Invista como uma mulher

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Gabriela Schor e Camila Magalhães _ Pi e Sonata

Por Camila Magalhães Sandoval e Gabriela Schor*

Em tempos de fortalecimento do feminismo, está cada vez mais fora de contexto dizer que investimento (ou qualquer outro tema) não é coisa de mulher. Muito pelo contrário: as finanças comportamentais nos mostram que características tidas como tipicamente femininas aproximam-se mais do perfil dos investidores bem-sucedidos.

Cautela, visão de longo prazo e comprometimento são características fundamentais nos investimentos de sucesso e as mulheres costumam trazer essas características de fábrica.

O desprendimento feminino faz com que as mulheres perguntem aquilo que não sabem. Vamos dar um exemplo: se um homem e uma mulher estiverem em um carro, perdidos. Quem normalmente sugere, primeiro, parar e perguntar o caminho correto para alguém na rua? Essa mesma lógica é aplicada nos investimentos. Quando uma mulher sente que está bem informada, não vê problema em tomar riscos. Tende a pedir conselhos a especialistas e a se apropriar desses conteúdos, primeiro, para só então tomar decisões com total propósito e comprometimento de longo prazo.

As mulheres também tendem a pesquisar bastante antes de comprar qualquer coisa. É só lembrar uma cena típica: quando as mulheres decidem comprar um determinado item, normalmente elas andam e pesquisam o melhor preço e qualidade. Os homens, por outro lado, costumam entrar em uma loja e comprar a primeira opção que lhes é apresentada.

Outro aspecto que chama a atenção são os vieses humanos que nos mostram a grande diferença entre homens e mulheres na hora de lidar com a perda. Nessas situações, os homens, predominantemente, sentem raiva, enquanto as mulheres sentem medo. Essas duas reações desencadeiam comportamentos bem distintos. A raiva masculina ativa o viés do excesso de confiança. Eles buscam culpados externos e esse comportamento gera maiores custos (excesso de transações) e menor tolerância. Por outro lado, o medo feminino ativa o modo cautela. Assim, elas procuram especialistas e ficam mais analíticas, reavaliando constantemente todo o processo decisório até ali.

Vale destacar também que as mulheres valorizam mais o contato direto na hora de tomar decisões. Além disso, gostam de compartilhar ideias e tendem a ter maior fidelidade nos investimentos escolhidos. Estudos mostram que, durante a crise de 2008, nos EUA, as mulheres foram mais fiéis e comprometidas a seus investimentos e acabaram com melhores resultados no final das contas.

Com todo esse potencial natural guardado é uma pena que ainda poucas mulheres invistam e que, dentro desse grupo restrito, elas ainda prefiram a renda fixa às ações. Entretanto, não podemos negar que o cenário, aos poucos, está mudando. Entre 2018 e 2019, o número de mulheres que investiram na bolsa mais do que dobrou, chegando a 388 mil, de acordo com dados divulgados recentemente pela B3, a bolsa de valores brasileira. Em 2018, o número de investidoras era de 179 mil. Há 18 anos, apenas 15 mil mulheres investiam.

A caminhada até aqui foi longa e não dá pra negar que ainda há muito por vir. Nós ainda somos minoria nesse mercado, representando apenas 23% do total de pessoas que investem na bolsa.

Mas, em vez de nos desanimar, esse cenário nos motiva. Vemos um potencial enorme de crescimento no mercado financeiro e a fonte desse otimismo somos nós mesmas, as mulheres brasileiras. Apostamos na evolução da sociedade, aliada ao potencial natural de investidora que existe dentro de cada mulher.

Somos a maioria da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostram que 51,5% da população brasileira é feminina. Temos forte representatividade também na chefia dos lares num cenário em que 40% das famílias brasileiras são lideradas financeiramente por mulheres, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Por muitos anos, falou-se sobre o sexto sentido como uma marca forte das mulheres. Pode até ser, mas as finanças comportamentais mostram que nós vamos muito além disso. Você, mulher que está nos lendo, se identifica com essas características? Nós apostamos que sim!

* Camila Magalhães Sandoval é sócia fundadora da Sonata Gestora de Patrimônio e Gabriela Schor, especialista de Produtos da corretora digital Pi Investimentos.

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