Robôs 24h: A estratégia da China contra tarifas de Trump

Robôs 24h: A estratégia da China contra tarifas de Trump Robos 24h A estrategia da China contra tarifas de Trump

Detalhe de um robô sendo treinado para receber visitantes na fábrica de carros elétricos Zeekr, em Ningbo, China, em 31 de março de 2025. (Qilai Shen/The New York Times)

A China tem investido fortemente em Tecnologia robótica e inteligência artificial, o que está reformulando a manufatura no país e se configurando como uma poderosa arma na guerra comercial global. As fábricas chinesas estão sendo automatizadas em um ritmo acelerado, com engenheiros e eletricistas gerenciando frotas de robôs que não só diminuem os custos de produção, mas também aprimoram a qualidade dos produtos.

Esse avanço permite que os preços das exportações chinesas permaneçam competitivos, mesmo diante das tarifas implementadas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, além de novas barreiras impostas pela União Europeia e por países em desenvolvimento como Brasil, Índia, Turquia e Tailândia.

Atualmente, a China lidera em automação, superando Estados Unidos, Alemanha e Japão em número de robôs industriais por 10 mil trabalhadores. Segundo a Federação Internacional de Robótica, a China possui a maior concentração de robôs industriais, ficando atrás apenas de Coreia do Sul e Cingapura.

Robôs e um trabalhador na fábrica da fabricante de carros elétricos Zeekr, em Ningbo, China, 31 de março de 2025. (Qilai Shen/The New York Times)

A estratégia de automação na China é impulsionada tanto por diretrizes governamentais quanto por investimentos robustos. A transição para uma produção automatizada permitiu que o país se firmasse como líder na manufatura em massa, mesmo diante de um envelhecimento populacional e da diminuição de interesse por cargos industriais.

He Liang, fundador da Yunmu Intelligent Manufacturing, enfatiza que os robôs humanoides visam criar um novo setor estratégico, almejando o mesmo sucesso que a indústria de veículos elétricos: “É uma estratégia nacional”, destaca.

Da Grande Indústria a Pequenas Oficinas

A automação não se limita a grandes montadoras. Pequenas oficinas, como a de Elon Li em Guangzhou, também estão adotando tecnologias avançadas. Li planeja adquirir um braço robótico de US$ 40 mil para otimizar a fabricação de churrasqueiras e fornos, um equipamento que, quatro anos atrás, custava quase US$ 140 mil.

Empresas maiores, como a Zeekr, produtores de veículos elétricos, ampliaram sua frota de robôs de 500 para 820 unidades em apenas quatro anos. Na fábrica, carrinhos automatizados transportam materiais e braços robóticos trabalham em ambientes conhecidos como “fábricas escuras”, que operam sem a presença de funcionários.

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Um robô separa componentes em uma fábrica da Zeekr em Ningbo, China, em 31 de março de 2025. (Qilai Shen/The New York Times)

Ainda que a automação assuma a maioria das tarefas, trabalhadores permanecem essenciais para áreas como controle de qualidade e instalação de componentes delicados. Contudo, até essas funções estão sendo aprimoradas com tecnologias de IA, que utilizam câmeras para verificar falhas em segundos.

A inteligência artificial também integra processos de design em montadoras. Carrie Li, designer da Zeekr em Xangai, utiliza IA para analisar tendências no design de veículos, o que a permite concentrar-se em elementos estéticos.

Embora as montadoras nos EUA também invistam em automação, a maioria do equipamento vem da China. A Volkswagen, ao abrir uma nova fábrica em Hefei, incluiu apenas um robô alemão em meio a 1.074 robôs chineses.

“Made in China 2025”

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Um robô humanoide participa de uma meia maratona em Pequim, em 19 de abril de 2025. O evento teve a participação de 12 mil corredores e 21 robôs. (Andrea Verdelli/The New York Times)

Esse avanço na automação é parte do plano “Made in China 2025”, lançado há uma década, que visa estabelecer liderança em dez setores, incluindo robótica. O governo de Pequim, em 2023, solicitou que montadoras alugassem robôs humanoides e enviassem vídeos de suas operações.

No último fim de semana, Pequim organizou uma meia maratona que contou com a participação de 12 mil corredores, entre eles 20 robôs humanoides. Apenas seis robôs conseguiram completar a prova, sendo o mais rápido quase três vezes mais lento que os humanos, mas o evento ressaltou os avanços na tecnologia.

Em março, o premiê Li Qiang anunciou um esforço para “desenvolver vigorosamente” robôs inteligentes. A principal agência econômica do país lançou um fundo de US$ 137 bilhões voltado para robótica, IA e tecnologias avançadas. Além disso, bancos estatais chineses aumentaram os empréstimos para empresas industriais, atingindo US$ 1,9 trilhão nos últimos quatro anos, para financiar a modernização de fábricas.

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Um robô em treinamento na fábrica de montagem de carros elétricos Zeekr em Ningbo, China, em 31 de março de 2025. (Qilai Shen/The New York Times)

As universidades chinesas formam cerca de 350 mil engenheiros mecânicos anualmente, além de eletricistas e técnicos, número que supera os cerca de 45 mil formados nos EUA. Jonathan Hurst, diretor de robótica da Agility Robotics, aponta que a escassez de profissionais qualificados é um desafio crescente, citando dificuldades enfrentadas durante sua formação.

Preocupações dos Trabalhadores

O avanço da automação tem gerado preocupações entre os trabalhadores chineses. Geng Yuanjie, de 27 anos, opera empilhadeiras na fábrica da Zeekr e observa uma grande diferença em relação ao ambiente de trabalho que experimentou na Volkswagen. Ele expressa apreensão sobre a possibilidade de perder seu emprego, afirmando: “Sinto que a automação está avançando. Minha educação pode não ser suficiente para aprender a programar robôs.”

Esse sentimento de insegurança é compartilhado entre seus colegas. A automação já resultou na eliminação de empregos globalmente, embora na China o cenário seja diferente, uma vez que a ausência de sindicatos independentes e o controle do governo limitam as vozes de dissidência.

A crise demográfica também impulsiona essa mudança. O número de nascimentos caiu drasticamente e muitos jovens, ao completarem 18 anos, tendem a se direcionar para universidades, afastando-se de funções nas fábricas. “O dividendo demográfico da China acabou”, afirma Stephen Dyer, da consultoria AlixPartners. “Agora o país enfrenta um déficit demográfico, e a única saída é aumentar a produtividade.”

c.2025 The New York Times Company

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