A inflação de 2018 foi de 3,75%, e poderia ter sido ainda menor, caso a greve dos caminhoneiros, responsável por quase duas semanas de crise no abastecimento, não tivesse acontecido. “Esse dado parece tranquilizador, mas talvez não seja tão simples interpretá-lo”, afirma Maurice Kattan, economista e sócio diretor da Union National. “Inflação muito baixa pode ser indicativa de um quadro recessivo em curso, o que nunca é bom para um país”, ele alerta.
Kattan ressalta que uma inflação de proporções absurdas, como a de abril de 1990, quando o acumulado em 12 meses chegou aos 6.821%, destrói a economia e o poder de compra da população, levando à queda no consumo, e, portanto, ao risco de recessão. “No período hiperinflacionário, quem tinha dinheiro para investir costumava optar pelo overnight, que consistia, basicamente, em emprestar dinheiro para os bancos de um dia para o outro e receber juros e dividendos a cada 24 horas”, explica o economista. “Assim, em vez de o dinheiro gerar movimento de mercado, emprego, renda – enfim, em vez de ele servir para a multiplicação de riquezas –, tornava-se um fim em si, algo morto, sem função real na sociedade”, constata.
No entanto, a inflação muito baixa e a deflação também são indutoras da estagnação econômica. “A certeza de que os preços não irão aumentar, ou a expectativa de que eles talvez venham a cair, podem levar muita gente a adiar suas compras de maior valor”, esclarece Kattan. “A troca de carro, a geladeira nova, a TV para o quarto das crianças… Enfim, qualquer que seja o produto, as pessoas tendem a ‘pensar melhor’ e a adiar a aquisição até, em alguns casos, desistirem dela”, comenta.
Kattan lembra que, se o consumo arrefece, a necessidade de produzir também diminui. “Menor consumo significa menos demanda, que, por sua vez, repercute na estagnação do setor produtivo, na perda de empregos, no estrangulamento da renda das famílias”, alerta. “No Brasil, o índice inflacionário considerado saudável está entre 3 e 4% ao ano”, esclarece Kattan. “Em 2017, ela ficou abaixo dos 3%, ou seja: já havia uma tendência recessiva em curso”.
Kattan preocupa-se especialmente com o contexto mundial, que, em sua opinião, não é dos mais promissores. “A China, nosso principal parceiro comercial, está perdendo fôlego, e os Estados Unidos, embora estejam com a Economia caminhando bem, tendem a perder força, seja em função dos conflitos internos com o Partido Democrata, seja pelas dificuldades em negociar com a China”, ressalta. “O Brasil precisa acelerar sua agenda de reformas, reduzir burocracias, melhorar o ambiente regulatórios, acenar com um ambiente melhor para fazer negócios”, encerra o sócio da Union National.