O Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) reduziu a nossa taxa básica de juros – a taxa Selic – em 0,50pontos percentuais, levando-a para 13,25% ao ano em sua reunião de 02 de agosto.
Depois de um ano no patamar de 13,75%, a decisão marca o início do que acreditamos que será um processo gradual de redução dos juros no país – que deve levar a Selic para próximo de 10,00% até o início do ano que vem.
O que disse o Copom?
Após cada reunião, o Copom divulga um comunicado detalhando sua decisão e sinalizando a direção que deve tomar dali em diante em relação à política monetária – ou seja, à taxa de juros.
No documento de hoje, o comitê manteve a preocupação em relação ao cenário de inflação ainda persistente no mundo. Para os diretores, os preços seguem subindo a ritmo elevado e persistente especialmente nas economias desenvolvidas, o que demanda uma postura dura de juros altos por parte de Bancos Centrais.
Já no palco doméstico, o Copom destacou a continuidade do processo de desinflação no país e de desaceleração da economia, conforme era esperado que acontecesse como resultados dos juros altos por tempo prolongado.
Em outras palavras, o Copom reconheceu que o objetivo da alta de juros vem sendo cumprido, e a inflação está hoje mais comportada – considerando a meta de inflação de 3,0% para os próximos anos.
Diante desse cenário, o Copom optou por reduzir a Selic em 13,25% ao ano.
Dito isso, a taxa segue no patamar que chamamos de “contracionista” – em que os juros altos encarecem o crédito, desincentivam o consumo e desaquecem a economia como um todo, reduzindo a inflação.
A melhora das expectativas
A melhora das expectativas de inflação foi um dos destaques do Copom para abrir caminho para o começo da queda dos juros.
De acordo com o Copom, a recente decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a meta de inflação em 3,0% contribuiu para que agentes econômicos passassem a esperar uma inflação mais próxima à meta do Banco Central para os próximos anos.
E isso foi essencial para dar à autoridade monetária a “confiança necessária para iniciar o ciclo de flexibilização monetária”.
Expectativas de inflação: o que são?
As expectativas de inflação são muito importantes para o controle da inflação em si.
A dinâmica é simples: basta pensar que se você acredita que os preços não irão parar de subir no futuro, e você é um prestador de serviços ou mesmo o locatário de um imóvel, existe uma grande chance de que você já subirá o seu preço, para não “ficar pra trás”, certo?
Eventualmente, esse movimento de agentes na economia acaba impulsionando os preços em cadeia, e a inflação efetivamente sobe (no futuro).
Ou seja, com expectativas mais ancoradas, o Banco Centra pôde começar a reduzir a Selic de maneira mais segura – reduzindo a probabilidade de um cenário de volta da inflação porque “ninguém acredita que ela vai cair”.
Processo de queda da Selic deve ser gradual
Diante desse cenário, acreditamos que o Banco Central seguirá reduzindo a taxa Selic ao longo de suas próximas reuniões.
Isso porque, embora ainda exista riscos tanto no ambiente global (de inflação ainda resiliente) quanto doméstico (com preços no setor de serviços ainda bem pressionados), movimentos recentes permitem uma taxa Selic gradualmente mais baixa.
Esses movimentos incluem a queda da inflação corrente – mais forte em produtos industriais e alimentos, mas alcançando o setor de serviços – além da melhora da percepção de risco político-fiscal no país, que ajuda a controlar as expectativas sobre a inflação no futuro.
Em outras palavras: o cenário ainda requer juros freando a economia, mas já é possível reduzir a magnitude do “freio”.
Dito isso, também não vemos espaço para que a Selic saia do território contracionista. Ou seja, acreditamos que o processo de redução dos juros será bastante gradual, e que a Selic seguirá em patamar de dois dígitos até meados de 2024 – quando vemos os juros básicos em torno de 10,0%.
Quais os impactos da decisão?
Para o mercado, a decisão deve aumentar as “apostas” para maiores quedas da Selic adiante. Isso porque parte dos analistas esperava queda menor nesse início de ciclo de cortes, e pode interpretar o comunicado do Copom como “abrindo a porta” para cortes mais fortes adiante – por mais que o próprio documento tenha reforçado um corte de 0,50p.p. novamente na próxima reunião do Comitê, em setembro.
Assim, o mercado de renda fixa deve passar por pequenos ajustes no imediato pós decisão, com uma leve valorização de títulos pré-fixados e atrelados à inflação com vencimento de curto prazo.
Para o dia a dia do brasileiro, o início do processo de queda de juros será sentido de maneira gradual. Ou seja, continuaremos a sentir os efeitos dos juros altos no curto prazo, até que isso comece a perder força aos poucos ao longo dos próximos meses/ano.
Atualmente, os impactos dos juros contracionistas podem ser vistos, por exemplo, na forte elevação da inadimplência das famílias, especialmente nas modalidades de crédito mais caras, como cheque especial e rotativo de cartão de crédito.
Também podemos observar o impacto da Selic elevada no consumo, especialmente no recuo do comércio de bens duráveis. Afinal, juros altos pesam sobre o endividamento e – consequentemente – sobre o consumo de itens que exigem maior financiamento, como carros, móveis e eletrodomésticos.
Assim, mesmo com a redução gradual esperada para a taxa Selic nos próximos meses, o cenário de crédito mais caro e “dinheiro mais escasso” sentido no dia a dia dos brasileiros não deve se reverter tão cedo. Especialmente porque a Selic deve seguir no campo que chamamos de contracionista.
A Selic deve seguir caindo, e isso é positivo para a bolsa
Independente de acertarmos “em cheio” os próximos passos do Copom, entendemos estamos entrando em um processo de redução dos juros. Esse movimento tende a abrir a porta para investimentos que apresentem maior nível de risco, especialmente em ações – considerando sempre o perfil de risco de cada cliente.
Isso porque juros menores ajudam a reduzir o custo de capital para as empresas nos modelos de analistas (aumentando o preço justo de ações), elevam os seus lucros por conta da queda nas despesas financeiras, e melhoram a saúde financeira das empresas que têm dívida alta e precisam de novos financiamentos.
Em outras palavras, ciclos de queda de juros tendem a ser positivos para investimentos em bolsa.
O gráfico abaixo ajuda a ilustrar essa dinâmica. Como podemos ver, momentos de redução da taxa Selic foram, em sua média histórica, acompanhados por bons retornos do nosso principal índice acionário, o Ibovespa.
E para investir na bolsa, destacamos a RICO11, a carteira recomendada da Rico. Ela é composta por BDRs (ações de empresas estrangeiras no Brasil) e ações listados na bolsa brasileira, a partir da análise do cenário econômico, reunindo as principais estratégias de ações publicadas pelo time de análise da Rico — todas quantitativas, ou seja, baseadas em dados e modelos estatísticos e com processo de decisão automatizado.
E como o momento também tende a ser oportuno para outros tipos de ativos também relativamente mais arriscados, destacamos aqui nossa carteira recomendada de Fundos Imobiliários.
Renda Fixa segue atrativa
Mas não é porque crescem as oportunidades na bolsa que a renda fixa perde sua atratividade. Pelo contrário.
Primeiro porque os juros devem continuar em patamares altos, acima dos níveis de inflação no curto prazo – garantindo retornos elevados para investimentos de prazos mais curtos (até três anos) e reserva de emergência.
Além disso, diante de um cenário onde a inflação segue um risco no longo prazo, títulos de renda fixa atrelados à índices de preço seguem uma excelente proteção para seus investimentos – dando espaço para vencimentos mais longos, acima de 2030.
Já para os títulos prefixados, esses passam a requerer maior cautela. Isso porque parte do movimento de queda nas expectativas de juros no futuro (que valorizam esses títulos) já se concretizou, e movimentos similares ficam dependentes de mudanças mais estruturais no cenário político econômico (menos prováveis no curto prazo).
Recomendações completas
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