Era da conveniência: a logística brasileira precisa se preparar para os novos hábitos de consumo

Se tem uma coisa que muitas pessoas têm aprendido com o distanciamento social, é que é possível fazer quase tudo pela internet.

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostrou um aumento das compras online: 61% dos consumidores que fizeram compras nesta modalidade aumentaram o volume devido ao isolamento social. Em 46% dos casos, esse aumento de compras foi superior a 50%.

Ainda de acordo com a mesma pesquisa, cerca de 70% dos consumidores perceberam prazos de entregas mais elásticos. Ainda que 57% deles tenha considerado isso aceitável, isso nos faz refletir sobre o quanto a logística precisa se adaptar aos novos tempos.

Para analisarmos o mercado de transporte de mercadorias, é preciso ter em mente que ele é composto por dois processos paralelos: o fluxo lógico, que corresponde às informações, dados de compra e pagamento. E o fluxo físico, que lida com a produção, estoque, separação de pedido, transporte e entrega das mercadorias.

 

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No fluxo lógico, a tecnologia tem proporcionado uma evolução fantástica nos últimos anos, com websites cada vez mais amigáveis, checkouts intuitivos e com menos cliques, e sistemas de pagamento seguros, além de conexões de internet mais velozes. O fluxo físico, no entanto, não tem conseguido incorporar toda essa inovação, especialmente no que se refere aos modelos de negócio e à tecnologia utilizada.

O consumidor de hoje não quer mais que sua encomenda lhe seja entregue “assim que possível”. Ele a quer na hora que lhe for mais conveniente, determinando as janelas de horário para recebimento. Quer acompanhar o entregador em tempo real e ter a exata previsão da hora de chegada, assim como quando pedimos um carro por aplicativo, por exemplo.

Essa busca por criar mais conveniência aos consumidores têm aberto possibilidades de novos modelos de negócio, como os armários guardadores inteligentes, nos quais as compras feitas on-line são deixadas para que os clientes retirem quando preferirem. Mais comuns nos Estados Unidos, eles costumam ficar em pequenas lojas, mercados e outros pontos de grande circulação. No Brasil, o iFood tem testado esse modelo, com lockers abertos por QR Code, para deixar as refeições dos clientes até o momento em que preferirem retirá-las.

Outros modelos interessantes que têm ganhado força são o shipping from store, no qual as mercadorias são enviadas diretamente das lojas de bairros, não do estoque central (que costuma ser afastado dos centros urbanos) e as assinaturas de entrega, como a Amazon faz há algum tempo no exterior e tem testado mais recentemente no Brasil, no qual o cliente paga uma assinatura anual e tem direito a entregas grátis e mais rápidas durante todo o período.

A mesma pesquisa da SBVC mostrou ainda que 70% dos clientes pretendem continuar a comprar online mais do que faziam antes da covid-19. Essa é uma grande oportunidade, tanto para e-commerces quanto para empresas de logística criarem um plano de ação.

Ferramentas como big data, machine learning e inteligência artificial são os grandes potenciais aliados para os operadores logísticos que querem estar em dia com o altíssimo nível de exigência por informações de seus usuários na era da conveniência.

Espera-se um padrão de exigência ainda mais elevado ao fim da pandemia. Por isso inovar em formas de entrega, trabalhar com dados e aprender sobre o hábito de consumo e comportamento de recebimento dos clientes será a chave para o diferencial competitivo neste mercado de fretes de última milha.


carlo-mira *Carlos Mira é fundador e CEO do TruckPad, maior plataforma de conexão entre caminhoneiros e cargas da América Latina, e tem 35 anos de experiência no setor de logística. Foi presidente da ASLOG – Associação Brasileira de Logística e eleito “Personalidade do Transporte do Ano” pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). É autor do livro “Logística, o Último Rincão do Marketing”.

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