iFood e Mottu anunciam descontos para entregadores, mas sindicato alerta para risco de estímulo à velocidade

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Entregadores de aplicativo trabalham na região do Centro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A plataforma iFood e a startup Mottu, especializada no aluguel de motos, anunciaram uma parceria que oferecerá descontos e incentivos a entregadores que utilizam veículos alugados. O programa começa a valer em 1º de setembro e é exclusivo para profissionais cadastrados em ambas as empresas.

Segundo o iFood, a plataforma reúne cerca de 450 mil entregadores ativos em mais de 1,5 mil cidades brasileiras. Já a Mottu afirma ter uma frota de 130 mil motos disponíveis em mais de 120 municípios.

“A colaboração reúne vantagens exclusivas para quem entrega pelo iFood e já aluga seu veículo com a Mottu ou deseja iniciar uma locação”, afirmaram as empresas em nota conjunta.

Descontos e benefícios

O programa prevê:

As empresas defendem que a iniciativa reduz barreiras de entrada no setor e amplia as oportunidades de ganhos para quem não possui veículo próprio.

Debate trabalhista

O anúncio acontece em meio à discussão sobre o vínculo trabalhista entre plataformas e entregadores.

Na última terça-feira (19), a Câmara dos Deputados instalou a Comissão Especial sobre Transporte e Entrega por Plataforma Digital, que analisará o PLP 152/25, voltado à regulamentação das relações de trabalho nesse setor.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse à Agência Brasil que o modelo reforça a necessidade de regulamentação:

“Estou alugando um bem para você trabalhar [para mim], mas você não é meu trabalhador. Isso mostra que há, sim, vínculo trabalhista.”

Reação sindical

Para o presidente do SindimotoSP, Gilberto Almeida dos Santos, o Gil, a proposta pode trazer alívio imediato, mas reforça a precarização.

“Quem não quer 20% de desconto? Mas a verdade é que o trabalhador continua arcando com custos que, na CLT, seriam do empregador. Ainda assim, em meio ao sufoco, muitos serão beneficiados.”

Ele lembrou que, pela convenção coletiva da categoria, um motociclista celetista recebe R$ 750 mensais como compensação pelo desgaste da moto, enquanto ciclistas registrados têm direito a R$ 350.

Preocupação com segurança

O sindicalista alertou ainda para o risco dos prêmios por metas:

“Isso pode estimular os entregadores a correr mais, em meio ao trânsito caótico, aumentando mortes e mutilações. A lei 12.436/2011 já proíbe esse tipo de bonificação, que incentiva a velocidade.”

Segundo Gil, a proposta pode agravar os riscos à saúde dos trabalhadores e também gerar custos extras à Previdência Social.

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