Cala a boca não!

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Os brasileiros mais velhos estão vivendo um flashback? E nós, filhos nascidos a partir da transição para redemocratização, estamos num déja-vu, como se estivéssemos dentro de um filme que já vimos, com passado, presente e futuro transformados numa coisa só?

Qual deveria ser a nossa prioridade máxima agora? Enfrentar o coronavírus.

Com mobilização total, união de forças na luta pelo que há de mais sagrado na existência humana, que é salvar vidas! Recordes diários de mortes têm sido batidos, são mais de 100 mil pessoas contaminadas. E isso é só subnotificação, porque a Covid-19 é mais rápida que nossa capacidade de contabilizar todos os números em tempo real. Quanto mais se sai às ruas, mais mortes ocorrem.

E em meio ao caos epidemiológico, pra complicar a coisa, estamos acompanhando de longe, em casa (para aqueles que estão respeitando a quarentena e preservando a nossa vida e a dos outros), manifestações, aglomerações, confrontos em espaços públicos, afrontamento às instituições, ameaças a autoridades e seus familiares ou a quem quer que seja ‘opositor’.

Ataques e agressões a jornalistas, artistas, professores, profissionais da Saúde remetem aos anos de chumbo, quando um regime autoritário foi instalado.

Por 21 anos, o Brasil viveu com restrição à liberdade, com repressão e censura, com eleições indiretas, num processo antidemocrático, com 16 atos institucionais, que se sobrepunham à Constituição, e onde quem estava no governo tinha o controle da Câmara dos Deputados e do Senado.

Mas quando voltamos ao passado? Quando não se permite que pontos de vista sejam colocados à prova porque não há argumentos para defendê-los. Quando se perde a capacidade de escutar o que os outros têm a dizer e, quem sabe, até mudar de opinião e se transformar. Quando se descarta serenidade, sabedoria e bom senso para gritar ‘cala a boca’.

Me assusta a enorme dificuldade de manter diálogos. Como tratamos os outros mostra como realmente somos. Ser cordial apenas com aqueles que comungam conosco e intolerante ao menor sinal de contrariedade é um caminho perigoso para o Brasil, que já passou por isso quando era uma Nação com surdez crônica.

Pelo bem da democracia, temos de defender o direito de todos se manifestarem, com respeito, sejam quais forem seus pontos de vista. Voltar a ouvir o outro, ser tolerante com ideias e opiniões que divirjam das nossas, antes que seja tarde ou fracassaremos como Nação!


*Renata Abreu é presidente nacional do Podemos e deputada federal por São Paulo

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