Inflação é assunto cotidiano no noticiário econômico no Brasil. A instabilidade é uma característica recorrente na economia do País, e ela muitas vezes se reflete no aumento dos preços. O que não é tão comum é ouvir falar em “deflação”, ou pelo menos não era, até meados de 2022.
O termo – que, grosso modo, se refere à queda generalizada dos preços – voltou às manchetes e passou a causar dúvidas entre consumidores e investidores.
O que é deflação?
Deflação é a queda generalizada de preços de produtos e serviços de forma contínua e por um período razoavelmente longo.
Embora seja comum ver gente chamando o recuo pontual de índices de inflação de deflação, a queda em um ou dois meses apenas não configura por si só um processo deflacionário. Assim como também não permite dizer que a deflação é uma tendência.
Não há consenso entre os economistas sobre a duração. É necessário tempo suficiente para que o fenômeno seja considerado tendência.
Os recuos precisam também ser generalizados. Ou seja, devem afetar uma grande gama de produtos e serviços. Reduções em poucos segmentos não significam deflação, mesmo que tenham influência negativa nos índices inflacionários.
Decerto, as quedas necessitam ainda ser contínuas. Os preços são reduzidos seguidamente na tentativa de despertar a demanda. A deflação ocorre quando a oferta de produtos e serviços é maior do que a demanda. Há mais itens à venda do que as pessoas estão dispostas ou têm condições de comprar.
Pode acontecer também quando há redução do volume de dinheiro em circulação. Menos moeda na praça resulta em compras menores e, consequentemente, diminuição de preços.
É o oposto da inflação, que é o aumento generalizado de preços de produtos e serviços de forma contínua e por um tempo razoavelmente longo.
Já a redução do ritmo da inflação, ou seja, diminuição do índice de um mês para outro, mas ainda positivo, é “desinflação” – e não deflação.
Qual a diferença entre inflação e deflação?
São dois movimentos opostos. Inflação é aumento de preços, enquanto a deflação representa a queda dos preços.
Em ambos os casos, as mudanças de preços devem ser generalizadas. Precisam ocorrer numa série de produtos e serviços relevantes para o cotidiano, de forma que a média de valores de uma cesta de itens vá para cima ou para baixo. No entanto, os movimentos têm que ser contínuos e duradouros.
Deflação é boa ou ruim para a economia?
Num primeiro momento, é fácil pensar que preços em baixa são algo positivo. E são, se as quedas forem pontuais.
No entanto, a queda generalizada de preços por tempo indeterminado é ruim. Isso significa que o poder de compra das pessoas está reduzido, e os comerciantes e prestadores de serviços cortam seus ganhos para tentar despertar a demanda.
Tal dinâmica pode criar um ciclo vicioso. Com a tendência de queda, as pessoas adiam suas intenções de consumo na esperança de conseguir preços ainda mais baixos no futuro. O adiamento alimenta a deflação, já que o comércio se vê obrigado a reduzir ainda mais os preços.
Se o comerciante não consegue vender, então reduz ou suspende suas encomendas. Consequentemente, a indústria corta ou para a produção. Sem perspectivas de vendas, as empresas não investem. Esse cenário resulta em demissões e até quebra de negócios.
Deflação é sinal de baixo crescimento ou economia estagnada. E, nesse sentido, contribui para um quadro de aumento do desemprego, queda do poder aquisitivo da população e depressão da atividade econômica em geral.
Mudanças nos preços podem ocorrer não apenas por um aumento (ou uma redução) na demanda, mas também na oferta e seus custos.
Como se calcula?
A deflação é calculada da mesma forma que a inflação. No Brasil, há diversos índices que medem as variações de preços. O principal deles é o IPCA, divulgado mensalmente pelo IBGE. É com base no IPCA que o Banco Central define a política monetária.
No País, adota-se o regime de metas de inflação. O Conselho Monetário Nacional (CMN) define uma meta de IPCA a ser perseguida. Para atingi-la, o BC, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom), aumenta ou reduz a taxa básica de juros, a Selic.
Para calcular o IPCA, o IBGE mede o custo de uma cesta de itens que reflete os padrões de consumo de famílias brasileiras com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos.
Esta cesta contém produtos e serviços de alimentação, habitação, vestuário, transportes, saúde, despesas pessoais, educação e comunicação. Há uma ponderação nestes grupos; uns têm peso maior no indicador do que outros, dependendo de sua importância no consumo das famílias.
Quais são as causas da deflação?
Deflação é resultado de oferta maior que a demanda e de menos dinheiro em circulação, condições criadas por atividade econômica fraca. Ou seja, é resultado de uma estagnação forte da economia por razões gerais, como uma crise econômica séria.
Fatores pontuais podem gerar queda de preços sem que se configure um quadro de deflação, como isenção de impostos e barateamento de matérias-primas. Ocorrem por decisão de governos ou oscilações do mercado, não necessariamente por problemas econômicos.
Mesmo que um índice de inflação como o IPCA apresente recuos, não significa que exista um cenário de deflação. Cada segmento tem um peso diferente na composição do indicador, então a queda de preços numa área importante pode puxar a média para baixo, embora a tendência não seja geral.
Que medidas devem ser tomadas para contê-la?
Há uma série de medidas de políticas econômica e monetária que governos e bancos centrais podem tomar para interromper um processo de deflação.
No passado, a cunhagem de moedas exigia disponibilidade de metais nobres. A escassez de tais materiais podia resultar na diminuição de moeda em circulação e, consequentemente, em deflação. Hoje os países imprimem seu próprio dinheiro e, em caso de falta, é possível imprimir mais.
Os bancos centrais podem reduzir as taxas de juros, tornando o custo do dinheiro mais baixo e ampliando o acesso ao crédito. Certamente, empréstimos e financiamentos mais baratos estimulam as pessoas a tomar recursos para gastar e as empresas a contrair dívidas para investir.
Por outro lado, com juros baixos, guardar dinheiro em aplicações financeiras deixa de ser atrativo, o que também estimula o consumo e o investimento. Os governos podem ainda aumentar os gastos públicos e o endividamento.
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