O mês de agosto foi marcado por forte volatilidade no mercado cambial. No início do mês, o dólar chegou a registrar mínima próxima de R$ 5,39, resultado da combinação de juros elevados no Brasil, que mantêm o real atrativo para investidores estrangeiros e operações de carry trade, e das expectativas de corte de juros nos Estados Unidos, que enfraqueceram a moeda norte-americana frente às divisas de países emergentes.
Na segunda metade de agosto, contudo, o dólar se aproximou de R$ 5,48. O principal fator dessa depreciação do real foi o aumento da percepção de risco em relação ao Brasil, impulsionado pela crise diplomática com os Estados Unidos, que anunciou tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros.
O resultado foi um câmbio oscilando entre valorização e depreciação, refletindo tanto o ambiente internacional de política monetária quanto os riscos específicos da economia e da diplomacia brasileiras.
Papel da política monetária de EUA e Brasil
As decisões do Federal Reserve (Fed) e do Comitê de Política Monetária (Copom) foram determinantes para os movimentos cambiais em agosto. A expectativa de cortes de juros nos EUA contribuiu para a desvalorização global do dólar, fortalecendo moedas de países emergentes, como o real.
No Brasil, a decisão do Copom de interromper o ciclo de alta da Selic, mesmo com a taxa atingindo 15%, manteve a atratividade do real para investidores estrangeiros, reforçando operações de carry trade e sustentando a moeda nacional, ainda que fatores externos tenham limitado o efeito positivo.
Perspectivas para setembro e a Super Quarta
Em setembro, o câmbio deve continuar sensível a fatores internos e externos, incluindo a crise diplomática com os Estados Unidos e suas tarifas, decisões de política monetária do Fed e do Copom, cenário político no Brasil e indicadores econômicos nacionais e internacionais.
Para a próxima Super Quarta, o mercado aguardará a combinação das decisões do Copom e do Fed. Caso o Banco Central brasileiro mantenha a Selic alta e o Fed sinalize cortes de juros, o real tende a se valorizar. Por outro lado, um Fed mais conservador ou sinais de flexibilização no Brasil podem favorecer nova alta do dólar. O conjunto dessas decisões influencia diretamente o fluxo de capitais para mercados emergentes, especialmente o Brasil.
Impacto da crise diplomática
A imposição de tarifas pelos Estados Unidos elevou a incerteza sobre a economia brasileira, provocando saída de capitais e aumento da demanda por proteção em dólar. Esse movimento contribuiu para a desvalorização do real e a volatilidade observada no mês.
Hegemonia do dólar e alternativas globais
O dólar mantém sua hegemonia devido a fatores como sua posição como moeda de reserva global, ampla utilização no comércio internacional, investimentos e emissões de dívida, além da alta liquidez e profundidade dos mercados financeiros dos EUA. A infraestrutura financeira mundial também é fortemente dolarizada, desde contratos até sistemas de pagamento internacionais.
Para que outras moedas, como yuan ou euro, e iniciativas como o BRICS Pay consigam reduzir a hegemonia do dólar, seriam necessárias aceitação e confiança global, além de uma rede de pagamentos confiável e integrada globalmente. Esse processo é gradual e não tende a impactar a hegemonia do dólar em curto ou médio prazo.