O setor de crédito para o Agronegócio brasileiro passa por um momento de reestruturação, impulsionado por um cenário macroeconômico desafiador, aumento da inadimplência, alongamento dos prazos de financiamento e consolidação da Cédula de Produto Rural (CPR) como principal instrumento de crédito privado no campo.
Segundo análise da Vertrau, empresa especializada em tecnologia para o mercado financeiro, três fatores definem essa nova fase: maior risco de crédito, prazos mais longos nos financiamentos e o crescimento expressivo das CPRs.
Inadimplência e juros elevados influenciam cenário
Dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontam que a inadimplência entre empresas subiu de 0,60% para 0,76% em março deste ano — um aumento de 26,7% em relação ao mesmo período de 2023.
A alta é atribuída a fatores como juros elevados, queda na renda agrícola e necessidade de recomposição das margens após ciclos de forte investimento.
Prazos mais longos para concessão de crédito
Relatório do Banco Central mostra que o prazo médio das concessões de crédito rural para pessoas jurídicas aumentou significativamente. O prazo total passou de 19,41 meses, em abril de 2023, para 31,92 meses no mesmo mês de 2024 — um crescimento de 64%.
Em financiamentos com taxas reguladas, o prazo saltou de 25,13 para 48,15 meses, uma alta de 92%.
A ampliação dos prazos reflete a complexidade dos investimentos produtivos, como aquisição de maquinário e recuperação de áreas, exigindo financiamentos mais dilatados.
CPRs ganham protagonismo no crédito rural
A Cédula de Produto Rural (CPR) tem se consolidado como infraestrutura essencial no financiamento do agronegócio. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), o estoque de CPRs registradas saltou de R$ 34 bilhões em 2021 para R$ 484 bilhões em março de 2024 — um crescimento de 1.323%.
O estoque total movimentado em março chegou a R$ 325 bilhões, 43% a mais em comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Esse crescimento tem sido impulsionado, em parte, por soluções tecnológicas que garantem segurança, rastreabilidade e governança às operações, fatores considerados essenciais diante de um ambiente de risco elevado e prazos mais longos.
Avanço do crédito privado no campo
O fortalecimento do crédito privado é outro aspecto relevante. Segundo dados do MAPA, o estoque total de instrumentos privados de crédito rural — incluindo CPR, LCA, CRA, CDCA e Fiagro — ultrapassou R$ 1,2 trilhão em novembro de 2023, representando um crescimento de 31,5% em relação ao ano anterior.
Especialistas apontam que essa tendência reflete não apenas as limitações orçamentárias do Plano Safra, mas também a busca por soluções mais flexíveis e eficientes, com a CPR se destacando como um título amplamente aceito por instituições financeiras, fundos e reguladores.