Mulheres ainda enfrentam desafios para avançar no setor financeiro brasileiro

Apesar de avanços em diversidade, desigualdade salarial, estereótipos e baixa representatividade em cargos de liderança persistem no mercado financeiro

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Foto: Reprodução/ Divulgação

Tradicionalmente dominado por homens, o setor financeiro no Brasil continua a apresentar barreiras estruturais para mulheres, mesmo com os avanços recentes em diversidade e inclusão.

Dados mostram que apenas 23% dos cargos de CEO em empresas de médio porte no país são ocupados por mulheres, e apenas 38,5% dessas líderes estão envolvidas com ações de diversidade — índice abaixo da média global de 46,8%.

Pressão por resultados e pouca representatividade

Juliana Tescaro, diretora do Grupo Studio e com 15 anos de experiência em instituições como Itaú e Citibank, relata que a cobrança sobre mulheres no setor é desproporcional.

“Era preciso provar competência o tempo todo, enquanto para os homens, algumas oportunidades pareciam mais naturais”, afirma.

Com base em sua trajetória, Tescaro identifica os principais entraves enfrentados por mulheres que atuam no mercado financeiro, e destaca as estratégias adotadas para superá-los.

1. Conciliar carreira e vida pessoal

A alta exigência profissional no setor impacta diretamente decisões de vida, como casamento e maternidade. Muitas mulheres adiam ou abrem mão desses planos para priorizar a carreira. “Essa pressão existe para todos, mas para as mulheres há uma cobrança adicional sobre equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, avalia Juliana.

2. Desigualdade salarial

Mesmo em posições equivalentes e com desempenho semelhante, a diferença salarial entre homens e mulheres ainda é comum. “É frustrante ver colegas homens ganhando mais pelo mesmo trabalho. Infelizmente, essa é uma realidade estrutural do setor”, diz Tescaro.

3. Falta de voz ativa em cargos de liderança

A presença feminina em cargos de gestão vem crescendo, mas o reconhecimento e a influência das mulheres nessas funções ainda são limitados.

“A palavra final muitas vezes vem de um homem, mesmo quando a mulher tem maior experiência”, aponta. Para ela, é essencial adotar um posicionamento firme e cultivar uma cultura organizacional que valorize a diversidade de lideranças.

4. Estereótipos e viés de gênero

Juliana ressalta que, para serem levadas a sério, mulheres muitas vezes sentem-se pressionadas a adotar comportamentos mais rígidos, o que pode resultar em julgamentos equivocados. “Enquanto um homem assertivo é visto como forte, uma mulher com a mesma postura pode ser rotulada como difícil”, observa.

5. Pressão por capacitação contínua

Embora a atualização técnica seja uma exigência do setor, mulheres relatam sentir uma necessidade maior de comprovar formalmente seu conhecimento. “Os homens muitas vezes avançam com base em networking. As mulheres, por outro lado, precisam estar sempre tecnicamente preparadas para validar sua competência”, explica.

Avanços e perspectivas

Apesar das dificuldades, Juliana acredita que a presença feminina no setor tende a crescer.

“Cada mulher que avança abre caminho para outras. O mercado financeiro precisa dessa diversidade, e estamos mostrando, dia após dia, que temos competência e visão para transformar esse setor”, conclui.

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