Debate entre especialistas em RH, em São Paulo, discute como as gerações devem se preparar para o mercado de trabalho do futuro

São Paulo, outubro de 2019 — Saber ouvir e expor o ponto de vista com empatia, não é uma competência que está presente nas grades curriculares. Mas é uma “competência do futuro”. E pode ser desenvolvida, sobretudo na convivência no trabalho, diz Du Migliano, CEO da 99jobs, startup que redesenhou a forma como as organizações e as pessoas se conectam, baseando-se em crenças e valores.

A conexão com o outro contribui para a realização do desejo que os jovens têm de se sentir útil e trabalhar com propósito e, assim, superar os desafios que essa geração está enfrentando agora, momento de grande transformação das relações de trabalho, pela revolução tecnológica. “Se a gente entender que as empresas não operam apenas para gerar lucro, mas sim, são uma plataforma de desenvolvimento, e que todo o conhecimento que está sendo gerado ali é para desenvolver pessoas, teremos resultado com propósito. E isso gera lucro. Quando criamos espaços de aprendizado, e damos desafios legais para as pessoas resolverem juntas, ela se sentem úteis e ouvidas”, explica Migliano, que possui 4 milhões de usuários em sua plataforma de recrutamento.

Learning Agility

Uma skill que o mercado de trabalho não vai deixar de exigir é a Learning Agility, ou agilidade de aprendizagem. Uma pesquisa da Korn Ferry, consultoria de gestão fundada na Califórnia, em 1969, e presente em 52 países, aponta que apenas 15% da força de trabalho no mundo desenvolveu a agilidade de aprendizagem. Para o especialista em recrutar líderes da consultoria, Antônio Mendonça, aprender coisas novas com agilidade e de forma constante passa a ser uma das habilidades mais importantes para que os profissionais consigam lidar com qualquer desafio complexo que venha a surgir.

“E, por outro lado, as empresas têm que entender que será comum ver os jovens trabalhando em duas empresas ao mesmo tempo, em paralelo, como em um modelo de Market Place. E, assim como eles vão escolher trabalhar em companhias com proposito sólido, eles vão escolher quando irão embora também. Estudos mostram que as novas gerações irão trabalhar em 20 empresas. Elas terão uma carreira em espiral. Serão capazes de antecipar, drivar, acelerar, construir parcerias e confiança no ambiente de trabalho”, diz.

Meta Learning

Mas além das transformações tecnológicas, o que está acontecendo para o mercado exigir um novo tipo de profissional?

De acordo com Anderson Pereira, CEO da Universia Brasil, este século precisa mais de cérebros do que de braços. “O Brasil do século XX não conseguiu capacitar os cidadãos para aprender a pensar e, mesmo assim, prosperamos, porque o mercado de trabalho precisava mais de braços do que de cérebros. Agora, vivemos o oposto. O mercado de trabalho vai exigir muito mais uma habilidade cognitiva do que manual. Portanto, nosso desafio como sociedade será capacitar a maior quantidade de cérebros possíveis para os desafios do século XXI. Neste século, serão necessárias competências como aplicar o conhecimento e criatividade em conjunto, realizar trabalho em equipe, ter resiliência, saber tomar riscos, além de “meta learning”, ou seja, aprender a aprender, que é de fato como você se relaciona com o mundo e com os outros”.

Isso exige pensar que o conceito de “ex-aluno” não existe mais. Vamos ser alunos a vida toda e a todo momento. E o mix do que estamos aprendendo e estudando vai transformar as relações de trabalho.

E como distribuir esse conhecimento em escala? Segundo Anderson, a educação terá que ser encarada como um desafio global. “Será necessário que todos os agentes da sociedade, e não só as universidades, estejam unidos para capacitar essas pessoas para o trabalho e para viver em um mercado extremamente complexo”.

Antônio Mendonça completa que estamos presenciando que as universidades não têm mais o monopólio do conhecimento. Hoje ele está disponível em vários lugares e para todos. E as empresas também estão entendendo isso. Haja vista a tendência do aumento do número de contratações sendo feitas sem a exigência tradicional da formação universitária. “As empresas estão muito mais abertas a identificar pontos fortes nos profissionais que vão além da faculdade que cursou. Empresas vanguardistas colocaram os conceitos de UX e customer centricity dentro do RH. E estão contratando para valer no mercado”.

Previsões para o futuro

Esse ritmo acelerado de mudança, na visão do especialista em gestão da mudança e desenvolvimento organizacional, Marcelo Nóbrega, tende a exigir que as pessoas estejam preparadas para correr riscos. “Por não sabermos exatamente como a tecnologia vai nos impactar, nos sentimos ansiosos, achando que as coisas vão piorar. Mas não vão. É natural que as gerações passem por isso em momentos de grandes mudanças. Daqui a pouco vamos entender como conciliar o talento humano com a eficiência das máquinas e tirar o que tem de melhor dos dois lados, e vamos voltar ao patamar de produtividade”, diz.
Fazer previsões sobre o que mais vai ser importante no futuro é um exercício complexo. “Mas posso dizer a essa geração que: corra riscos, saia da zona de conforto, trabalhe em empresas diferentes, viaje para conhecer outras realidades e se adaptar a elas”, orienta Nóbrega, que investe em 4 empresas brasileiras atualmente.

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