O crescimento de um pequeno negócio costuma ser motivo de comemoração, mas também exige atenção redobrada. Para microempreendedores individuais (MEIs), ultrapassar o limite de faturamento anual ou ampliar operações pode tornar inevitável a migração para o regime de Microempresa (ME). A transição, no entanto, envolve mudanças tributárias, obrigações legais e ajustes na gestão.
Segundo pesquisa do Sebrae em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), 63% dos MEIs demonstram otimismo em relação aos negócios em 2025. O dado reforça a importância de preparação para que o avanço não traga complicações futuras.
Reenquadramento requer mudanças na gestão
A contadora Luana Bispo, líder contábil da Agilize Contabilidade, destaca que a mudança de categoria exige um novo modelo de gestão. “Quando o faturamento ultrapassa os R$ 81 mil por ano, ou quando o empreendedor deseja contratar mais de um funcionário ou atuar em áreas não permitidas ao MEI, o reenquadramento é necessário. Mas precisa ser planejado para evitar custos retroativos e erros fiscais”, afirma.
Na prática, a principal diferença está no regime tributário. Como microempresa, o empreendedor passa a ser tributado pelo Simples Nacional com alíquotas progressivas, conforme o faturamento.
Também assume novas obrigações, como emissão de notas fiscais para pessoas físicas, entrega de declarações acessórias e controle contábil mais rigoroso.
Para evitar problemas, Luana recomenda acompanhar mensalmente o faturamento, manter a documentação atualizada e contar com apoio contábil desde o início do processo.
Impactos emocionais e simbólicos do crescimento
A transição de MEI para ME não envolve apenas aspectos técnicos. Segundo a psicóloga e psicanalista Karine Pithon, trata-se de uma mudança de identidade. “Crescer exige maturidade emocional, capacidade de delegar e revisão de crenças ligadas ao controle, perfeccionismo e merecimento”, explica.
Ela afirma que o reenquadramento pode despertar inseguranças inconscientes. “Muitos empreendedores temem fracassar, não dar conta das novas responsabilidades ou perder a liberdade que tinham como MEI. É importante atravessar essa fase com autoconhecimento e apoio adequado”, completa.
Tecnologia e suporte contábil ajudam na transição
Nesse contexto, a contabilidade online tem ganhado espaço ao facilitar o cumprimento de obrigações legais e a organização financeira dos Pequenos negócios.
Para Luana, o suporte técnico especializado e o uso de ferramentas digitais permitem que a transição seja feita de forma mais segura e estratégica.
Karine complementa que a profissionalização não deve ser vista como perda de liberdade, mas como forma de sustentar o crescimento. “O futuro do negócio depende de como o empreendedor se posiciona diante de si mesmo. Um ego fortalecido e um inconsciente escutado fazem diferença nesse momento”, afirma.
Reflexos econômicos mais amplos
A migração de MEIs para MEs também tem impacto relevante para a economia nacional. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), as micro e pequenas empresas foram responsáveis por 546.833 contratações formais nos quatro primeiros meses de 2025 — cerca de 60% das vagas com carteira assinada no período.
Esse desempenho reforça o papel estratégico do setor na geração de empregos e na recuperação econômica do país. Ao aderirem a um regime tributário mais amplo, os empreendedores aumentam sua capacidade de investimento, contratação e contribuição fiscal, fortalecendo tanto o mercado local quanto a sustentabilidade financeira do país.
