A escalada das tensões no Oriente Médio, com o agravamento do conflito entre o Irã e Israel, tem gerado um cenário de crescente incerteza geopolítica.
Enquanto a Europa tenta amenizar a situação por meio da diplomacia, o governo dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, cogita uma ação militar. Essa divergência de abordagens internacionais tem contribuído para uma instabilidade crescente nos mercados financeiros globais.
Um dos aspectos mais notáveis desse cenário de tensão é o comportamento do dólar, tradicionalmente visto como um ativo de refúgio durante crises internacionais. Em situações anteriores de instabilidade geopolítica, a moeda americana costumava se valorizar, mas, desta vez, o que se observa é uma falha nesse padrão.
O dólar não se valorizou como esperado, o que levanta questionamentos sobre sua posição como “porto seguro” tradicional. Em vez disso, o ouro, um ativo mais tradicionalmente associado a períodos de crise, tem assumido essa função de proteção.
A Perda de Confiança no Dólar e a Busca por Alternativas
Para Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, a falta de valorização do dólar pode ser um reflexo de uma confiança diminuída na força dos Estados Unidos como líder global, especialmente em função das políticas adotadas pelo presidente Trump.
O comportamento errático da política externa americana, associado a questões internas como a polarização política e o risco fiscal crescente, tem levado os investidores a repensar sua visão sobre o dólar.
O enfraquecimento da moeda americana como ativo de segurança tem impactos diretos no mercado financeiro, uma vez que altera o fluxo de investimentos. Com o dólar perdendo sua função de proteção tradicional, os investidores estão começando a buscar alternativas, como o ouro, o franco suíço, o petróleo e até mesmo moedas emergentes.
Sidney Lima, estrategista da Ouro Preto Investimentos, acredita que a atual incerteza geopolítica está forçando os investidores a reprecificar não apenas os riscos geopolíticos, mas também a credibilidade das grandes potências.
“Esse enfraquecimento relativo do dólar é um sinal de que o mundo financeiro está começando a reavaliar os ativos de refúgio”, afirmou Lima.
O Risco de Conflito Global e a Volatilidade do Mercado
A divergência de posturas entre os líderes globais sobre como lidar com o conflito também tem aumentado a volatilidade do mercado. A tentativa de diplomacia por parte da Europa e a postura mais agressiva de Trump elevam o risco de que um conflito regional se transforme em uma crise global de segurança e energia.
A volatilidade nas commodities, nas taxas de juros e nas moedas emergentes é uma consequência direta dessa incerteza crescente.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, observa que a perda parcial da função tradicional do dólar como “porto seguro” compromete a previsibilidade das reações do mercado. Ele destaca que este cenário exige atenção redobrada dos investidores, que precisam considerar múltiplos fatores ao alocar seus recursos.
O Papel da Gestão de Riscos em Meio à Incerteza
No atual ambiente de incerteza global, marcado pela escalada das tensões no Oriente Médio e pelo questionamento sobre o futuro do dólar, a diversificação de portfólio e a gestão de riscos se tornam ainda mais cruciais.
Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, salienta que setores resilientes e de longo prazo, como infraestrutura, energia e tecnologias voltadas à eficiência de recursos, tendem a ganhar relevância.
Além disso, a gestão de riscos e a adaptação às mudanças do cenário econômico se tornam fundamentais para empresas que buscam se proteger das incertezas. No mercado de crédito estruturado, Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, afirma que o atual ambiente de volatilidade pode abrir oportunidades para operações bem estruturadas, com garantias sólidas, capazes de oferecer segurança aos investidores.
O Desafio das Empresas em um Novo Cenário Econômico Global
A instabilidade geopolítica, somada às incertezas em relação à postura dos Estados Unidos, reforça a necessidade de líderes empresariais que pensem de forma mais global e adaptável.
Para João Kepler, CEO da Equity Group, a transição para uma nova lógica econômica exige que as empresas se preparem para operar em múltiplos cenários de risco, diversificando suas fontes de receita e adotando uma gestão de caixa mais inteligente.
A crise no Oriente Médio também tem gerado desafios específicos para o Brasil, com Jorge Kotz, CEO do Grupo X, observando que a estabilidade recente no mercado brasileiro pode ser afetada por ajustes estratégicos em empresas mais expostas a custos internacionais, como combustíveis e logística.
O Mercado Imobiliário e os Consórcios: Alternativas de Proteção Patrimonial
Mesmo com o cenário de juros elevados, algumas áreas do mercado, como consórcios e crédito imobiliário, continuam aquecidas. Pedro Ros, CEO da Referência Capital, acredita que a atratividade de ativos reais, como imóveis, permanece alta, especialmente em um ambiente de incerteza.
Com o debate sobre a perda de força do dólar como ativo de refúgio, muitos investidores estão antecipando decisões de aquisição, aproveitando as condições atuais de crédito e o planejamento facilitado que os consórcios oferecem.
O Mercado Está se Preparando para uma Nova Realidade Econômica
O cenário atual, com suas incertezas geopolíticas e o questionamento sobre o futuro do dólar como ativo de proteção, exige que tanto investidores quanto líderes empresariais se adaptem rapidamente.
A volatilidade do mercado, associada à falta de previsibilidade, pode gerar tanto riscos quanto oportunidades. A chave será a capacidade de adaptação, a diversificação de portfólio e a gestão de riscos bem estruturada para enfrentar as turbulências de um mundo cada vez mais imprevisível.