A recente elevação da taxa de desocupação para 6,8% no trimestre encerrado em fevereiro de 2025 reflete, em grande parte, fatores sazonais, como o encerramento de vagas temporárias após as festas de fim de ano.
No entanto, especialistas apontam que a política monetária mais restritiva, com a elevação da Selic para 14,25% ao ano, também tem contribuído para a desaceleração do mercado de trabalho.
Essa elevação nos juros torna o crédito mais caro e desestimula tanto o consumo quanto os investimentos, o que indica uma moderação no crescimento econômico nos próximos meses.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, destaca que, embora a alta dos juros tenha como objetivo conter a inflação, que alcançou 5,26% no acumulado de 12 meses até março, a persistência das pressões inflacionárias torna o caminho para atingir a meta de 3% desafiador. Para ele, o cenário aponta para um crescimento econômico mais lento, com impactos no emprego e na renda.
A Desaceleração do Mercado de Trabalho
Para João Kepler, CEO da Equity Group, a criação de vagas no Caged em fevereiro, embora positiva, não reflete uma recuperação sólida do mercado de trabalho.
Ele alerta que, embora o número de vagas tenha aumentado, esse crescimento desacelerou quando comparado ao mesmo período do ano anterior, o que sinaliza que o ambiente de negócios continua desafiador. Kepler enfatiza que os empresários enfrentam oscilações na demanda, custos financeiros elevados e incertezas regulatórias, o que exige uma gestão mais cuidadosa e estratégica.
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, também compartilha de uma visão cautelosa. Ele afirma que, embora a taxa de desemprego ainda se mantenha relativamente baixa, ela mostra sinais de desaceleração, devido ao impacto dos juros elevados.
Segundo Eyng, o aumento da Selic tem reduzido o ritmo de crescimento das empresas, o que afeta diretamente a geração de empregos. Ele destaca, no entanto, que o crescimento da renda dos trabalhadores e o consumo das famílias continuam sustentando a economia, embora com menor fôlego.
Efeitos da Política Monetária
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, observa que a combinação de juros elevados e um mercado de trabalho mais frouxo pode reduzir a pressão inflacionária, mas ao mesmo tempo limita o consumo e o crescimento econômico.
Ele salienta que a situação exige uma análise cautelosa do Banco Central para equilibrar o controle da inflação com a necessidade de preservar a recuperação econômica.
André Matos, CEO da MA7 Negócios, vê a alta da desocupação como reflexo de uma desaceleração no setor industrial e no varejo. Ele acredita que a falta de uma recuperação consistente da demanda interna pode levar o mercado de trabalho a enfrentar um período prolongado de estagnação, o que afeta diretamente o crescimento econômico.
Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, acrescenta que o crescimento da desocupação reflete tanto a sazonalidade quanto os efeitos da política monetária contracionista. Ele observa que o impacto do aperto monetário prolongado pode resultar em um enfraquecimento do consumo e do PIB, caso a atividade econômica não apresente sinais robustos de recuperação.
Desafios para o Crescimento Econômico
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, afirma que, embora a taxa de desemprego tenha subido, ela ainda está em um patamar historicamente baixo, o que indica resiliência no mercado de trabalho.
No entanto, ele alerta que os juros elevados continuam a restringir o ritmo de contratações. Ros acredita que o grande desafio será equilibrar a manutenção do emprego com a necessidade de controlar a inflação, sem comprometer o crescimento econômico no médio prazo.
Theo Braga, CEO da SME The New Economy, ressalta que, apesar do aumento na taxa de desocupação, a renda média real dos trabalhadores não apresentou queda significativa, o que sugere que o consumo das famílias ainda exerce um papel importante na sustentação da economia. No entanto, ele alerta que, se o desemprego continuar subindo nos próximos trimestres, isso pode enfraquecer ainda mais o consumo, impactando diretamente o crescimento econômico e o PIB de 2025.
Expectativas para o Mercado de Trabalho e a Economia
Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, aponta que a elevação da taxa de desemprego confirma a desaceleração do mercado de trabalho devido aos juros elevados.
Ele observa que, embora o mercado de trabalho ainda se mostre resiliente, a queda no consumo e o impacto no crescimento econômico são preocupantes. Vasconcellos acredita que o desafio será equilibrar a necessidade de controlar a inflação sem prejudicar a geração de empregos e a renda das famílias, fundamentais para a recuperação econômica.
A análise dos especialistas indica que, embora o aumento na taxa de desemprego não seja totalmente inesperado, os efeitos da política monetária mais restritiva e a desaceleração econômica podem continuar a impactar o mercado de trabalho e o crescimento do PIB nos próximos meses. A cautela e a estratégia serão essenciais para navegar esse cenário desafiador.