A eleição de Alberto Fernández à presidência da Argentina, como sucessor de Maurício Macri, já havia sido um sinal de que o Mercosul poderia não ter mais o apoio argentino nas negociações dos Tratados de Livre Comércio (TLC), uma vez que estes e o livre mercado fazem parte da agenda liberal, com a qual Fernández não compactua por diferenças ideológicas.
Após a sua posse, Fernández manteve relações cordiais com os presidentes do Uruguai e do Paraguai, porém, com o Brasil, não fez questão de se aproximar ou manter a proximidade que Macri tinha com Temer e Bolsonaro.
Este é outro sinal de que o apoio argentino às negociações com a União Europeia, com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, sigla em inglês), com Coreia do Sul, Canadá, Índia, Líbano e Cingapura, poderia ser reduzido ao longo do tempo.
Na última sexta-feira, outro sinal – com característica mais suave, mas com uma posição mais direta do que as anteriores -, foi dado pelo governo Fernández.
Desta feita, com o argumento de que deveria oferecer maior proteção às empresas nacionais e à população de forma geral, diante da pandemia do Covid-19, solicitou a paralisação das negociações que o Mercosul vem mantendo com os blocos e países citados acima.
Acordo entre blocos ou países precisam ser apoiados por membros do Mercosul
Mesmo com a afirmação de que isso não deveria afetar o acordo com a União Europeia, fica evidente que há uma sinalização aos parceiros: sem o apoio – leia-se assinatura do governo argentino – qualquer acordo com blocos ou países, para ser efetivado, necessita ser aprovado por todos os membros do MERCOSUL.
Sinal mais claro do que esse só mesmo a comunicação do país sobre a sua intenção de retirada do bloco, conforme o artigo 21 do Tratado de Assunção.
Sobre Francisco Américo Cassano
Francisco Américo Cassano é Doutor em Ciências Sociais – concentração em Relações Internacionais. É Professor Ajunto e Pesquisador do tema Relações e Negócios Internacionais na Universidade Presbiteriana Mackenzie.