escola executiva lançou o FDC – Centro Social Cardeal Dom Serafim, concebido para apoiar jovens em situação de vulnerabilidade social, empreendedores populares, organizações sociais e seus gestores, por meio do desenvolvimento e capacitação.