Lula defende o ministro Gilmar Mendes e conclama petroleiros a combaterem a privatização da Petrobrás

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Foto: Reprodução

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que criticou a postura do Exército diante da situação do Ministério da Saúde, ocupado interinamente há mais de 60 dias pelo general Eduardo Pazuello, que não tem experiência na área.

Lula participou na tarde desta quarta-feira (15/7) do painel “Conjuntura, democracia brasileira e desafios da esquerda”, na abertura do 18º Congresso Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que se estende até o próximo domingo (19/7).

Lula ainda criticou a transformação da Petrobrás em uma exportadora de petróleo cru e conclamou a categoria petroleira a mostrar à sociedade que a companhia está sendo privatizada aos pedaços e que isso terá efeitos ruins para a população.

“Você precisa colocar na coordenação alguém que entenda de saúde. Não tenho nada contra ter um general (à frente do Ministério da Saúde). Mas ele (Jair Bolsonaro) colocou um general que não entende nada de saúde. E ficaram bravos com o ministro Gilmar Mendes quando ele disse que o Exército pode estar contribuindo com um genocídio provocado por Bolsonaro. E o Gilmar está certo. Ele não culpou o Exército, ele disse que o Exército, participando como está do governo, sem cobrar um comportamento adequado do presidente da República, vai contribuir com os erros do presidente da República. Essa é a mais pura verdade. E eles se ofendem com isso”, disse Lula.

O ex-presidente mencionou os números da Covid-19 no Brasil e no mundo e as incertezas que a pandemia trouxe às pessoas. Mas, no Brasil, a doença se tornou ainda mais grave, disse Lula, pela ausência de um comando único que tomasse as medidas necessárias para impedir o avanço do novo coronavírus e pela postura negacionista do atual presidente.

“Em vez de ser maestro, escolheu brigar com o coronavírus e disputar narrativa com a ciência. E um presidente da República, em qualquer país do mundo, não tem o direito de brigar com a ciência. Não se brinca e não se duvida de uma coisa na qual você não é especialista. Você precisa ouvir aqueles que entendem para seguir os conselhos. É através do conhecimento que você evitar que uma doença se prolifere muito mais no país. Ele não levou em conta. Não existe médico, não existe ciência”, reforçou Lula.

“O dado concreto é que o comportamento de Bolsonaro não só é responsável pelo grande número de infectados, mas pela quantidade de pessoas que morreram, porque grande parte dessas pessoas estariam vivas se a gente tivesse feito as coisas certas no tempo certo. Esse é o papel de um presidente da República: coordenar, criar uma equipe estratégica de cientistas, de médicos, de secretários de Estado, de governadores, e ter uma orientação única para este país. E não ficar receitando cloroquina, dizendo que cura, quando não há nenhuma prova científica de cura. Ele agora está com o coronavírus, espero que tenha aprendido que o vírus não tem ideologia. Não precisa estar de camisa amarela ou camisa vermelha, o vírus pega em quem se colocar na frente dele”, ressaltou o ex-presidente.

“Petrobrás é uma indústria de desenvolvimento”

O ex-presidente criticou os rumos que a Petrobrás vem tomando nos últimos anos, ao focar investimentos na exploração e produção de petróleo e se tornar uma exportadora de óleo cru. Lula lembrou de sua luta para que a empresa se tornasse uma exportadora de derivados, investindo em novas refinarias.

“A Petrobrás, para mim, não era uma empresa de petróleo. A Petrobrás era uma indústria de desenvolvimento de outras indústrias. Era o carro-chefe de investimento em pesquisa, em inovação, em produzir novas tecnologias. Desde que fui candidato pela primeira vez, em 1989, eu defendia a indústria naval brasileira, e só conseguimos provar isso quando as eleições, em 2003. Briguei muito com a Petrobrás para construir uma refinaria, porque achava que o Brasil deveria ser exportador de derivados, não de petróleo”, lembrou o ex-presidente.

Reforçando suas críticas à Lava-Jato, Lula reforçou que as ações da força-tarefa pavimentaram o caminho para o cenário atual vivido pela companhia: uma privatização disfarçada, que vem sendo feita aos pedaços.

“A Lava-Jato pensou uma mentira para atender aos interesses norte-americanos e desmontar a lei do contrato de partilha, que nós fizemos. A Lava Jato precisava desmoralizar alguém, desmoralizar o PT e tirar a Dilma (Rousseff). Tirar a Dilma e me impedir de disputar a presidência para que pudessem acabar com a lei da partilha e privatizar a Petrobrás aos pedaços, que é onde estamos chegando hoje. Viramos uma republiqueta. Vendemos petróleo para comprar derivados do exterior. Até comprar gasolina de avião estragada já fizemos”, disse ele.

Mesmo reconhecendo o difícil cenário atual – “vamos ter que brigar muito para desfazer o que eles estão fazendo”, pontuou -, Lula conclamou petroleiros e petroleiras a continuarem defendendo a Petrobrás e a se comunicar mais com a população brasileira para barrar a privatização da maior empresa do país.

“Os petroleiros têm o dever de contar essa história para a sociedade brasileira. Os petroleiros não podem falar apenas com os petroleiros, têm que falar com o país. Não produzam boletins para petroleiros, produzam boletins para a sociedade. Para que todos saibam o que está acontecendo na maior empresa estratégica desse país. Defender a Petrobrás é uma coisa de 210 milhões de brasileiros. Temos de gritar todos os dias: o Brasil não está à venda, o Brasil não é mais colônia”, avaliou.

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