Alasca assume protagonismo em cúpula de alto risco entre Trump e Putin

Alasca assume protagonismo em cúpula de alto risco entre Trump e Putin Trump Putin

Foto por Casa Branca | e Premier.gov.ru

O Alasca sediará nesta sexta-feira (15) uma cúpula de alto nível entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O encontro histórico — realizado em uma antiga colônia russa — representa um passo decisivo na tentativa do governo Trump de abrir caminho para o fim da guerra na Ucrânia.

O 49º estado americano, geralmente à margem da política nacional dos EUA, agora ganha os holofotes como cenário de uma reunião com profundas implicações geopolíticas. Para muitos moradores do Alasca, é simbólico que as conversas entre as duas potências aconteçam em seu território.

“É possível ver até hoje os impactos do colonialismo russo no Alasca”, afirmou Brandan Boylan, professor de ciência política da Universidade do Alasca em Fairbanks ao portal Internacional The Hill. “Se o presidente Trump fosse receber o presidente Putin em solo americano fora da Casa Branca, não me surpreende que tenha escolhido o Alasca, dada a forte ligação histórica entre os dois países.”

Apesar de sua localização remota, o Alasca já foi palco de encontros diplomáticos importantes. Em 2021, Anchorage recebeu conversas tensas entre o governo Biden e autoridades chinesas. Antes disso, em 1984, o presidente Ronald Reagan se encontrou com o Papa João Paulo II em Fairbanks, e em 1971, o então presidente Richard Nixon recebeu o imperador Hirohito do Japão em Anchorage.

Mas a próxima reunião com Putin pode se tornar a mais relevante de todas, reforçando os laços históricos entre o Alasca e a Rússia. Os primeiros colonos russos chegaram ao Alasca no século XVIII, e o Império Russo reivindicou a região a partir de 1732. O território passou a fazer parte da chamada América Russa em 1799, até ser vendido aos EUA em 1867 pelo czar Alexandre II por US$ 7,2 milhões — um acordo amplamente criticado por décadas na Rússia, principalmente após a descoberta dos vastos recursos naturais do estado.

A proximidade geográfica do Alasca — a apenas 80 quilômetros da Rússia —, aliada ao seu papel estratégico na energia, defesa nacional e liderança no Ártico, o torna um local ideal para a cúpula.

“Não há outro lugar que desempenhe um papel mais vital na nossa defesa nacional, segurança energética e diplomacia no Ártico”, escreveu o governador do Alasca, Mike Dunleavy (R), na rede X. “É apropriado que discussões de importância global aconteçam aqui. Por séculos, o Alasca tem sido uma ponte entre nações e hoje continua sendo uma porta de entrada para a diplomacia, o comércio e a segurança em uma das regiões mais críticas do mundo.”

Além do simbolismo, o local escolhido também oferece vantagens logísticas e legais. O Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra Putin por crimes de guerra na Ucrânia, mas os Estados Unidos não reconhecem a jurisdição da corte. E, do ponto de vista da segurança, o trajeto até o Alasca permite a Putin evitar o sobrevoo de zonas aéreas europeias potencialmente hostis.

“O Alasca é um estado belíssimo e geograficamente conveniente para ambas as partes”, afirmou um funcionário da Casa Branca ao jornal The Hill. “Foi uma escolha apropriada para que o presidente Trump aceitasse o pedido de encontro feito por Putin.”

Embora a visibilidade pública do evento deva ser limitada — as conversas devem ocorrer na Base Conjunta Elmendorf-Richardson —, os moradores do estado podem sentir os efeitos indiretos do encontro. As sanções impostas à Rússia afetaram o Alasca de forma desproporcional, principalmente nas áreas de pesca e mobilidade internacional.

“As sanções em si não prejudicaram diretamente o Alasca, mas a ausência de comunicação e cooperação, sim”, afirmou o ex-vice-governador Mead Treadwell (R). Ele citou mudanças nas práticas russas de pesca no Mar de Bering, que resultaram na diminuição da migração de salmões no rio Yukon, além da dificuldade crescente para que moradores do Alasca visitem familiares na Rússia.

Segundo Treadwell, essas questões não serão resolvidas até que as relações sejam normalizadas — algo improvável sem o fim da guerra.

A visita de Putin a Anchorage marcará a primeira vez que um líder russo pisa em solo do Alasca — fato recebido com entusiasmo por autoridades de Moscou e amplamente repercutido pela mídia estatal russa.

Trump, por sua vez, tem moderado as expectativas nos últimos dias, afirmando que irá “ver o que [Putin] tem em mente” e que “provavelmente nos primeiros dois minutos” saberá se será possível ou não fechar um acordo.

Ainda assim, muitos no Alasca já refletem sobre o possível peso histórico desse encontro.

“Brinquei no início da semana que, se a paz realmente sair dessa reunião, ela deveria ser lembrada como os Acordos do Alasca — algo como os Acordos de Camp David”, disse Treadwell.

Ele reconheceu os riscos do encontro, especialmente considerando a polêmica cúpula de 2018 entre Trump e Putin em Helsinque, quando o então presidente americano se alinhou ao líder russo em detrimento das agências de inteligência dos EUA sobre a interferência nas eleições de 2016.

“Acho que é um risco que todos estamos dispostos a correr”, afirmou Treadwell, citando como precedente o Protocolo de Kyoto, de 1997. “Há quem ache que Kyoto foi a melhor coisa que aconteceu para o combate às mudanças climáticas, e há quem cuspa no chão ao ouvir essa palavra. Mas, de qualquer forma, Kyoto continua sendo uma cidade linda em um lugar maravilhoso de se visitar.”

Fonte: The Hill

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