Mercado financeiro brasileiro: cortes de gastos, tecnologia e desafios do futuro

Em painel do CNC Global Voices, especialistas discutem equilíbrio fiscal, avanços tecnológicos e competitividade do setor, destacando desafios e oportunidades para atrair investimentos e impulsionar o crescimento econômico do Brasil

Foto: Divulgação

Os desafios e as oportunidades do mercado financeiro brasileiro foram tema de um painel realizado durante o CNC Global Voices, que reuniu líderes de grandes instituições financeiras para debater temas cruciais para o futuro do setor. Com foco em cortes de gastos, inovação tecnológica e competitividade, o evento também abordou a necessidade de equilíbrio fiscal, transformação digital e o potencial do Brasil como destino de investimentos globais. Mediado por Márcio Gomes, âncora da CNN Brasil, o painel contou com as contribuições de José Berenguer (CEO do Banco XP), Eduardo Alcalay (CEO do Bank of America Brasil) e Bruno Funchal (CEO do Bradesco Asset Management).

Corte de gastos e equilíbrio fiscal

A necessidade de um ajuste fiscal sólido foi unanimidade entre os painelistas. José Berenguer destacou a importância de cortar despesas: “É o que faz parte da vida de todo mundo.

Precisamos de um pacote fiscal crível, que mostre viabilidade sem depender de cortes arbitrários em benefícios. Esse é o diferencial que pode atrair o capital global para o Brasil.” Segundo ele, a volatilidade econômica e dúvidas sobre o futuro fiscal elevam o prêmio de risco, afastando investidores e prejudicando a competitividade do País.

Bruno Funchal reforçou a urgência de atacar o “excesso de despesas obrigatórias”, ressaltando a importância de harmonizar o arcabouço fiscal com os gastos.

“Menos juros significam mais consumo, mais investimentos e geração de emprego e renda”, afirmou. Ele também pontuou que o Brasil ainda carece de credibilidade para sustentar um modelo de crescimento sustentável, mas que existe grande interesse global em investir no País, “faltando apenas um empurrãozinho para dissipar as incertezas”.

Eduardo Alcalay acrescentou que, para ganhar credibilidade, o governo precisa avançar com medidas estruturais: “O que os brasileiros esperam são ações que equilibrem a agenda fiscal e abram espaço para mais investimentos sociais, promovendo crescimento de renda e atividade econômica”.

O que esperar para 2025 e segurança jurídica

Os painelistas também discutiram as expectativas econômicas e o impacto de cenários globais no Brasil. Bruno Funchal apontou a influência de fatores externos, como as políticas nos Estados Unidos:

“Temos incertezas lá fora, como a agenda do governo Trump, mas o Brasil pode se beneficiar como alternativa no comércio global. Ainda assim, devemos enfrentar um cenário de dólar forte e juros altos, o que limita o crescimento para algo abaixo de 2%. Nossa política fiscal precisa se ajustar para sermos mais competitivos”.

José Berenguer destacou que o que está ao alcance das empresas é focar no próprio desempenho:

“O que importa é o que eu consigo controlar: meu negócio, minha equipe e meus clientes. Temos que trabalhar para ser mais competitivos e melhores para os clientes.” Ele também chamou a atenção para a necessidade de segurança jurídica no Brasil, lembrando uma frase de Pedro Malan: “O Brasil é um país curioso, onde até o passado é incerto. Como sociedade, precisamos exigir do Judiciário mais responsabilidade”.

Eduardo Alcalay complementou com uma visão global: “Com dois conflitos regionais e uma nova agenda nos EUA, o mundo deve enfrentar mais inflação e juros elevados. Isso exige disciplina das empresas e do setor público. O governo tem a oportunidade de surpreender positivamente com medidas que reforcem a credibilidade e promovam crescimento econômico”.

Transformação tecnológica no mercado financeiro

Outro ponto central foi a evolução tecnológica e seu impacto no mercado financeiro. José Berenguer enfatizou a relevância do PIX e do Open Finance, elogiando a agenda pró-cliente do Banco Central:

“O pêndulo, antes voltado para o sistema financeiro, está se movendo cada vez mais para o cliente. O que foi feito aqui, com o PIX e Open Finance, é único no mundo. Isso traz mais eficiência e competitividade”.

Bruno Funchal complementou, afirmando que o avanço na coleta e uso de dados tem transformado o setor. “A inteligência artificial (IA) mudou o jogo. O volume de dados é enorme, e a capacidade de processamento atual permite identificar perfis de consumo de forma muito mais eficiente. Quem souber aproveitar isso vai liderar o mercado”, avaliou.

Eduardo Alcalay concordou, mas alertou que a tecnologia é tanto uma oportunidade quanto uma ameaça. “Se você usa IA, reduz custos e aumenta a competitividade, mas quem não souber aproveitar ficará para trás. O Brasil está cada vez mais próximo de um cenário em que a papelada tradicional será substituída pela tokenização, democratizando o acesso a pequenos investidores”.

Crescimento do crédito e educação financeira

Sobre crédito, Berenguer e Funchal convergiram na análise da necessidade de ampliar o acesso e educar a população. Berenguer destacou a baixa educação financeira como um dos entraves para o desenvolvimento do crédito no Brasil. “É inadmissível que indivíduos gastem 20% da renda em apostas.

Precisamos educar e criar produtos com juros mais baixos”, afirmou. Ele ainda enfatizou o papel da centralização de recebíveis como uma ferramenta para reduzir o risco e ampliar o acesso ao crédito para pequenas empresas.

Funchal disse que o momento atual é positivo para o mercado de crédito, mesmo com juros altos. “Temos spreads positivos e mais investidores interessados em fundos de crédito, o que gera um ambiente favorável. Com a redução dos juros, isso pode ser ainda mais promissor”, explicou.

O Brasil no cenário global

Por fim, os painelistas ressaltaram o potencial do Brasil como destino de investimentos globais, apesar dos desafios. Eduardo Alcalay lembrou que o País é o quinto maior destino de investimentos estrangeiros e a nona maior economia mundial. “O Brasil tem um mercado integrado às Américas, 200 milhões de consumidores e está barato para investidores. No entanto, o câmbio volátil e a complexidade fiscal ainda afastam oportunidades”, informou.

Bruno Funchal finalizou com otimismo: “O mundo está ansioso para investir no Brasil. Temos mercado de capitais e de dívida, além de um enorme potencial de crescimento. Com a tecnologia e a inovação, temos as ferramentas para destravar nosso verdadeiro potencial”.

O painel evidenciou que, apesar dos entraves, o Brasil apresenta um cenário de oportunidades para empresas e investidores, desde que os desafios fiscais, jurídicos e educacionais sejam enfrentados com coragem e inovação.

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