Nem mesmo as ameaças do ex-presidente Donald Trump de expulsar o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ou a intensificação das disputas comerciais conseguiram abalar os mercados financeiros dos Estados Unidos. Ao contrário do que se viu em anos anteriores, Wall Street permanece surpreendentemente estável diante de turbulências políticas e temores de recessão.
O índice S&P 500 registrou alta de 0,6% esta semana, completando uma sequência de 17 dias sem variações diárias superiores a 1%. O Bitcoin, por sua vez, permanece perto de seus níveis recordes. A aparente calma reflete, segundo especialistas, uma mudança de foco dos investidores: em vez de reagirem ao barulho político, estão atentos aos fundamentos da economia — que continua resiliente.
Segundo análise do Barclays, as correlações entre classes de ativos voltaram à média dos últimos 10 anos, um sinal de que os mercados voltaram a operar com racionalidade. “Apesar de toda a ansiedade macro, o crescimento está estável e resiliente, e a volatilidade das taxas diminuiu. Os mercados de ações estão sendo impulsionados por fatores idiossincráticos”, afirmou o estrategista Emmanuel Cau.
A recuperação generalizada dos ativos de risco — mesmo com as ameaças tarifárias e a tensão institucional — está rompendo a antiga sincronia entre ações, títulos, crédito e commodities, que marcou os últimos três anos sob forte influência da inflação e da política monetária.
“Os mercados sobreviveram a uma experiência de ‘quase morte’ em abril, quando o presidente recuou. Agora, os investidores acreditam que ele teme uma queda do mercado e não levará adiante políticas nocivas aos ativos financeiros”, disse Michael O’Rourke, estrategista-chefe da JonesTrading LLC.
Contudo, analistas alertam que a tranquilidade pode ser temporária. Fatores estruturais como inflação persistente, expansão fiscal, mudanças demográficas e desglobalização ainda representam riscos no médio e longo prazos.
Ainda assim, a nova configuração dos mercados tem aliviado a pressão sobre alocadores de ativos. O tradicional portfólio 60/40 acumula valorização de 6% no ano, enquanto o Cambria Global Asset Allocation ETF, que contempla ações, títulos, imóveis e commodities, registra alta de 9%.
“O medo da estagflação é o verdadeiro gatilho para correlações elevadas entre ativos. Embora o momento atual seja estável, é cedo para celebrar o fim das tensões inflacionárias”, conclui James St. Aubin, CIO da Ocean Park Asset Management.
A mensagem é clara: por enquanto, lógica e fundamentos voltaram ao centro do palco. Mas os investidores seguem vigilantes, cientes de que qualquer novo choque poderá testar — mais uma vez — os limites da resiliência do mercado.
–Com informações da Bloomberg