BC precisa ser cauteloso diante da incerteza econômica global

BC precisa ser cauteloso diante da incerteza econômica global BC precisa ser cauteloso diante da incerteza economica global

Caio Megale, economista-chefe da XP (Foto: Reprodução/Youtube - XP)

O Banco Central do Brasil deve manter uma postura cautelosa diante da elevada incerteza na política econômica global, conforme avalia Caio Megale, economista-chefe da XP. Ele fez essa observação durante um painel em Washington, nos Estados Unidos, na quinta-feira (24), ao lado de Diogo Guillen, diretor de Política Econômica do BC. O evento ocorreu à margem da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Megale destacou que a principal mensagem transmitida por Guillen foi semelhante àquela veiculada por outros formuladores de políticas econômicas na mesma reunião: a necessidade de cautela em virtude das incertezas globais, especialmente relacionadas ao aumento das tarifas comerciais pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No dia 2 de abril de 2025, Trump implementou tarifas comerciais que afetaram mais de 180 países. Embora tenha recuado em parte em 9 de abril, suspendendo algumas sanções por 90 dias para abrir espaço para negociações, a situação continua a criar um ambiente volátil nos mercados.

A cautela também se reflete nas decisões de política econômica em resposta aos desdobramentos da guerra comercial. Megale ressalta, porém, que isso não indica o fim do ciclo de alta de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O economista aponta que a inflação ainda se mostra resistente, longe das metas estabelecidas, e que a economia nacional permanece aquecida. “Acredito que altas adicionais na Selic são necessárias, embora de forma mais gradual e cuidadosa”, afirma Megale. O cenário da XP projeta que a taxa básica de juros feche 2025 em 15,5% e, em 2026, a 12,5%.

O economista observou que há indícios de desaceleração na economia brasileira, um consenso entre especialistas. No entanto, ele alerta para a incerteza que envolve a intensidade dessa desaceleração, alinhando-se à análise de Guillen. Durante o evento, o diretor do BC mencionou sinais iniciais de moderação no crescimento econômico, mas sem evidências concretas de desaceleração ampla.

Megale também apontou a incerteza sobre como a situação econômica global pode impactar a inflação no Brasil. O aumento das tarifas pode levar a uma desaceleração global que, por sua vez, enfraqueceria a economia brasileira. O comportamento da taxa de câmbio, que varia entre R$ 5,60 e R$ 6,10, reflete esse cenário incerto. “A volatilidade da moeda é um fator importante a considerar”, destacou Megale.

Outro aspecto levantado por Megale foi o efeito dos novos empréstimos consignados para trabalhadores do setor privado sobre o Produto Interno Bruto (PIB), que poderiam acrescentar cerca de 0,6 ponto percentual ao crescimento anualizado. Guillen, por sua vez, ressaltou que esses empréstimos ainda não estão incorporados nas projeções do PIB do BC. “É complicado prever o impacto direto da medida, dada a oferta já existente de crédito consignado no país”, concluiu.

Megale finaliza com um alerta sobre a incerteza engrandecida no panorama econômico global, reiterando a importância de uma atuação cautelosa frente às mudanças nas tarifas e seus efeitos na economia brasileira.

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