Na última quarta-feira (26), a Petrobras divulgou os resultados financeiros do 4T24 (quarto trimestre de 2024), destacando um prejuízo líquido de US$ 2,8 bilhões (em conversão, R$ 17 bilhões), conforme análise da XP Investimentos. O resultado ficou abaixo das expectativas do mercado, que previa um lucro líquido de US$ 0,8 bilhão.
O EBITDA recorrente da companhia no período foi de US$ 9,9 bilhões, cerca de 5% abaixo da estimativa da XP e do consenso de mercado. A produção mais fraca e a queda no preço do Brent contribuíram para esse desempenho inferior.
Fluxo de caixa e alavancagem
Outro ponto de atenção nos resultados foi o fluxo de caixa livre (FCFE), que somou US$ 1,3 bilhão, muito abaixo da expectativa de US$ 4,4 bilhões. O aumento nos investimentos contribuiu para esse resultado, elevando a dívida líquida financeira da empresa em US$ 4,2 bilhões, totalizando US$ 15 bilhões no final de 2024.
Quando considerados os arrendamentos, a dívida líquida total da Petrobras ficou em US$ 52,2 bilhões.
Dividendos abaixo do esperado
Um dos pontos de maior frustração para o mercado foi a distribuição de dividendos. A Petrobras anunciou o pagamento de US$ 1,6 bilhão em dividendos referentes ao trimestre, valor bem abaixo da faixa esperada entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões, conforme a XP Investimentos.
A política de dividendos da companhia considera a fórmula de 45% do fluxo de caixa operacional (FCO) menos capex, e como os investimentos foram elevados, o valor distribuído foi reduzido.
Investimentos elevados e antecipados
Os investimentos da Petrobras em 2024 somaram US$ 16,6 bilhões, valor acima da faixa superior do guidance revisado, que variava entre US$ 13,5 bilhões e US$ 14,5 bilhões. Apenas no 4T24, o capex atingiu US$ 5,7 bilhões, concentrando grande parte da surpresa negativa.
Segundo comunicado da Petrobras, essa elevação do capex não representa um aumento de custo, mas sim uma antecipação de desembolsos previstos para 2025. A empresa explicou que essa decisão teve como objetivo “reduzir riscos de atrasos e antecipar a entrega de sistemas de produção”, especialmente nas plataformas do campo de Búzios.
Contexto anual e resultados consolidados
Apesar do prejuízo no 4T24, a Petrobras encerrou 2024 com lucro líquido de R$ 36,6 bilhões (cerca de US$ 7,5 bilhões), segundo comunicado oficial da companhia. O fluxo de caixa operacional totalizou R$ 204 bilhões (ou US$ 38 bilhões), sustentado pelas operações regulares da estatal.
A Petrobras destacou que, sem efeitos não recorrentes, como variação cambial e provisões, o lucro líquido ajustado de 2024 seria de R$ 103 bilhões (ou US$ 19,4 bilhões).
Principais fatores que impactaram os resultados
Entre os fatores que influenciaram os resultados do 4T24 e do ano de 2024, destacam-se:
- Variação cambial: operações entre a holding e suas subsidiárias no exterior afetaram o lucro contábil, mas sem impacto direto no caixa.
- Adesão a programa tributário: a Petrobras aderiu a um edital de contencioso tributário, encerrando disputas judiciais relevantes.
- Cenário externo: queda de 40% no crackspread do diesel em relação a 2023 e instabilidade no preço do Brent pressionaram as margens da companhia.
No comunicado da Petrobras, o diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Fernando Melgarejo, disse o seguinte:
O resultado da Petrobras em 2024 foi impactado principalmente por um item de natureza contábil: a variação cambial em dívidas entre a Petrobras e suas subsidiárias no exterior. São operações financeiras entre empresas do mesmo grupo, que geram efeitos opostos que ao final se equilibram economicamente. Isso porque a variação cambial nestas transações entra no resultado líquido da holding no Brasil e impactou negativamente o lucro de 2024. Ao mesmo tempo, houve impacto positivo direto no patrimônio.
Desempenho operacional e metas
A produção total da Petrobras em 2024 alcançou 2,7 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed), atingindo todas as metas estabelecidas no plano estratégico. No pré-sal, a produção própria atingiu 2,2 milhões de boed, enquanto a produção operada chegou a 3,2 milhões de boed, ambos recordes anuais.
Entre os avanços operacionais de 2024, destacam-se:
- Entrada em operação dos FPSOs Maria Quitéria e Marechal Duque de Caxias.
- Recordes de produção de gasolina (420 mil barris por dia) e diesel S-10 (452 mil barris por dia).
- Melhor taxa de utilização das refinarias da última década, com fator de utilização total de 93%.
- Início da operação da UPGN do Complexo de Energias Boaventura.
Expectativas da Petrobras para 2025
Para 2025, a Petrobras prevê a entrada em operação de três novos FPSOs, incluindo o Almirante Tamandaré. A companhia espera adicionar 100 mil barris por dia à produção total.
No segmento de refino, estão previstos o aumento de 15 mil barris por dia na capacidade da RNEST e a adição de 63 mil barris por dia de diesel S-10 com a nova unidade HDT da Replan.
A Petrobras também reafirmou seu compromisso com a governança e a geração de valor para a sociedade e os acionistas, destacando que os altos investimentos em Búzios visam antecipar ganhos e mitigar riscos, sem aumento do custo total planejado.
Os resultados do 4T24 da Petrobras evidenciam um trimestre marcado por prejuízo líquido, investimentos elevados e dividendos abaixo das expectativas. Apesar da reação negativa do mercado, a companhia reforça que a antecipação de investimentos é estratégica e está alinhada ao plano de negócios.
Com uma gestão voltada para a geração de valor e a eficiência operacional, a Petrobras segue ajustando suas projeções e estratégias para enfrentar um cenário desafiador em 2025.